O próximo semestre – 2007/2

Sabem como são os professores: eles só pensam por semestre. Pois bem, nos próximos seis meses, as coisas estarão um pouco mais calmas. Já não tenho o peso de uma tese e um seminário internacional a relizar, uma pós-graduação para lançar e vários editais de pesquisa para participar.

O que planejo é: trabalhar na pós-graduação, tocar pra frente minhas três pesquisas aprovadas pela Ufes, coordenar a realização do Foco, implantar o Primeira Mão Online, me dedicar bastante às minhas disciplinas (o semestre passado foi difícil!) e trabalhar no projeto de extensão sobre inclusão digital e inclusão social.

E, acima de tudo, manter este blogue atualizado.

Sobre a Pós-modernização e a economia do imaterial

Segue um apresentação de aula que ministrararei no curso de especialização Lato Sensu Comunicação Estratégica e Gestão de Imagem, da Ufes, nos próximos dias.

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A lâmina onde se encontra os dados da queda de leitores da Folha de São Paulo foi retirada do ppt de Oona Castro, apresentado no seminário A Constituição do Comum, em Vitória-ES.

Cultura digital: para além da fragmentação

Bom vai rolar o Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural, promovido pelo Ministério da Cultural. Daí que a rapaziada da Cásper, liderada pelo Sérgio Amadeu, me convidou para participar da Desconferência Online sobre Diversidade e Cutura Digital. Todos os artigos de pesquisadores de cibercultura estão no blog da desconferência e vão fazer parte de uma coletânea a ser entregue neste seminário. Há um texto aberto feito em wiki, que se tornou quase que a base comum desses textos todos.

Segue a minha humilde contribuição, que tb foi publicado na página do MinC:

Cultura Digital: para além da fragmentação

A profusão da riqueza da diversidade da cultura digital faz minar, a cada dia, o quase finado conceito de homogeneização, proveniente da sociedade de massa. Na verdade, se há um traço peculiar no interior da cultura digital é o fato dela nascer e se desenvolver para arrebentar, de uma vez por todas, qualquer resquício da cultura de massa. Em especial, fazer com que toda e qualquer tentativa de docilização dos corpos e mentes seja espinafrada através de mobilizações nas redes virtuais.

A internet é uma política contra o padrão e a favor das singularidade de expressões e de produções criativas, mesmo que essas expressões sejam para lá de questionáveis. Quem habita em algumas comunidades virtuais do Orkut, como a Eu detesto o gosto da Novalgina ou Comunidade MSN Brasil, sabe que os sentidos produzidos nos fóruns de discussão geralmente ficam numa espécie de joguinho em que o usuário responde a indagações toscas, como “beija ou passa”. Bom… aquele sujeito mais moralista tende a condenar esse jogo semiótico como uma forma de comunicação vazia. Mas, para além de qualquer julgamento moralista, a diferença desses jogos toscos com os programas do broadcasting é que pelo menos o niilismo é produzido pelo próprio usuário em vez de atirado sobre eles.
Como ultrapassar o dilema da fragmentação

Bom, mas essa não é, para mim, a questão principal. O problema é que a diversidade digital é fragmentada. Muita gente falando, pouca, escutando. Então temos, pelo menos na aparência, uma contradição. Por um lado, a internet produz a fissura na lógica do sentido único do broadcasting. Acaba com aquele mundo em que “líderes de opinião” falam por nós. Mas, por um outro lado, se há todos falando, só há monólogo, e se há só monólogo, não há comunicação. É um big brother às avessas que vivemos. Uma forma de não haver entendimento e visibilidade é justamente fazer com que todos falem, mas sem canal de retorno. Assim a profusão de blogues, podcasts, mídias sociais da Web 2.0 ou ainda sites independentes, aumentam a difusão pública de enunciados, mas não os torna comuns. Geralmente aqueles colegas jornalistas mais cínicos aproveitam essa deixa e sempre me colocam o dilema: “tudo bem há 70 milhões de blogues no mundo, mas são quase sempre pautados pelo o que dizemos, ninguém ganha prestígio social se é citado por um blogueiro ou por uma publicação independente, e vamos e convenhamos uma comunidade no Orkut com 50 mil usuários não faz cosquinha na televisão, com seus milhões de espectadores”. A tese desses amigos cínicos é que a cultura digital é nicho. É cultura fechada no pior sentido do termo comunidade. São mobs. Tratam de grupelhos com uma nanoaudiência. E só.

Essa crítica que cimenta a diversidade da cultura digital à cultura da fragmentação é repetida até pelos setores mais à esquerda da sociedade, que sonham com o eldorado das lutas de massa. Mas a diversidade é algo denso porque se trata de um conjunto de singularidades que não se resume ao Uno (o partido, o estado, o broadcasting etc). O diverso é muitos. É multidão. Daí que nosso caminho político seja agora criar a Televisão dos Muitos, a Internet dos Muitos, a Rádios dos Muitos, a Imprensa dos Muitos. Ultrapassar a fragmentação é criar plataformas onde os Muitos possam se auto-organizar, auto-reputar, auto-coordenar e realizar uma livre troca de saber. A questão mais difícil é que, para fazer isso, não há modelos a seguir. É preciso construí-los. Além disso, estamos no interior de um desafio de como tornar a diversidade das culturas da rede massificada sem os dispositivos da cultura de massa. Experiências como o Overmundo, Digg ou ainda Slashdot, são boas soluções já testadas que mostram como é possível agregar aquilo que está fragmentado e expor, numa plataforma comum, a diversidade a um número maior de pessoas. Mas a característica dessas soluções é que não há a mediação da autoridade. É um auto-governo. Pensar a ampliação da diversidade é investir no auto-governo.

A cultura digital ultrapassa o Estado e o Mercado

A diversidade é produto desses Muitos. Mas tem razão os cínicos sobre a questão da fragmentação. Uma das formas de controle da diversidade é fazer com que ela própria não crie espaços públicos de convergência de suas expressões. Sabemos que numa sociedade do controle o direito da invisibilidade é até um ato de resistência. Mas o que acontece dentro das redes virtuais faz parte do tecido social. Não há fora. A cultura digital é produto dos múltiplos movimentos da sociedade. Mas, não vamos supervalorizar o fato de que a rede se transformou no espaço mais importante de distribuição da diversidade cultura. Isso porque o Estado e o Mercado ainda trabalham com a lógica da escassez cultural (é a velha forma da cultura de massa criar o valor de um bem), impedindo que a cultura floresça.

A cultura digital ultrapassa essas duas formas (o Estado e o Mercado) porque é construída para ser comum, porque quer manter a ampliação da socialização dos conhecimento e da cultura, a partir da abundância das trocas. Mas ela se trata de um devir minoritário. Ela é a tendência, mas não a hegemonia. Para isso precisamos propor uma agenda para que a diversidade não caía na cultura da fragmentação. Não há como avançar na preservação e multiplicação dessa diversidade sem que haja:

  • o estímulo à produção de ambientes agregadores da diversidade da cultura digital, mas que sejam criados e administrados pelos próprios usuários.
  • o estímulo à produção de mídias colaborativas em instituições de educação e cultura no sentido de ampliar a prática de expressão escrita, audiovisual e multimídia da cultura, como ainda produzir relacionamentos e redes sociais.
  • acesso à infra-estrutura de acesso universal e gratuito à internet via banda larga como política de comunicação das cidades. Isso para ampliar que novos produtores de cultura possam disponibilizar suas criações no universo das redes digitais.
  • o estabelecimentos de encontros (na forma de seminário, barcamp, wordshop etc) para ocupar a cidade com conteúdos e linguagens provenientes da cultura digital, ao mesmo tempo, para reforçar a participação social nos espaços públicos da cidade.

Queria terminar essa curta reflexão com uma frase do Negri que gosto muito:

A máquina é integrada ao sujeito, não como um apêndice ou uma espécie de prótese – como uma das suas outras qualidades – mas é profundamente incutida no sujeito a idéia de ser, ao mesmo tempo, homem e máquina. […] O crescente caráter imaterial do trabalho social em geral indicam a nova natureza humana que reveste os nossos corpos. O ciborgue é agora o único modelo disponível para teorizar a subjetividade.

Corpos sem órgãos, homens sem qualidades, ciborgues: essas são as novas figuras subjetivas; as únicas figuras subjetivas capazes hoje de comunismo
É isso aí, tal como o Sérgio Amadeu gosta de terminar seus discursos, o futuro é livre!

Seminário Internacional A Constituição do Comum

Na próxima semana, dia 21 a 25 de maio, ocorre o seminário internacional A Constituição do Comum: comunicação e cultura na cidade, em Vitória. Segue a programação do evento. É uma realização do Departamento de Comunicação da Ufes e da prefeitura de Vitória, com apoio do Ministério da Cultura (a seguir tem o cartaz do evento, ao clicar ele fica grandão). As inscrições devem ser feitas no site do evento: O Comum

outdoor


DIA 21 DE MAIO – ESTAÇÃO PORTO / ARMAZÉM 5

9h – ABERTURA

9h30 – O PAPEL DA CULTURA E DA COMUNICAÇÃO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
João Coser – Prefeito de Vitória
Representante do Ministério da Cultura
Giuseppe Cocco – UFRJ
Maurizzio Lazzaratto – Universidade de Paris 1 (França)

14h – ESTÉTICA DA MULTIDÃO E REDES DE PRODUÇÃO CULTURAL
Bárbara Szaniecki – Universidade Nômade e PUC-RJ
Ivana Bentes – ECO-UFRJ / Universidade Nômade
Luiz Paulo Correa e Castro – Nós do Morro (RJ)
Moderação: Maria Helena Signorelli – Secretária Municipal de Cultura de Vitória

19h – SHOW DE JAZZ NA CURVA DA JUREMA

DIA 22 DE MAIO – ESTAÇO PORTO / ARMAZÉM 5

9h – DEMOCRACIA, LIBERDADE E RENDA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
Andréa Fumagalli – Universidade de Pavia / Itália
Artur Henrique dos Santos – Presidente Nacional da CUT
Giuseppe Cocco – ESS/UFRJ
Moderação: Eliezer Tavares – Secretário Municipal de Geração e Trabalho e Renda de Vitória

14h – SUSTENTABILIDADE E GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS E DE COMUNICAÇÃO
Oona Castro – FGV
Paulo Lima – RITS
Júlia Zardo – Incubadora Cultural PUC/RJ
Dago Donato – Trama Virtual
Moderador: Tauro Lucilo Tessarolo (Companhia de Desenvolvimento de Vitória)

19h – COQUETEL DE LANÇAMENTO DA REVISTA GLOBAL N.9 E DOS LIVROS:
Estética da Multidão (Barbara Szanieck)
Glob(AL) (Giuseppe Cocco)
Revoluções do Capitalismo (Maurizio Lazzarato)

20h – Apresentação do Grupo Manguerê – Ponto de Cultura do Brasil/CECAES

DIA 23 DE MAIO – ESTAÇO PORTO / ARMAZÉM 5

9h – DESAFIOS PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA
Paulo Henrique Amorim – Conversa Fiada/IG e TV Record
Antonio Martins – Editor de Le Monde Diplomatique Brasil
Raul Sanchez – Universidad Nomada (Espanha)
Ruth Reis – Secretária Municipal de Comunicação de Vitória
Moderação: Alexandre Passos – Presidente da Câmara de Vereadores de Vitória

14h – INTERNET: NOVAS FORMAS DE OPINIÃO PÚBLICA E DE CONSUMO
Edney Souza – Blog Interney
Gustavo Fortes – Agência Espalhe
Henrique Antoun – ECO/UFRJ
Moderação: Fábio Malini – Departamento de Comunicação / UFES

20h – PROGRAMAÇÃO CULTURAL NA ESTAÇÃO PORTO – MOSTRA CURTA GRAV CINEMA/VÍDEO

DIA 24 DE MAIO – ESTAÇO PORTO / ARMAZÉM 5

9h – CRIAÇÃO DE ATIVOS IMATERIAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES
Yann Moulier Boutang – Universidade de Compiègne (França)
Paulo Henrique de Almeida – UFBA / Governo do Estado da Bahia
Antoine Rebiscoul – Publicis (França)
Moderação: Alexandre Curtiss – Departamento de Comunicação/UFES

14h – DINÂMICAS METROPOLITANAS E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO
Celio Turino – Secretário Nacional de Projetos Culturais/ MinC
Michelle Collin – CNRS e Institut Français D´Urbanisme (França)
Clara Miranda – Departamento de Arquitetura / UFES
Thierry Baudouin – CNRS e Institut Français D´Urbanisme (França)
Moderação: Kleber Frizzera – Secretário Municipal de Desenvolvimento da Cidade de Vitória

19H – Lançamento do Documentário Anjo Preto, de Gui Castor, sobre o sambista Edson Papo Furado.

20H – Show em comemoração ao Samba Capixaba, com a participação do cantor Monarco da Velha Guarda da Portela e da banda Sandália de Pescador (com diversos sambistas capixaba).

DIA 25 DE MAIO – ESTAÇO PORTO / ARMAZÉM 5

9h – PROGRAMAS DE ACESSO A INTERNET PÚBLICA: ESTRATÉGIAS E PARCERIAS
Marcos Dantas – PUC-RJ
Sérgio Amadeu – Faculdade Casper Libero
Luiz Fernando Barbosa – SEDEC/Prefeitura de Vitória
Rodrigo Mesquita – Radium System
Moderação: José Antonio Martinuzzo (UFES)

14h – NÓS, A MÍDIA: JORNALISMO CIDADÃO E O FUTURO DO JORNALISMO PROFISSIONAL
Roberto Romano – Zero Blog NetworkJornalismo
Ana Maria Brambilla – Editora Abril
Orlando Lopes – Ponto de Cultura/Guarapari
Moderação: Cleber Carminatti – Departamento de Comunicação/UFES

19H – FESTA DE ENCERRAMENTO NA ESTAÇÃO PORTO ARMAZÉM 5:
TRIBUTO A CLARA NUNES. SHOW COM DENISE PONTES CANTANDO CLARA NUNES E SHOW COM GRUPO DE MINAS GERAIS “CONTOS DE AREIA – UM CANTO A CLARA NUNES”.

Pesquisa PIBIC e Facitec

Queridos alunos,

Este ano seleciono como integrantes do meu projetos de pesquisa, que estou a concorrer junto a Ufes e ao Facitec, os seguintes alunos:

Projeto PIBIC/UFES
Título: NÓS, A MÍDIA – conflitos e clivagens entre o universo dos blogs e o jornalismo profissional

Sub-projeto de Pesquisa I:
O blogue como um novo veículo de Produção de Agenda de Opinião:
A disputa de sentidos na construção da opinião entre blogues e imprensa durante as eleições brasileiras de 2006 e francesas de 2007
Bolsista PIBIC: Gabriel Herkenhoff Moura
Bolsista PIVIC: Juliana Tinoco

Sub-projeto de Pesquisa II:

O Jornalismo Cidadão dos Grandes Jornais:
um estudo comparativo entre os jornais online El país, News York Times e o Globo
Bolsista PIBIC: Flávia Frossard
Bolsista PIVIC: Thalles Waichert

Projeto FACITEC
Título: NÓS, A MÍDIA: Formação de Opinião na Internet, as linguagens do Jornalismo Cidadão e a emergência da Blogosfera Capixaba
Bolsista de Iniciação Científica: Sérgio Rodrigo
Como sabem, nada disso é sacramentado, pois que concorro com outros professores. E pode ser que tudo dê certo, mas pode ser que nada dê também.

Vitória, uma cidade wireless

Bom, já sabemos que Vitória está quase se tornando uma cidade virtual, que vai combinar fibra ótica com wireless para prover de acesso universal à internet a todos as pessoas físicas e jurídicas da cidade.

Mas ela não é a primeira. Li um post no Alfarrábio muito bom. Trata-se de uma carta de repúdio, escrita por um tal de Charles, a um prefeito de uma cidade no RS que não está nem aí para a nova portaria da Anatel que libera as prefeituras de prover gratuitamente de acesso à rede para todo o povão.

Charles dá o exemplo da pequena cidade paulista Sud Menucci. Lá o prefeito deu internet pro povão e a economia deu um puta salto. O fato deu até pauta no Folha Online.

Vamos lá, prefeito Coser, internet pro povão!

Aliás, poderíamos montar um meme: “Coser, nós queremos Internet de grátis”. É o queremismo digital.

O orkut e as novas gerações

O Antoun publicou a entrevista que concedeu ao JB para fazer parte sobre o uso pelos adolescentes e jovens do site de relacionamento Orkut.

Vale à pena ler a entrevista no blog do cara e a matéria do JB. Um drops para vosotros:

Acho que estas exibições funcionam mais como experiências na esfera da audiência e teste na opinião de um público. Você sempre pode alterar seu perfil, ou criar outro perfil ou eliminar um perfil mal sucedido. Por outro lado, a rede social como o blog funciona como falar dos problemas com o motorista de taxi. A maioria não espera que ninguém além de um pequeno circulo de amigos vai dar atenção ao que esta sendo mostrado. O problema é a mídia focar aquilo e dar uma grande publicidade. Blog e rede social é um tipo diferente de conhecimento e informação. É o que o filósofo Espinosa chamava de conhecimento do terceiro gênero; um conhecimento intuitivo e afetivo onde você fala de seu mundo próprio e de sua afetividade. Esse tipo de conhecimento se transforma completamente quando transferido para a mídia de massa onde ele vai ganhar a face do preconceito e do julgamento moral.

Eu fico me perguntando o quanto essa opinião pode ser levada a sério. Ou melhor, a`mídia de massa espernearia se tentassem lhe imputar essa imagem, embora sua programação seja muito mais promotora de crime, drogas e pornografia; mas como o Orkut esta roubando o público das TVs, esses mesmos canais ficam cinicamente tentando eliminar a concorrência excitando os oficiais de justiça e os formadores de opinião. E porque não bloquear a entrada da imagem nos canais de TV e só permiti-la depois que aquele que esta assistindo preencher um longo formulário em três vias?

Posts relacionados neste blog:

O Orkut e a Noção de Fora

Orkut e a Sociedade do Espetáculo I, II, III e IV

Artigos sobre o Orkut

Jornalismo Cidadão é terceiro conhecimento

Li dois posts sobre a questão do jornalismo-cidadão (a moda de atribuir a qualquer um a função de ser jornalista, haja visto blogs, fotologs, podcast, Ohmynews etcetera).

Os posts I e II, publicado no Intermezzo, relatam o debate sobre o tema, realizado na USP, com Ana Brambilla (vai estar aqui em Vix em maio) e Hamilton dos Santos, ambos da Editora Abril.

Gosto muito da discussão, e concordo com essa rapaziada que o jornalista é agora mais um guia do que um oráculo, já que com a evolução constante de sistemas de publicação amadora da Internet, o público entrou na farra e agora narra as suas histórias e a dos outros também.

O Henrique Antoun, gente boa demais e fodão quando o assunto é internet, diz uma coisa bacana. Para ele, certos produtos do jornalismo-cidadão (como blogs, por exemplo) se remetem aquilo que o filósofo Spinosa chama de terceiro gênero de conhecimento, como algo relacionado a um conhecimento intuitivo e sensitivo.

Num ótimo post, no seu Mediação-Mobilidade, Antoun explica isso tudo tim-tim-por-tim-tim. Para ele, não dá para pôr blogs e jornal no mesmo saco, pois o conhecimento é distinto:

As pessoas lêem e frequentam blogs procurando uma info afetiva e não uma info genérica, pura e simplesmente. Vc lê os afetos e não o conteúdo das idéias ou opiniões em um blog. Pra ler o conteúdo elas tem os jornais. O blog é lido pq eu amo ou odeio o q o blogueiro escreve, o jeitão dele escrever, o mundo próprio dele. No blog o conhecimento de terceiro gênero é + importante.

[…]

Sem querer aborrecer d+ todo mundo com filosofia; o conhecimento de primeiro gênero é o conhecimento “pelo signo”; do tipo ouvi falar, vi na novela, assisti no filme, li no livro…. Conhecimento onde a experiência não conta e o que conta é “o q todo mundo acha”, “diz”, “julga”. O conhecimento pelo signo é a principal fonte do preconceito e da superstição. É tb a principal fonte política da dominação. Hj em dia o conhecimento do primeiro gênero é o conhecimento pela mídia: jornal, tv, etc. Neste tipo de conhecimento o q conta é a autoridade: sacerdotes ou instituições. É o império dos formadores de opinião.

[…]

O conhecimento do terceiro gênero é o conhecimento que faz conceitos claros e distintos das afecções e afetos que provou. O conhecimento pelo entendimento do afeto e da afecção trazido pela idéia ao espírito. É o entendimento da alegria de seu mundo próprio e das paixões alegres; ou seja das paixões ativas e produtivas em vc.

O lance então é que o jornalismo profissional se remete a um conhecimento mais moral. O jornalismo então teria essa teleologia. É curioso que todas as formas de produção jornalística efetuada por cidadãos não-jornalistas sempre têm a mediação do jornalista. Continuam sendo um conhecimento moral.

Por isso que acho que a novidade que traz a Internet não está tanto no jornalismo-cidadão como conhecimento moral, mas no jornalismo-cidadão como conhecimento sensitivo e singular, como pensa o Antoun.

Mas isso é, para mim, ainda uma hipótese muito influenciada pelo pensamento do Antoun. Algo que preciso estudar mais. Segue uma boa discussão ativada por Ana Brambilla, via Intermezzo (que através de Beth Saad publicou a seguinte informação sobre o debate paulistano):

Ana Brambilla chama atenção para uma confusão de papéis que a onda do jornalismo participativo traz, passando por cima de conceitos fundadores. Não existem, porque não cabem, os ditos “cidadãos jornalistas”. Na verdade o que ambientes participativos estimulam é a emergência de “cidadãos-repórteres”, que executam aquela parte do processo jornalístico de reportar, relatar a realidade, trazer diferentes visões de um mesmo fato. Aqui, o cidadão pode contribuir muito, até mais que o próprio jornalista ou uma redação inteira que não tem condições de estar em todos os mundos ou dominar todas as fontes. Ali, no veículo e no blog, o jornalista e o editor, podem exercer seus papéis de forma enriquecida.

O Sistema Midiático P2P

Bom, quem é meu aluno deve estar se perguntando onde estão as minhas anotações relacionadas à última aula sobre sistema midiático p2p.

Então, segue o arquivo para ser baixado: Aula sobre Sistema Midiático P2P, por Fábio Malini

Não esqueçam que a aula foi estruturada a partir das leituras de um artigo de Michel Bauwens, A Economia Política da Produção entre Pares.

Leia também:

O Comunismo das Redes, por Fábio Malini

O Comunismo das Redes

Acabei de publicar um artigo na Global n.8 chamado “O Comunismo das Redes”. Mas, como ainda não posso postar ele aqui, aproveito para deixar o paper escrito para ocasião da defesa da minha tese, com o mesmo título.

Trata-se da síntese, que acho que ficou muito boa, da minha tese.

a economia da informação e o capitalismo são inconciliáveis, pois a principal força produtiva – o saber – não é quantificável, quer dizer, não pode ser medida por horas de trabalho. Além disso, o fato de o saber ser difuso faz com que o capital “saía de uma lógica de valorização baseada em um controle direto do processo de produção”. Por conta disso, provoca uma crise “de fundo no capitalismo e antecipa uma outra economia, de tipo novo e ainda ser fundada”. Essa outra economia a ser fundada estaria já se constituindo no espaço das redes livres (freenets): tanto as empresas já estariam trabalhando nas redes para unir-se nos momentos da tomada de decisão; quanto os usuários, através de mecanismos de auto-organização, auto-coordenação e a livre troca de saber, estariam produzindo um mercado para um emaranhado de produtos e serviços criados a partir da colaboração rizomática sem a necessidade de uma intermediação do mercado.