COM QUE ROUPA EU VOU? O #VEMPRADEMOCRACIA NO TWITTER

18M
 

COM QUE ROUPA EU VOU? O #VEMPRADEMOCRACIA NO TWITTER.

As ruas do dia 18 de março fizeram o governismo mais do que respirar. As esquerdas (de maioria lulista) passaram a disputar as ruas, abrindo leque para uma ocupação ampliada de diferentes grupos que as constituem.

De certo, essas manifestações afirmaram, ao menos, o direito à diferença e ao voto popular. Que todos possam se vestir do jeito que quiserem. E que se respeite o voto de 2014. Se as ruas de domingo expulsaram lideranças tucanas, impondo limites ao binarismo; as ruas de hoje impuseram ao binarismo um pequeno gesto de desconfiança, porque os seus participantes sabem muito bem que estão sendo espoliados por uma crise que lhes foi conduzida por elites jurídica e parlamentar que estão desmoralizadas. “Eu não odeio você”, belo cartaz que trouxe a mensagem mais importante do dia, expressando uma mensagem de comunhão política.

As ruas passaram a ser mais disputadas pelas esquerdas. Hoje vimos um “chega pra lá”, no sentido futebolístico, às estruturas de poder que se assanham em destruir conquistas democráticas. Foi um movimento amplo, em diferentes cidades, com forte destaque para o nordeste brasileiro, além óbvio de SP, RJ e BH. Em comparação com o domingo, a composição das ruas de hoje é, no olho, mais diversificada, em termos de classe, cor, gênero e idade. E a junção dessa diferença e mais a adrenalina que se tem quando se está nas ruas vão fazer com que essa turma volte à ocupação das avenidas (e mantendo esse cenário político – veja aí o Gilmar Mendes – tendem a ser maior). O canto mais forte de hoje, o “não vai ter golpe!!”, nao pode ser simplesmente desprezado. É uma voz que mira nos abusos do poder judiciário e na corruptas relações no Parlamento brasileiro.

É mistificante dizer que os atos de domingo e de sexta não sejam partidários. Eles são. São articulados, apoiados, financiados e convocados pelas instâncias partidárias, utilizando muitos movimentos sociais como correias de transmissão de suas teses (embora essa transmissão ocorra com resistências).

Mas há uma incógnita: tanto no protesto de domingo, quanto no protesto de hoje, houve muita gente não-alinhada às dinâmicas dos partidos (PT e PSDB). Assim, quem é o “manifestante” que engrossa o coro, transforma os atos em massivos, e que possuem  expectativas que estÃoo além das disputas de poder entre o  PSDB e do PT?

Talvez o esforço de compreensão esteja em saber quem é esse sujeito que hesita na roupa que traja e resiste a ser um amarelo ou um vermelho. Há cinismos – que dificultam essa compreesão – em tudo quanto é lado. Na sexta (18), por exemplo, entre os vermelhos, o jogo de cena se traduz em “não apoiar o golpe, mas se ser crítico ao governo conservador de Dilma”. Entre os amarelos, o jogo de cena se traduz em “apoiar o golpe porque é um governo de corruptos comunistas”.  No primeiro caso, o discurso busca bloquear, entre os vermelhos, os “sem roupas”, que exigem uma democracia material, isto é, radicalizar a redução das desigualdades sociais e governar com aqueles que querem “fazer um mundo novo”, algo hoje longe do horizonte petista. No segundo caso, entre os amarelos, o discurso busca bloquear que os seus “sem roupas” não questionem a corrupção endêmica das máquinas partidárias, que estão de joelhos diante da Lava Jato, o que faz o apoio ao impeachment virar uma piada, ao se analisar que a comissão parlamentar que cuida de caso é recheada de investigados e processados por inúmeros casos de “má” administração do dinheiro do povo, cujo pior símbolo é Paulo Maluf.

Mas são os grupos dos “sem roupas” que seguem inflando os compartilhamentos, discussões e posicionamentos críticos nas redes sociais. Mas a incerteza é: com que roupa vão continuar a ir?

Queria apenas, agora, descrever alguns dados coletados na praça pública que é o Twitter. Essa foi a maior manifestação governista que já coletei nessa rede social: são 310 mil mensagens em apenas 24 horas. Recortei esse período curto para que a ambiguidade do tempo não contaminasse a amostra. Os termos que busquei no sistema do Twitter – em vários idiomas – foram os seguintes: vemprademocracia, “vem pra democracia”, naovaitergolpe, “nao vai ter golpe”, golpenuncamais, juntospelademocracia, todospelademocracia, dia18euvou, lulavalealuta, todospelademocracia, ato+defesa+democracia e “lula discursa”. Separei somente as mensagens que possuem relações de comunicação: retweets, comentários (replies) e menções. Isso fez gerar as relações que figuram o grafo. A interpretação é óbvia: a rede das esquerdas se adensou. E, nestes termos, os perfis mais oposicionistas não representam nem 15% das interações. A rede possui 48 mil perfis, que se mencionam 168 mil vezes. Mas é a metade do número de usuários em comparação com a rede de participantes do domingo. Mas, depois da manifestação, conseguiu quintuplicar o volume de menções a suas hashtags, em relação ao que coletei ontem, já publicado aqui no FAce. No auge da manifestação, durante o discurso de Lula, foram 1 mil tweets a cada 90 segundos. As redes das esquerdas (mesmo com maior incidência petista) viveram o seu 15 de março de 2015.

É agora  uma rede de mobilização, com baixo volume de “adversários” binários, e pronta para ganhar mais fôlego. Há bots, mas havia também nas redes dos amarelos. Como nao coletei termos mais ampliados, como ‘manifestação’ ou ‘protesto’ ou ‘lula’, ficaram de fora dois personagens desse 18 de março: artistas e intelectuais, muitos declararam apoio à “tentativa de golpe”, é só passear pelo Twitter para vocês logo encontrarem a Leandra Leal. Outra coisa: tenho uma hipótese que esse movimento passou mais por redes privadas e joviais de comunicação (snap, eventos, zaps, chats, grupos no face). É uma turma mais jovem, mais sagaz. Isso vai contaminar mais gente “sem roupa”, porque, após o ato, vai ser transmidiatizado o ato: Youtube, Blogs, Tumblr, Posts em Twitter, Face, Zaps.

Estamos também experimentando uma disputa entre a força do um para todos radiodifusor (feita pelas emissoras de tevê- especialmente a TV Globo, mais engajada na cobertura política) e do “um para todos” algorítmico, presente na multiplicação de midias livres, lulista ou oposicionista, que ganham espaḉo e efeito de repetição em algoritmos do Facebook (onde a repercussão ocorre), que fazem tudo se repetir nas bolhas nossas de cada dia. Difícil prever quem perde e ganha.

Em mim, tudo isso, contaminou: apoio à soberania do voto popular e o direito à igualdade de tratamento judicial. Votei em Marina. Se eu quiser elegê-la, voto (quem sabe) nela em 2018. E, enquanto o tratamento judicial continuar sendo completamente desigual (e persecutório), não há como apoiar nenhuma medida levada à cabo por Eduardo Cunha.

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