A evolução do #ZikaVirus no Twitter

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Em março de 2015, notei que as menções acerca da dengue cresciam no Twitter. Entre 14 e 21 daquele mês, as menções de fato subiram: 37.200 tweets, apenas em língua portuguesa. Quase um ano depois, durante o período de 04 a 11 de fevereiro de 2016, ao coletar o tema, o registro batia 311.777 tweets.

Se em 2015 a dengue era destaque em função do crescimento de casos no Estado de São Paulo; em 2016, o termo se nacionalizou colocando no vocabulário político o termo ‘Zika Vírus’. Antes tratado como “infecção benigna”, o Zika Vírus se alastrou pela América e pelas redes sociais, batendo só na última semana 1.376.773 tweets distintos (em todos os idiomas): 39% das menções são em língua espanhola (794.744 tweet), seguidos de 33,25% tweets em inglês e 13,9% em português (311.777). Isso reforça a tese de que a rede é capaz de ajudar a traçar o território da doença.

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Por curiosidade também tracei uma amostra de tweets contendo sus respectivas coordenadas geográficas e as plotei num mapa. Interessante como o ‪#‎ZikaVírus‬ é um assunto do continente americano, com maior incidência no Brasil, Argentina, Colômbia e EUA. Os dados geográficos dos tweets demonstram como a epidemiologia precisa dialogar com os dados de redes sociais. Já insisti nisso nesse pequeno artigo: https://www.facebook.com/fabio.malini/posts/10153906284296151

No vocabulário em torno da epidemia, visto nas nuvens de palavras, em março de 2015, os termos são orientados aos locais da doença (São Paulo, Uberaba, cemitérios, cidade) e ao seu registro (terrenos, atendimento, alerta, casos, focos). O eixo territorial era a cidade de São Paulo.

Em 2016, o eixo territorial dos registros online se desloca para o Brasil, Colômbia e EUA. E correlaciona o Aedes com as Olimpíadas, por ser a ‪#‎Zika‬ uma ameaça aos turistas e atletas olimpícos. Instituições de saúde pública, como a Fiocruz e a OMS, são continuamente mencionadas, em função de seus relatórios sobre algumas descobertas sobre as formas de contágio do zica e sua relação com a microcefalia.

Os dados são muito ricos para análises tanto qualitativa, quanto quantitativas. E ajudam a entender como essa epidemia ganhou contornos de pânico global.

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O ANTAGONISMO E A BRUTALIDADE POLICIAL NA VIRALIDADE DAS INTERAÇÕES DA REDE ‪#‎3e80Não‬

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Com a repressão nas ruas de São Paulo, a difusão de mensagens no Twitter se acelerou, mobilizando 72.832 mil tweets sobre o protesto (entre os dias 10 a 13 de janeiro). Metade disso foi gerado ontem. É uma rede bem polarizada, aglutinada em torno da defesa ou da crítica à violência policial contra manifestantes, o que potencializa o conhecimento sobre a causa da manifestação: a redução da tarifa de ônibus e trem. Portanto, no lugar de uma rede mais policentrada, que era o padrão anterior (http://wp.me/p2hCvO-3SL), agora a rede ficou polarizada entre aqueles que defendem o direito dos manifestantes (pólo azul) e àqueles que defendem as ações da Polícia contra o ato político (pólo verde). A posição mediadora é realizada principalmente pelos veículos de imprensa, que estão, em boa parte, sendo muito retuitado pelo pólo azul, gerando assim mais popularidade aos temas dos ativistas.

Importante: a rede governista petista se movimentou para o lado azul, interessada mais em criticar a PM do governador Alckmin do que exigir de Haddad a redução da tarifa. E a rede verde é “team PM”, sendo sustentada ainda pelo discurso do vandalismo, que vem sofrendo redução no volume de tweets/dia (se desidratando, portanto), após as imagens de violênia policial contra ativistas circularem após o ato de ontem em SP.

Os tuiteiros pró-Haddad (que estão no Facebook também) passam por um cãimbra argumentativa, dado que a narrativa preferencial deles (“o MPL alivia para o Alckmin”) já foi para os ares.

A questão agora é saber o quão o MPL vai ter maturidade para qualificar a pauta da redução da tarifa ao mesmo tempo que enfrenta a brutalidade policial nas ruas, que será mais forte quanto maior a viralidade do movimento.

ps: nessa rede de RTs, Alckmin aparece mais ao meio. Não houve nenhuma publicação do governador nesse período. O que ocorreu foi a existência de muitos RTs comentados (a partir disso daqui: http://bit.ly/1IYqqfz). Alckmin, assim, vai sendo devorado pela rede adversária. E virou o alvo mais fácil de ser abatido.

O Primeiro Ato #ContraTarifa2016 no Twitter: o aumento e o deboche

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Grafo 01 – Rede global de RTs sobre o aumento da passagem de ônibus e trem em cidades brasileiras

Entre 31 de dezembro e 09 de janeiro coletei postagens no Twitter sobre o aumento da passagem de ônibus e trem em diferentes cidades brasileiras. Foram 135 mil tweets, um recorde em minhas coletas sobre o tema para tão curto espaço de tempo. Nesse período, ocorre um dos efeitos colaterais do aumento: a convocação de protestos #ContraTarifa (principalmente em SP, RJ e BH). Um primeiro dado interessante se relaciona com o que veio antes das manifestações. Primeiro porque os movimentos acertaram em sincronizar nacionalmente o dia 08 como o dia de luta contra a tarifa. A sincronização – em tempo de internet 2.0 – é sempre um golaço pois agita e mobiliza redes diferentes em torno do mesmo tema,no mesmo dia e na mesma hora. Segundo porque a presença de perfis que nada tem a ver com o MPL e com os governos. É uma espécie de “nova geração” do Twitter. Ela articula entretenimento, política e memetização. Esses usuários estão agrupados nas sub-redes que formam o grafo 02. Não se sensibilizam nem pelo discurso que critica a repressão da PM a ativistas, nem pelo dos “mascarados infiltrados” do conservadorismo. E sim pelas dimensões concretas que significam dispender R$ 3,80 (quando em SP/RJ) da sua renda para pagar um transporte público de péssima qualidade.

Diria que o MPL e todos os movimentos-rede precisam acrescer às suas narrativas (um front também de lutas) a linguagem de GIFs e Memes políticos para dialogar com essa nova geração de usuários do Twitter/Facebook, para assim convocar novas adesões nas ruas e impulsionar compartilhamentos pelos ativistas de sofá (fundamentais em difundir o que ocorre nas ruas). É uma tarefa urgente dos movimentos retuitarem, darem replies, enfim mencionar para articular uma narrativa mais forme que escape ao “ao vivo” e mantenha uma atividade mais contínua de formação de opinião e mobilização política nesse canto da internet 2.0.

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Grafo 02 – Redes da nova geração de usuários de Twitter repercute o aumento da tarifa

Acompanho as redes do movimento #passelivre desde junho de 2013. Como naquele ano a narrativa do #PasseLivre2016 escapa àquela visões ora criminalizadoras do movimento (a partir da linha do vandalismo e do “acabou em tumulto”), ora deslegitimadoras do movimento (por neles existirem “infiltrados” violentos), teses respectivamente da direita e esquerda governistas. Nos últimos 15 dias, 40% dos conteúdos representam compartilhamentos da rede de comentaristas de Twitter que se posicionam contra o aumento da tarifa (principalmente em SP e RJ), mas que possui mundo, linguagem e atores próprio (grafo 02). Eles criam, usando o humor, a percepção de que aumento é algo abusivo e que aprofunda a crise econômica dos mais pobres. O tom humorado em ser contra é auxiliado pela “justificativa” de que o aumento se deve aos serviços de luxo que hipoteticamente que estariam embarcados no preço da passagem: “3,80 com open bar”, “vem com janta”, “tem wi fi e sofá cama”, “vai ter show do wesley safadão no ônibus”, “tem mordomo carregando casaco?”, “1a classe com champanhe”, “com banheira de espuma”, “com login do netflix de brinde”. Ou articulando o valor da tarifa com situações cotidianas da rede (“se tivéssemos votado em inês brasil a tarifa seria um real e meio”, “achei que estavam falando do preço do dólar”, “busão já pode ser considerado uber?”). Um pouco dos tweets dessa turma: bit.ly/1RwlykL, bit.ly/1Om3qDV, bit.ly/1OdqM0E, bit.ly/1mPCmX3 e bit.ly/1SJa1h1.

Não se sabe até que ponto essa ironia é apenas um modo de crítica política passiva acerca do aumento. Ou seja, a transformação de um tema político relevante em assunto do momento para ganhar likes e Rts. Mas, de qualquer modo, a viralização forte dessas mensagens demonstram a negativa popular que as medidas dos governos enfrentam. A questão é saber o quão os movimentos de rua agora vão conseguir capturar a indignação popular quanto à qualidade dos serviços públicos de transporte e conseguir emplacar um revés no aumento, em meio, é claro, à repressão policial, cuja força será diretamente proporcional à popularidade que as ruas vão alcançar, como sabemos.

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grafo 03 – Governistas e redes do MPL disputam a centralidade da narrativa sobre o #ContraTarifa

Nesse sentido, se a narrativa dessa nova geração de tuiteiros se situa em memes e gifs satíricos acerca do preço da passagem num regime de conversações colaborativas, os usuários que compõem as perspectivas representadas nas subredes redes azul escuro, azul claro e vermelho (grafo 03) estão em outro campo comunicacional, no das conversações conflituosas, numa territorialidade de disputa política.

A rede petista (vermelha) expressa uma perspectiva que só emerge quando ocorre o protesto de rua contra o aumento, lido como “contra Haddad”. É uma rede que sofre de complexo bipolar. Há momentos que quer ser contra o aumento (http://bit.ly/22VurId) em outros, apenas criticar o MPL, visto como um movimento antipetista e violento, por causa da “possível” ação de Black blocs nos atos. Nessa visão de mundo, mais paulista do que nacional, o MPL colabora com a direita, ao não “mirar” o Palácio dos Bandeirantes, que possui responsabilidade no aumento da tarifa de trem, de metrô e dos pedágios. Concretamente, a bipolaridade é só um modo estratégico de se tentar manter à esquerda ao mesmo tempo em que ampara a defesa do PT e de seus aliados locais (SP e RJ). Como MPL estivessem não está sob o controle do secretariado governista, atacam a própria diversidade dos atos de rua, compostos por diferentes movimentos e por partidos, o que inclui até petistas.

Interessante na rede ver a ausência da @cartacapital, que fingiu não ser com ela e não cobriu os atos pelo Twitter. E vale o destaque ao “desgarramento” de três coletivos:
Jornalistas Livres, Diário do Centro do Mundo e até o Brasil 247, bastante retuitados pelas redes vermelha e azul clara, deixando claro a predileção editorial por estarem na produção de conteúdo original das manifestações ou as repercutindo. Alguns tweets que ilustram boa parte do meu argumento: http://bit.ly/1ScUBlP, http://bit.ly/1UIGcLS, bit.ly/1ZfNuIC, bit.ly/1VYRkWt, bit.ly/1ZmN7kR, bit.ly/22V1DPZ, bit.ly/1SJ9Ja2 e bit.ly/1OWV4rU

A rede da perspectiva azul escuro concentra os apoiadores das ações da Polícia Militar durante os protestos do dia 08. É uma rede de apoio à repressão política mais do que uma rede de pensamento político conservador. Depredações, baderneiros, marginalzinhos, vândalos, mascarados, vandalismo e até terroristas do MPL estão no rol do léxico dos tweets feitos pelos perfis que não discutem o porquê do aumento da passagem, e sim se concentram em serem contra as movimentações que terminam em “tumulto”. Sempre se emudecem quando as imagens do dia seguinte demonstram flagrantes forçados, cidadãos violentados injustamente (o que inclui ai jornalistas) e registros de P2 executando depredações.

A estrutura narrativa já é bastante conhecida. E são emoldurados não mais pela imprensa, mas pelo conteúdo policial que é repercutido também por segmentos principalmente televisivo da imprensa. De quase 10 tweets da Polícia Militar de SP, oito mostravam imagens de “depredação” ou de “policiais com ferimentos”. A estratégia deliberada da polícia paulista foi de tipificar a manifestação como violenta, no intuito de afastar a luz sobre o debate público em torno do aumento da tarifa. A estratégia foi complementada pela turma de perfis conversadores, que multiplicavam compartilhamentos baseado na ideia de que O MPL é braço do PT, apoiador do “Fica Dilma”, é gente que sente “ira contra centavos e indiferença contra bilhões roubados da Petrobrás”. A desconexão do MPL com as questões ligadas à crise econômica (em boa parte gerada pela política econômica do governo Dilma) tem facilitado que o movimento seja taxado como localistas, não integrado a causas mais amplas, com a luta contra a inflação, arrocho, aumento da tarifa de serviços públicos, como de energia. A rede da direita aproveita esse vácuo para esvaziar o legítimo motivo da manifestação, tendo o MPL também como alvo.

Assim, longe de se diferenciarem, os coletivos de de espectro governista (petista&tucana) agem de maneira integrada, com foco em rotular as manifestações (ma rua e na rede) como atos provindos de uma minoria violenta e radical. Esse rótulo ajudaria atingir, com apoio dos veículos de comunicação de massa, as populações pobres desconectadas, em geral arredia quanto ao uso de qualquer tipo violência em protestos, se opondo assim aos tumultos das ruas. Contudo, essa estratégia governista tem como limite a popularidade dos governos (que não andam nada boa em SP, RJ e BH) e a adesão popular às ações desencadeadas pelo MPL. Sintoma de que a bola está dividida pode ser visto nos comentários a esse tweet (<<< link >>>) do governador Alckmin, que não demorou a tipifica, na sexta mesmo, os movimentos como atos de vândalos. Alckmin possui o discurso da repressão já calibrado. Haddad, em silêncio no Twitter, deixa o governador fazer o trabalho por ele.

Uma observação interessante: fazem parte do grupo azul os retweets dos perfis do MBL (bit.ly/1mPUJKS) e do Revoltados Online (bit.ly/1mPUC21). Ambos não criticam, em nada, o aumento da tarifa. Um pouco de teweets bastante replicado e comentado da rede de apoio à repressão pode ser lido aqui: bit.ly/1OdrKdi, bit.ly/1mPFBh8, bit.ly/1VYVXQj, bit.ly/1ZfQhBq, bit.ly/1IYqqfz, bit.ly/1P2qZkp, bit.ly/1K8wLje, bit.ly/1PnjPry, bit.ly/1kZL6rT e bit.ly/1Pnk467

Os perfis que se agrupam no cluster azul claro formam a perspectiva dos movimentos de ruas que ocorrem pelo país. São três tipos de perfis: os convocadores, os narradores e os comentaristas dos atos. Os convocadores são os próprios protagonistas da mobilização, que giram em torno do Movimento Passe Livre (@mpl_sp, mpljoinvile, @tarifazerobh), além de perfis ligados ao coletivo Anonymous (Rio e anonopsbrazil), que andavam sumidos da difusão das lutas urbanas no Brasil. Esses perfis convocadores tambem cuidaram de narrar os acontecimentos de rua, não deixando muita brecha para um oligopólio narrativos dos veículos de imprensa. Contudo, faz parte dessa perspectiva os perfis do Globo Política, El Pais, Estados de Minas, Jornalistas Livres, Mídia Ninja e Huffington Post, Uol e Exame, por estes terem sido bastante retuitados pelos ativistas. Essa novidade ocorre em função da propagação de flagrantes forjados por policiais ou pelo fato desses veículos estarem noticiando, de dentro das manifestações, ao vivo, o andamento dos atos. Esses veículos acabam equilibrando a disputa na grande narrativa midiática, já que os perfis no Twitter das emissoras de tevê (não apenas) reforçavam muito mais os atos de vandalismo.

Queria destacar uma nuance preocupante, do ponto de vista das ruas: a fragilidade de organização que se encontra a rede do MPL no Twitter. Enquanto há um alto volume de perfis (grafo 02) criticando o preço da passagem (mas desconectados com a rede das ruas), os perfis que são atraídos pela rede do MPL se caracterizam mais pelo interesse dramático dos atos (que sempre esquenta a audiência) do que pela pressão sobre a decisão tarifária dos governos. Isso ocorre, em certa medida, pelo fato de o MPL conter poucos formadores de opinião sobre a causa da mobilidade urbana no microblog. Esses formadores, ou comentaristas críticos, são os mediadores da rede. Ou seja, possuem o poder de transmutar os sentidos dos fatos. Eles interpretam não apenas os sentidos dos protestos, mas alargam aqueles ligados ao debate intelectual e político em torno do valor da tarifa, da relação Estado x movimentos, dos conflitos entre policiais e ativistas, além de fazerem os links entre a questão social e a questão urbana, enfim, esse esvaziamento intelectual no entorno do MPL no Twitter pode acontecer menos no Facebook (um locus mais apropriado à discussão, é verdade), contudo, isso faz com que o espalhamento (sempre dependente, nesse caso, da turma esquerdista do sofá) fique muito prejudicada, dificultando a tática comunicacional de transformar um ato em trending topic. O que sobra nas redes governistas (comentaristas) tem faltado na dos movimentos de rua. Alguns dos tweets (com comentários) da rede das ruas pode ser conferido em: bit.ly/1RwnBp1, bit.ly/1PZoUuN, bit.ly/1RhKtYN, bit.ly/1N2DknB, bit.ly/1mPCPbN, bit.ly/1mPRUJK, bit.ly/1RFyQcW, bit.ly/1mPDppR, bit.ly/1kZJ6Qm, bit.ly/1PRQpV8, bit.ly/1N2CGGI e bit.ly/1VYUp8R.

Para finalizar, alguns números:
137.164 tweets com termos ligados ao aumento da passagem de ônibus e trem no Brasil.
39.643 usuários distintos tuitaram sobre o tema.
67693 retweets de 32322 “remetentes” para 5497 destinatários.

Comentários (replies) em rede: uma nova fronteira a se alcançar na análise de redes sociais

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Grafo 01 – Rede de replies no Twitter. sobre o rompimento da barragem da Samarco em Mariana.

 

Há muitos grafos sobre temas importantes de 2015 que gostaria de ter gerado: o dos refugiados, o da chacina de Osasco, o da cop 21, o da eleição argentina, enfim, são muitos acontecimentos. O consolo está no fato de que os dados sobre eles foram coletados. Mas a rede que NÃO analisei, por decisão pessoal, foi sobre o crime ambiental da Samarco/Vale/BHP. Por um motivo importante: quis fechar (metodologicamente) e abrir (teoricamente) um ciclo novo de trabalho com redes a partir de estudos ambientais, como é o caso do ecocídio em Mariana e por todo Rio Doce. Coletamos o caso da Samarco desde o dia 01 de novembro, antes do rompimento da barragem. Mas incluímos um elemento novo na nossa metodologia de análise estrutural de redes.

É o seguinte. A maior parte dos grafos na análise de redes sociais é voltado à visualização em torno da difusão das mensagens (retweets, compartilhamentos, likes do Insta etc). Considero relevante a cartografia em torno da disputa de popularidade das mensagens. Afinal, a viralidade é um fator fundamental para entendermos a agenda pública hoje. Mas sempre achei isso incompleto (sobretudo depois que o Labic popularizou a figura de Bots nas disputas eleitorais). Daí numa dessas viagens longas, rascunhei à mão uma proposta de análise de conversação em rede. Qual é a diferença entre difusão e conversação? Tecnicamente a difusão está mais no ato de compartilhar (em geral, ato realizado para irradiar uma ideia ou fato que se pretende publicizar). A conversação está no ato de responder (de comentar e discutir). Compartilhamos mais (muito mais) do que comentamos. Porque a conversa, sobretudo quando é uma discussão, requer repertório para argumentar e contra-argumentar, demanda lidar com revides e até violência e má-educação. Minha hipótese passou a ser que comentar é a raiz da ampliação de sentidos sobre ideias e opiniões. Naquela confusão entre Malafaia e Boechat (um dos grandes momentos de 2015), o jornalista publicou esse tweet (https://goo.gl/ctTAiY), gerando um assustador número de comentários (replies, na linguagem do Twitter). Comecei então a rascunhar ali a ideia de coletar replies e dispô-los no formato de rede (quem comenta quem). Na prática isso já era possível, mas de modo limitado. Por quê? Porque quando coletamos dados precisamos pedir à API do Twitter que nos entregue posts com determinado conjunto de termos. Exemplo. Se simplemente pedimos “boechat+malafaia”, o sistema retornará apenas os comentários contendo frases com essas duas palavras, o que faz com que toda a riqueza que vocês viram aí no link não apareça na coleção de dados recolhidos pelo pesquisador. Isso é o motivo de pesquisadores e analistas não trabalharem com a conversa, ela é intensamente rizomática, com muitos centros de atenção e muitas conversas paralelas. Pensei então em fazer scraping dos comentários (https://goo.gl/BnaOp4), recolhendo os IDs dos tweets e depois recoletá-los pela API do Twitter (isso permite o acesso aos 42 metadados de um tweet). Feito isso poderia mapear concretamente as conversas juntando com os tweets já coletados, dando um salto assim nas minhas pesquisas, cujo meu ciclo laboratorial (mais hard) se fecha em 2015. Devo a equipe do Labic, em particular ao Gustavo e ao Nelson, que minha ideia virasse um programa. 2016 então será só de (re)escritura. Isso tudo para dizer que a rede abaixo representa 37 mil conversas (replies) sobre o crime da Samarco, coletados apenas no mês de novembro no Twitter. Sem o programa seria menos de 10 mil.

Algumas hipóteses estruturais para entender redes de replies (conversações):

1. Clusterização densa é um fenômeno de dificil ocorrência em redes de conversação. Isso porque um cluster, em rede de conversação, é formado por perfis com pontos de vista conflitantes, diferente de redes de difusão, onde clusters são formados por pontos de vistas comuns. Os diferentes estão mais próximos quando comentam do que quando retuitam.
2. Redes de comentários tendem aglutinar mais conversas em torno de: (1) perfis noticiosos, que geralmente possuem seguidores com pontos de vistas heterogêneos, como é o caso de veículos de imprensa; (2) perfis que são alvos de ataque em função de questionamentos sobre atos considerados danoso à sociede. como foi o caso do perfil da Vale, uma das sócias da Samarco; ou aqueles perfis envolvidos em alguma controvérsia nas redes sociais (tretas, disputas, etc).
3. Quanto maior é a família de uma conversa, mais múltipla será uma discussão. O Twitter denomina de ancestral aquele reply que gera uma onda de comentários em torno dele. Um tweet pode assim gerar vários ancestrais, que funcionam como tópicos de discussão numa conversa (no tweet aqui – https://goo.gl/ctTAiY – você verá-los, pois são separados por um “mostrar mais”). Isso permite medirmos os tweets pela sua capacidade de gerar ancestralidades.
4. Quanto maior é a periferia, maior é a multiplicação de conversas, que gera multiplicação de sentidos expandindo e sobrecargas interativas em perfis. Toda rede de conversação tende a um paralelismo de discussão, por fragmentar-se em rede de múltiplas conversas, cuja localização preferencial está na periferia, que, em determinados casos, pode ser muito maior que o centro de gravidade da rede. No caso da rede ‪#‎Samarco‬, a periferia (grafo 2) representa 1/3 do total das conversações.
5. Bots e Spammers não conversam. Seria uma perda de tempo para eles. Que maravilha!
6. Redes de conversações são capazes de revelar relações de poder em regime de tensão. como é o caso da entrada em cena da Vale – nó conversador no grafo – ao tentar se defender através de argumentos baseados na ideia que está a proteger os humanos, os bichos e o local da tragédia. Veja https://goo.gl/NUEhUl. Ou o tweet de Miriam Leitão (https://goo.gl/oFZ7TN), em que a jornalista coloca o dedo na ferida, gerando uma onda de comentários, de crítica à Vale e aos governos que ela financia.

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Grafo 02 – Mesmo grafo, tendo como foco apenas as conversas na periferia da rede, representando 30% da coleção de dados.

2016 está chegando. Um feliz ano novo de muitos estudos, felizes estudos, com saúde e paz para vocês, amigos e amigas!

O #20D na Espanha: a hegemonia das “forças do Câmbio” no Twitter

#20D significa 20 de dezembro, quando ocorreram as eleições gerais na Espanha. Essa hashtag (#20D) foi bastante utilizada pelos partidos, candidatos, militantes e veículos de imprensa. O que fiz foi coletar os tweets dessa hashtag entre os dias 15 de dezembro (1h01min, horário de Madrid) a 21 de dezembro (1h01min, horário de Madrid). Alguns números: foram gerados 657.843 tweets publicados por 202.167 users. 16.545 desses tweets são replies, 478437 são retweets (feitos por 162507 remetentes para 24880 destinatários). E 261690 tweets possuem dados linkados (úteis para se coletar imagens, gifs, links de notícias etc).

O grafo representa os Retweets entre os perfis. Em rede desse tipo, a disputa eleitoral ocorre em torno do espalhamento de mensagens, para que os temas partidários se mantenham vivos nas timelines dos seguidores/amigos. Não há muita conversação e diálogo nessas redes, e sim uma disputa por abrangência e permanência das pautas partidárias no imaginário do eleitor-seguidor. Redes de Retweets são “territórios” dos iniciados, de militantes que atuam continuamente em torno de uma causa. Os indecisos – ou os menos atentos às disputas de opinião – podem estar nas bordas dessas redes (tá aí um território bom para ser explorado: os nós com “baixa gravidade”, que se parece, num analogia com o offline, com aquele popular que assiste um comício de longe: está atraído, mas prefere conversar com amigo ao lado, que também avalia tudo de longe).

 

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Mapa das interações entre perfis que retuitaram, em espanhol, mensagens contendo o termo #20D no Twitter.

Algumas observações que envolvem as eleições espanholas (a partir dessa rede de retweets com a hashtag #20D):

1. A rede #Podemos (mancha roxa) é a rede de maior protagonismo nos retweets acerca do #20D. Podemos é hoje a terceira força política da Espanha. É um partido com menos de dois anos de vida, nascido da confluência de forças sociais que emergem após os grandes acampamentos de praças em 2011. Aliás o termo “confluência” – e não “coalização” – tem sido um dos mantras dessa rede para significar um novo modo de se fazer política. Interessante notar a camada de movimentos (olha lá o @democraciareal) e da experiência catalã do en_comu_podem (que saiu vencedora na Catalunia) que circundam a rede #Podemos, que obteve 5,3 milhões de votos (um pouco a menos do que o PSOE). Uma boa hipótese para pesquisar: uma alta intensidade de (re)tweets, contagiante, de um grupo partidário pode apontar supresas eleitorais (no caso espanhol, o rompimento do bipartidarismo), mas não significa vitória no número de votos absolutos. Talvez são as redes de conversações (replies) que podem apontar uma relação mais próxima com os resultados eleitorais. Replies são como os comentários no Facebook, incontroláveis.

2. O crescimento da esquerda catalã (mancha vermelha clara, à direita) demonstra que a organização da campanha eleitoral dessa região é um dado político relevante a se considerar em termos das disputas em torno da “concluência” que ocorre agora após o pleito, quando um pacto precisará ser feito para a formação de um novo governo (em contrário, uma nova eleição deverá ser convocada).

3. Os partidos PP e PSOE (respectivamente, a primeira e a segunda força política espanhola) também estão desidratados no volume nas interações no Twitter. O PSOE (macha vermelha escura) e PP (macha azul escuro) foram atropelados pelas forças de “cambio” presentes no Twitter (o que inclui o novo partido – mais liberal – chamado Ciudadanos, a mancha laranja na rede) . Talvez o maior impacto desse desidratar-se no Twitter (rede de alta intensidade na Espanha) mostra-se agora nas redes, quando o dilema PSOE (ser ou não ser base de um possível governo do PP; ou ser ou não ser a liderança que puxaria mudanças profundas junto com o Podemos) revela a incapacidade de mobilizar apoios na rede para sua plataforma política num eventual novo governo. Assim, vale à pena os estudos de comunicação política digital centrarem força em responder por que partidos vitoriosos nas urnas não conseguem ter sustentação política (em termos de percepção e opinião) nas redes sociais, e até quando eles sobreviverão, e até quando suas estratégias offline estarão desconectadas.

4. Pelo que eu vi, as redes do Twitter são ótimas por permitir visualizar todas as forças políticas no mesmo platô. Pode ser interessante a coleta de dados dos últimos 3200 tweets (o que o Twitter oferece) de todos os 162507 perfis presentes na rede, para estudos políticos mais aprofundados.
Para quem não entende esse monte de pontinhos e linhas coloridas. Uma curta explicação:
* os pontinhos são perfis no Twitter (ou seja: gente, instituições, imprensa, bots, fakes e outros bichos). Já as linhas representam ligações entre perfis, isto é, representam retweets (que é o ato de compartilhar uma mensagem no Twitter). Assim, quando há um retweet, o software cria uma linha entre dois pontos. Quando um perfil retuita muitas vezes um outro, a linha entre eles ficará grossa. Linhas grossas significam intensidade de relação entre dois pontos.
* as cores denotam os (1) “grupinhos” que esses perfis formam ao compartilhar mensagens uns dos outros; ou denotam um grupo de fãs que compartilha a mensagem de um “ídolo”.
* Tecnicamente esses grupinhos são chamados de “clusters”, mas eu os conceituo como ‘perspectivas’, por representarem pontos de vistas dessa multiplicidade de perfis (que acedem a um modo de ver, sentir ou perceber um acontecimento). Na prática, a mancha vermelha “pensa” de forma distinta da mancha laranja. A questão é então é saber as diferenças/multiplicidades que esses pensares implicam. É claro que com isso me filio aos estudos que atuam mais no horizonte da multiplicidade do que das individualidades.
* quanto mais densas são as cores que representam esses “grupinhos”, mais homogênea é a relação entre eles, ou seja, maior será a coesão do grupo em torno de ideias, pessoas e visões de mundo.

PAINEL DOS DIREITOS HUMANOS

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No final do mês de novembro, o Labic finalizará (versão 2015), em parceria com o governo federal, o aplicativo que produz um Painel dos Direitos Humanos no Brasil. O projeto tem como objetivo cartografar informações e notícias que colaboram com o empoderamento e proteção das minorias sociais no país. A versão 2015 está focada em Negros, Indígenas, Mulheres e LGBT. Ainda está em versão beta. Pedimos paciência. A tecnologia é toda nacional. Uma felicidade imensa em ter quase 15 softwares já criados pela Universidade Pública brasileira, colaborando na ampliação da cidadania no Brasil. Estamos em fase de testes. Logo logo ele vai ao ar.

O nome ainda precisa ser dado. E a cada dia vamos incorporando mais módulos ao webaplicativo.

 

 

#CarnaCoxinha

No Twitter, a hashtag ‪#‎CarnaCoxinha‬, que ironizava os protestos, passou a maior parte da tarde no topo dos Trending Topics (assuntos mais comentados do momento) mundiais. Até às 18h, a expressão tinha quase 100 mil menções na rede social, conhecida pelo comentário em tempo real de eventos como manifestações.

Juntas, as hashtags ‪#‎16DeAgosto‬‪#‎ForaPT‬‪#‎ForaDilma‬ e ‪#‎ImpeachmentJá‬, que reuniam principalmente pessoas favoráveis às manifestações e foram usadas por movimentos organizadores, tiveram cerca de 70 mil menções até o mesmo horário.

Confira a matéria completa no site da BBC Brasil‪#‎LABICnaMídia‬                                  http://www.bbc.com/…/150816_protesto_redes_sociais_cc.shtml…

Crônica da Derrubada da Maioridade Penal

Eu adoro grafos temporais, porque, nas redes sociais, seguem as dinâmicas cognitivas/afetivas dos usuários. E demonstram como vivemos nessa realidade misturada – o “mundo virtual/real”, entre redes sociais e televisão etc.

Dados são a partir de 221 mil tweets, 95 mil Retweets. A mancha laranja representa a turma da ‪#‎NaoAReducao‬ e a lilás a do ‪#‎ReducaoSim‬. No meio, um mundaréu de agentes (com destaques, agora, para celebridades de televisão e do mundo jurídico – depois com mais calma e tempo detalho a análise de perfis). 

Por agora, é interessante fazer a crônica dos grafos. (grafo 1) Amanhece o dia, gente no aeroporto aguardando deputados que chegavam a Brasília. (1) e (2) rede laranja começa a atuação difundindo debates sobre o porquê de não reduzir a idade penal; (4) Eduardo Cunha abre a discussão da pauta da sessão extraordinária (a rede #ReducaoSim surge junto com o “meião” – imprensa e muita celebridade). (5) A pauta é colocada em votação; (7) Redução não é aprovada – explosão de interações. (8) Repercussão (até 9h de hj) da decisão, com protagonismo da rede que “perdeu” a votação.

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#CarnavaldeVitoria (31jan a 07fev)

Por curiosidade, coletamos as publicações sobre o #CarnavaldeVitória no Twitter. A capital do ES promove um animado desfile de escola de samba, que se inicia sempre a uma semana da data do carnaval oficial no Brasil. Se a hashtag é pouco usado no Facebook, por onde circulam mais conteúdos indexados ao nome das escolas de samba, no Twitter, dá para ver a ecologia dos perfis conjuntamente do #carnavaldevitoria. Um pequeno relatório da folia, de 31 de janeiro até a madrugada do dia 07 de fevereiro (embora seja hoje, 7, à noite, que o pau quebra, quando o desfile é transmitido nacionalmente pela Band). Para quem está a fim de acompanhar há contas bem legais no microblog, que vamos citar por aqui.

Se fosse interpretar algo: muitas publicações estão  relacionadas com o movimento de celebridades nacionais que passam a divulgar o carnaval da cidade. Celebridades no estilo ex-BBB e políticos. E há a crônica dos desfiles, com muito imagem e links.

 

Vamos lá aos dados, de modo muito cru:

Rede de Retweets sobre o Carnavaldevitoria (utilizando a taxa de Grau Médio de Entrada)

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