A influência das redes sociais na política

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Já é mais do que sabido que os conteúdos que circulam nas redes sociais influenciam nossas decisões. Na hora do voto não é diferente. A política tem se transformado depois que as pessoas começaram a utilizar seu tempo livre para opinar no espaço público virtual. Assim, a rede não apenas se firma como plataforma de mobilização social, como ainda se torna o lugar da própria produção da política.Os Slides, feitos no Prezi por Natalia Albañil, acabam por tematizar essas transformações.

Mayara Petruso e a liberdade de expressão na internet

Passado uma semana do fim das eleições presidenciais, o caso Mayara Petruso já caiu no esquecimento. Mas relembrar é viver.

Logo após anúncio da vitória de Dilma Roussef, no dia 31 de outubro, enquanto os eleitores petistas comemoravam, uma onda raivosa na internet associava a vitória de Dilma aos votos que recebeu dos nordestinos. 7 em cada 10 votos da região Nordeste foi para a candidata do “cara”, que obteve 56% dos votos válidos. A ciberonda anti-nordestina era o retrato fiel á dupla operação midiática dessas eleições. Por um lado, a imprensa nacional passou quase um ano com o meme “o nordeste vai ser o fiel da balança eleitoral”; por outro, a candidatura de José Serra pautava uma agenda política (o medo, a moral e a família) conjugada a uma virulenta campanha de disseminação de trolagens virtuais e telefônicas das mais baixas contra a candidata do PT, levado a cabo pelo vice, Índio da Costa, e pelo marketing online tucano, com seus bots spammers. Esses dois fatores acabaram servindo como ingredientes para liberar geral os eleitores conservadores mais radicais. Foi aí que Mayara Petruso apareceu e disse (e depois foi amplamente combatida e detonada na própria internet):

Nordestito não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado. Mayara Petruso.

Mayara Petruso externalizava aquilo que “estava no ar” já algum tempo: o ódio contra o voto dos pobres, principalmente o dos nordestinos. E ela acabou por servir de bode expiatório para toda uma cultura ventilada no período, denunciada pelo ótimo artigo de Maria Rita Kehl, no dia das eleições do primeiro turno. A reação rápida contra Petruso na internet (seu nome foi assunto mais twittado no mundo, em determinado momento) deu o tom da polarização Serra x Dilma. Mais discursos odiosos surgiram na rede, agora, contra Petruso, que logo se deletou da web. Sumiu, virou poeirinha de bits. Mas a máquina raivosa ficou presente, polarizada. Naquele instante, o Eu Mayara – aquele cartesiano – foi-se da internet. Mas a máquina odiosa, onde Mayara se instalou para produzir seu discurso, continuou de pé, presente na cabecinhas daqueles que pensavam, sob a égide de um distanciamento e de uma crítica da realidade, que seus enunciados eram construções autênticas de uma consciência plena de si, quando, na prática, ao reproduzir o dito do regime secular de poder da produção de opinião no país, só fazia repetir uma variedade de enunciados que dizia que tudo era culpa do nordeste. Pois que, por um lado, a crônica política conservadora dizia com todo afinco que o Nordeste seria o causador do crescimento eleitoral de Dilma, levando a todo tipo de argumentos mais simplistas, do tipo: quanto mais se é pobre e com pouca escolaridade, mais se vota com o governo de Lula. Logo, o Nordeste é Dilma; como se o Brasil fosse amplamente desnordestizado no Sul e dessudestizado no Norte e Nordeste. Essa era uma crítica fina da crônica política, imagina! E, de outra parte, essa máquina incitava a negativa contra aqueles que decidiam seu voto no interior da “concepção nordestina” do voto, isto é, na libertação daquela posição escravocrata de resignar-se ante aos poderosos, afirmando a sua visão de mundo. 56% dos votos válidos expressaram essa potência nordestina para além da política do medo, do preconceito e da moral difundida pelo outro lado.

Para quem entende um pouquinho de internet sabe que nenhum perfil é isolado. Ninguém está sozinho numa rede social. Ele está conectado a outros, dentro de um mundo específico, numa zona de conforto, onde aquele que escreve comunica-se para “pares”, que recebem, em geral, bem o seu discurso. Quando há dissidência, com frequência, ela é respondida. E se a discordância teima em existir, o usuário no Twitter bloqueia a oposição, quando não “unfollow-na”. Se houve um efeito colateral dos piores nessas eleições foi o usuário-eleitor ter percebido que sua timeline ficou todinha homogênea. Éramos produtor e consumidor de uma rede homogênea de enunciados. Estávamos numa tautologia das mais perigosas, a rede política experimetava aquilo que geralmente os jornalistas vivem diariamente: a agonia em verificar que os jornais vivem em um mundo só; e que a repetição é a forma mais difundida de se criar a verdade dos fatos . Eu me supreendi, por exemplo, no day after, em ver que minha timeline estava um tédio só, com um monte de gente repetindo bordões e palavras de ordens pró-Dilma, candidata em quem eu votei. Comecei, a partir daquele momento, a entrar em, e se filiar a, outros mundos para sentir toda pluralidade que faltava à minha rede. Nesse sentido, todos nós tivemos um pouco de Mayara Petruso nas nossas cabecinhas. Não no sentido de incitar o racismo. Mas de ser impaciente com a dissidência, com o ponto de vista contrário. É claro que nem toda dissidência significa uma abertura à possibilidade de uma dialogia, tampouco nos faz tolerantes a racismos, moralismos e ódios de classe.

Agora o curioso foi um movimento muito estranho: o de imputar a Mayara o status de criminosa, por ter afirmado aquilo que muitos outros afirmavam na internet. Vale à pena ressaltar que o discurso de ódio deve ser separado de um crime de ódio. O discurso de ódio se combate com a produção de discursos de liberdade, de produção e afirmação de direitos. Ao buscar prender e arrebentar, como numa espécie de linchamento público, o que se devolve para sociedade é mais discurso de ódio. Uma coisa é dizer que vai matar; outra é matar. Em países de forte tradição da liberdade de expressão, não há impedimento/censura à circulação dos discursos de ódio, porque eles são concretos e nada velados na sociedade. Ao conhecê-los, a sociedade toma medidas para contrapô-los, na forma de discursos, ou na forma de leis. No caso Mayara, a OAB-PE entrou na justiça acusando-na de incitação pública ao crime. Não só ela, mas “todos” aqueles que twittaram algo semelhante contra os nordestinos (inclusive, tweets feitos por nordestinos). A OAB entrou na justiça para defender a raça pura nordestina contra qualquer tipo de violação racial na internet. Será que se alguém pedir a seu amigos virtuais para fumarem maconha, a OAB-PE vai denunciar o caso como incitação pública a um crime? Há aqueles que dizem que a liberdade tem limite. Sem dúvida, há inúmeras responsabilidades a cumprir quando se diz algo. Mas a afirmação do ódio, infelizmente, é regido pelas mesmas normas da afirmação do amor. E, politicamente, cada vez mais, vamos precisar de atuar publicamente na descontrução do ódio, sobretudo, o ódio de classe, num país que, nunca dantes na história, ver as desigualdades de classes se reduzirem.

10 momentos da campanha eleitoral no ES. Na web.

Antes de qualquer coisa, candidatos, por favor, continuem com as suas redes sociais. Não apaguem nada.T odo esse material na web é história.

Agora vamos a minha avaliação.

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A campanha eleitoral chegou ao fim no Espírito Santo. Muitos candidatos, muitos jingles do Carlos Papel, muitos santinhos jogados no chão, muitos #foras, muitos “estou indo agora para”, muitos sacis, porém, também muitas possibilidades  interessantes de pensar o Estado, que há oito anos se via mergulhado numa realidade que estava mais para as páginas policiais do que políticas da crônica jornalística local.

As eleições na internet não aconteceram como se previa (como nada que vira coisa de futurista). Os candidatos se mantiveram dentro de um patamar seguro do ponto de vista da comunicação política: como emissores, sozinhos, das suas promessas. A rede virou um “grande mural do facebook”. Mas, mesmo assim tivemos avanços, porque o eleitor jogado às traças na rede, foi capaz de então constituir as suas próprias relações políticas, construindo diferentes perspectivas de seus candidatos. A grande ausência das campanhas digitais foi a transmissão em tempo real das atividades públicas das campanhas. O eleitor saiu da campanha não sabendo muito o que se disse e o que os políticos eleitos pretenderão desenvolver. As inserções, em tempo real, aconteceu de forma tímida, no estilo #pergunteaoserra – o que, sabemos, virou piada pronta no Twitter.

Então eu fiz uma seleção bem arbitrária dos melhores momentos das eleições do ES na internet.

1. Pré-candidatos nas redes sociais

“Eu não tenho twitter, mas vou aprender a usar”, dizia a candidata do PSOL, Brice Bragato, às vésperas de a campanha começar de fato. Todos os três futuros candidatos adotaram as redes sociais como mídia para manter conversação com eleitores. Praticamente todos os principais políticos do Estado adotaram as novas mídias e, pela inexperiência no uso das redes, mantiveram-se cautelosos em seu uso. Mas nem por isso escaparam de brigas e rusgas entre si pela internet, o que rendeu ótimas notas e comentários na web.

2. O #diadofico e a hora H

19 de março de 2010 seria o começo das eleições no Espírito Santo. O governador do estado, Paulo Hartung, despediria-se do governo, candidatando-se ao Senado. Com isso, o seu vice, Ricardo Ferraço, assumiria a gestão estadual e candidataria-se à reeleição. O PT apoiava a estratégia de PH, por acordar que, em 2014, seria a sua vez na fila, possivelmente com o prefeito de Vitória, João Coser. Tudo estava muito bem montado, o vice desfilava em todos os eventos públicos, com parte da mídia local o apoiando declaradamente e repercutindo qualquer de suas opiniões. Ferraço era uma espécie de queridinho da mídia local. Mas, naquele final de verão, o governador Hartung disse: “Renuncio a um projeto pessoal de disputar um novo mandato. Faço esse gesto com serenidade e consciência republicana”. Disse isso no salão São tiago, no Palácio Anchieta. O salão estava assim de políticos e assessores conectados à internet, e a notícia vazou pelo Twitter e logo angariou as hashtags #diadofico e #fico. Quem deu um furo em todo mundo foi o prefeito de Cariacia, Helder Salomão, uma unanimidade de simpatia no microblog (se alguém bate no cara na rede vira um Judas na hora). A força da hashtag acabou por ser lindamente copiada pela crônica política local, que já a partir dali não sabia mais o que dizer, acabando por passar a toda campanha amargurada.

Helder Salomão

@heldersalomao Helder Salomão
O governador Paulo Hartung acaba de anunciar que fica no governo até o final do mandato. 19 MAr
@Bof_Buffon José A. Bof Buffon
Twitter mais rápido do ES, na hora H @heldersalomao O governador Paulo Hartung acaba de anunciar que fica no governo até o final do mandato.

3. Renato Casagrande, independência ou morte!

Preterido no acordão, também em março, o senador Renato Casagrande mobilizou o seu partido, o PSB, e o seu mandato para articular uma candidatura independente. Aliado do governo, reclamava na imprensa que o governador desidratava sua campanha, fechando portas de partidos e apoiadores. Casagrande não contou com nada, decidiu ir para a disputa, unindo setores da sociedade que conseguia mobilizar. Sua sina seria muito dura: pouco dinheiro, pouco tempo na tevê (2 minutos). Resolveu arriscar-se, foi para a internet. Site novo, twitter turbinado, redes sociais distintas e até blog. Enquanto não tinha muito espaço midiático, expressa-se em todas as suas redes sociais. Em um de seus discursos, talvez um dos mais belos discursos da história recente do Espírito Santo, o senador afirmava que a história era feita pela sociedade e não em gabinetes fechados por um grupo pequeno de políticos .Quem quer conhecer a história, esse o perfil do Danilo Simões, uma espécie de fã-militante de Casagrande. O cara registrou tudo. Guardem esse nome, o rapaz é muito bom.

4. O dia do mico

Depois de um mês de intensas negociações, a reviravolta na política do estado acontece. O governador Paulo Hartung cede às pressões do governo federal e anuncia apoio a Renato Casagrande, em uma coletiva pra lá de movimentada. O seu vice, Ferraço, explode de ira. eE, de novo, a crônica política fica sem entender nada. O governador mais popular da pós-Constituinte vai no ostracismo político. Na internet, os políticos pagam tanto mico, que o a “nova” oposição começa fazer gozação, muita gozação. Foi um dia de explosão de informações na internet. Tarefa para historiadora da comunicação. Coisa bárbara.

5. O imperador Hartung e a aliança com Casagrande

Antes do apoio de hartung a Casagrande, circularia na web o viral mais assistido da “campanha”. Um hit que ironizava a aliança entre PT e PMDB, que acabou naufragando. Nenhum outro vídeo foi tão visto no Estado. Nesse momento, Renato Casagrande já era líder nas pesquisas. E começava a ditar, ao seu ritmo, a condução da campanha. Já era senhor da web, já tinha o twitter com o maior número de seguidores. Os tucanos estavam apaixonados pela peça na rede, os apoiadores de Casagrande, vingados.

6. Ricardo FailRaço

Fez enorme sucesso o perfil fake do vice-governador Ricardo Ferraço, considerado, por mim, o melhor fake de toda a rede. Criativo, original, inovador. Foi a peça mais hilária dessa campanha, o ricardofailraco e os vídeos da Xuxa Verde. A rede tucana não cansava de retuitar.

6. Os fakes das campanhas: trolagem e pouca inteligência

Tiveram pouco destaque os fakes, depois de julho. Todos eles foram utilizados no sentido mais de despolitizar o debate do que efetivamente construir uma visão mais crítica dos candidatos. Alguns deles circularam um pouco mais: @narizinhocapixaba, @emocasagrande, @bricebagaco – mas baseados em acusações. Muito ruim.  Muito se deduziu dizendo que os fakes eram todos internos às dinâmicas da campanha, mas todos os lados se prontificaram a negar qualquer responsabilidade por eles.

7. O #foramagnomalta

A mais importante mobilização da opinião pública compartilhada na rede no Espírito Santo. Organizada por muitas mãos – algumas bem interesseiras, no sentido de menos debater a questão, mas pedir voto contra o senador – o #foramagnomalta foi um tuitaço contra a hipocrisia trazido a cabo pela campanha do senador, que, na televisão, passava lição de moral com uma proposta pra lá de fascista: colocar adolescente na cadeia, caso cometam algum tipo de ato infracional. Ao mesmo tempo, o senador defendia políticas duras contra toda forma de pedofilia, mostrando, assim, uma total contradição em seu discurso sobre a criança e o adoelscente. Conjugado a isso, toda uma rede contra a homofobia se rebelava online, criando o lema “todos contra a hipocrisia”, numa ironia ao “todos contra a pedofilia”, camisa negra com caracteres brancos do senador. O movimento fez Malta tirar o time de campo, recolher o discurso público, tornando-se um pouco mais aberto ao debate da sociedade.  O #foramagnomalta manteve alguns dias à frente dos assuntos mais tuitados da capital do estado, segundo o site Trendsmap.

Uma ótima história ainda para ser contada, a partir da fartura de crítica online, por algum estudioso de história política do estado. Algo que pode ser o começo de um movimento.

Babado Certo

@babadocerto Babado Certo

8. O webmício de Luiz Paulo

Com ótima ideia, o candidato tucano abriu canal de conversação com seus eleitores, no seu webmício (comício na web). Problema sério, poucas pessoas na rede ficavam conectado a ele. O webmício foi uma ótima ideia, mas executada sem fôlego. Luiz Paulo, na verdade, vacilou. Ele é ótimo em seu blog, que virou um ex-blog (como o do Casagrande) logo que começou a campanha. Com muita verve, era o blog que poderia lhe dar ótimas tiradas. Despensou o blog, entrou no twitter e ficou apenas no relato de agenda, como todos os outros candidatos. Mas inovou em se aventurar a debater tête a tête com quem quisesse aparecer na sua casa na web.

9. O uso das redes sociais

Twitter brilhou, mas protagonismo foi dos eleitores e não dos políticos. Fotografias no Flickr também foram um marco. Casagrande tentou criar a Rede Ning, mas deu com os burros n´água (por motivos óbvios, o Ning deveria ter começado pelo menos uns sete meses antes).  Luiz Paulo tentou importar a rede mobiliza (um fracasso total, senão como um lugar de trolagens e mais trolagens). Assim os candidatos se resumiram a orkutizar as suas mensagens. Poucas campanhas usaram das estratégicas do ciberativismo, mobilizando via DM, estabelecendo relações offline a partir do online, tudo ficou muito no script. Resultado: nenhum debate consistente na internet. Só troca de “obrigados e valeus”. Contudo, essa possibilidade de dizer o que pensa e afirmar algo sem qualquer intermediário faz-nos parabenizar os políticos e os seus assessores que fizeram uso de diferentes redes sociais. Mas houve baixíssima conversação com os eleitores online. As redes sociais foram muito mais usadas como estoque de informação do que fluxo contínuo de informação. Mas tudo bem, é um começo. Na próxima, com certeza, teremos mais novidades. O convívio permanente com a sociedade já deixaram os políticos suscetível às visões distintas de mundo (sobretudo, eles se colcoaram em estado permanente de controle da sociedade. Isso é muito bom). E todo político se acostumou a ficar checando as menções, os comentários e as curtições. Estão viciados nisso agora. Sobre facebook e Orkut, o destaque foi para os eleitores, que arregassaram as mangas e apoiaram deveras seus candidatos. Aqui, existe outra grande fonte de historiografia para ser feita, para entender as motivações que levam às pessoas a erguer suas bandeiras digitais.

10. Os anúncios da vitória e da derrota.

Até daqui a pouco, lá para às 20h, vamos ver os primeitos tweets e fotos, vai sair tudo primeiro na internet, como manda a vida nesse novo século.

PS1: o grande erro das campanhas: focar a comunicação apenas a quem já havia se decidido pelo candidato. Acabou o candidato falando pra quem quem já estava careca de ouvi-lo. Na próxima eleição, o desafio é chegar mais nos outros graus de comunicação.

PS2: daqui a dois anos, na capital, talvez teremos um novo tuiteiro, o governador Paulo Hartung, um cara que tem todo perfil para estar nas redes e, não sei por que, se ausenta delas.

Ps3: a imprensa influenciou muito pouco, pouquíssimo.

O viral e o orkut nas eleições 2010

No Brasil, pelo o que estou pesquisando, as eleições serão marcadas pelo viral. Nada de Orkut, nada de Facebook, nada de Twitter. O que vai bombar e decidir o voto será, em primeiro lugar, o viral. Junto dele as estratégias de marketing de guerrilha. O viral trará toda a cultura do humor nacional, que é o que manda na internet no Brasil – só ver os milhares de virais já assistidos no país, do “funk de não sei quem” aos personagens bizarros que se tornam célebres no youtube.

O viral tem um componente complicado: o anonimato (como todo mundo sabe, o anonimato sacode a internet, mas é visto por muito como algo covarde). Mas faz parte de sua cultura. O anonimato pode gerar um duplo movimento, o de trolagens e boatarias; ou de adesão colorida, por outro. A trolagem (espalhamento de comportamentos fraticidas, facistas, de má educação) pode fazer forte o candidato que é detonado pelo boato, pois que o vitimiza, tornando-se, portanto, injustiçado e objeto de má fé. Mas o efeito pior é do candidato que o troll busca defender, que, rapidamente,  acusado de estimular a boataria, passa a impressão que é um cara sem ética. Candidato bom age rápido quando é trolado: cria um blog somente para responder a rumores. E leva a melhor. Continue reading

Obama e o mundo pós-espetáculo

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Enviei esse comentário para ser publicado no Jornal A Gazeta, daqui do ES:

Se John Kennedy inaugurou a fase da política televisiva (tornando até hoje o mais célebre presidente norte-americano, e Jackie a mais midiática primeira-dama), Obama é o arquétipo da política das redes em que vivemos atualmente.

Se os teóricos da identidade vêem-no como uma figura capaz de romper a prisão da identidade racial, sem sombra de dúvida, nós, pesquisadores da comunicação, já o percebemos como um legítimo índice da comunicação política pós-espetacular. Essa onda Obama não pode ser mais explicada pela acusação simplista que estaríamos vivenciando um retomada da “imagem sem corpo”: em que a política é constrangida pela teatralização, pelo vazio da imagem pública ou pela transformação da história em marcas e grifes. Obama não é um hamburguer, um sapato, como geralmente tratam os marketeiros políticos da TV/Rádio. Obama construiu uma reputação em rede, em que até as logomarcas com seu rosto são originadas pela produção de uma inteligência coletiva (designer, webmasters e publicitários comuns, amadores como gostam de dizer). Uma inteligência coletiva que transcende as fronteiras dos EUA.

Os anúncios e convocatórias de Obama à nação se faz pelo Youtube, e até sua transição de governo tem participação de seus colaboradores online, através do seu site Change.com. Obama era um “qualquer um” há dez anos, e foi alçado a presidente pelo seu talento político dentro do Partido Democrata, mas, sobretudo, pelos milhões de colaboradores que fizeram inverter a lógica de financiamento de campanha, ao dotar, com pequenas doações feitas por milhões de pessoas, o Fundo de Campanha de Obama de quase 1 bilhão de dólares.

A popularidade do político não se faz mais pela televisão, como inaugurou a era Kennedy. Agora se faz através do “poder do link” da internet. É o paradigma da referência que estamos a atravessar. Eu vi o seu vídeo, gostei, e referenciei no meu blog, que foi lido pela minha pequena audiência, que gostou e referenciou nos seus respectivos blogs e espalhou em suas listas de discussão. Enfim, a comunicação política da mídia tradicional é – e será – cada vez mais o lugar do comportado, daquele que produz clichês baratos, que idolatra o papai-mamãe. Não há debate. Este se deslocou para a grande rede.

Por que a onda Obama é enorme? Porque ela é tipicamente um fenômeno de rede, é um “enxameamento” (swarming), é uma atividade que vem de todos os lados sem ter, portanto, “centro de emissão”. Eu sou Obama, portanto, Obama é muitos. Como um “qualquer um”, Obama está como aquele estudante chinês, o qualquer um, defronte ao tanque de guerra – sua crise – na Paz Celestial. É o qualquer um que clama por mais democracia.  Agora resta saber se o presidente vai ser ainda melhor que o candidato.

ciberpolítica e eleições 2006

No site da revista científica Razon y Palabra (super indicável!), há a introdução do livro Ciberpolítica, de Carmen Fernandes,  que destrincha o impacto do uso da internet nas eleições até o ano de 2006.

Na Intercom Sudeste 2008, assino, junto com o Gabriel Herkenhoff, o artigo A disputa pela produção dos sentidos nas eleições de 2006: a emergência de uma opinião distribuída. O trabalho busca empreender uma análise do papel da Internet, no que tange suas possibilidades de produção de conteúdo (especialmente blogs, Orkut e You Tube) nas eleições presidenciais brasileiras de 2006 e sua vitalidade na construção de um campo de batalha pela produção de sentidos.

Newsweek e os blogueiros

De novo, internet e política. Nos EUA, a Newsweek resolveu inovar. Criou um espaço online (The Ruckus) para que blogueiros façam análises políticas sobre as eleições presidenciais de 2008.  A idéia é que eles (são 9 ao total) insiram neste espaço as principais idéias e argumentações que rolarão na blogosfera na época das eleições.

Exemplo bom de união entre a midiasfera e a blogosfera. Exemplo que reforça a tendência da expansão do diálogo público online. É a opinião pública se metamorfoseando.

Via: Periodismo Ciudadano

moderar ou não os sites políticos?

Olha aí artigo no El Mundo sobre política e internet. O ano de 2008 será de eleições municipais e, para mim, a internet vai ocupar um lugar maior do que ocupou na eleição de 2006.

Neste artigo, chamado A rede não é dos partidos (La red no es de los partidos), o autor critica o fato de os partidos estarem a censurar, antes ou depois de publicadas, as mensagens de cidadãos em seus sites.

É aquele dilema, o que fazer com a lógica aberta da internet? Moderamos ou não os comentários? Colocamos algum filtro contra os trolls? No caso da política, deixamos a opinião contrária no espaço de visibilidade política de um candidato?

Via: Blog do Enrique Dans