Metade da relevância no Twitter é produzido por 0.05% dos usuários. E daí?

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Segundo estudo publicado no Yahoo Research (li isso numa notícia do IDG Now),metade da relevância no Twitter é produzida por míseros 20 mil usuários (0,05%). Como todo número tem um “espírito”, fiquei pensando o que isso significa. Tá na cara: a ideia é disseminar que “apenas poucos produzem coisas relevantes”. No final das contas, a metodologia de pesquisa 1.0 continua viva no mundo das redes. Ou seja, ainda se busca “investigar” raízes (apesar delas existirem) no rizoma para, depois, apontar o dedo e dizer: “tá vendo, mesmo nas redes, as pessoas ainda têm seus líderes”. E, assim, ninguém investiga o óbvio: os entornos de comunicação que afetam diretamente a maneira como eu, tu e eles consumimos os conteúdos da rede. No lugar de buscar “os reis da praia virtual” seria lógico procurar o “corpo que faz o rei reinar”. Afinal, Blog sozinho não faz verão. Um Perfil no Twitter, menos ainda. Mas nada. Muitos estudos ainda usam da estatística para  criar falsa maiorias (sujeitos, temas, etc).

Três coisas óbvias nesses números, lendo a estatística na perspectiva dos 99,5%:* o Twitter não serve apenas para circular conteúdo relevante (e com ele todo um poder pastoral).

  • o Twitter não serve apenas para abrigar “pessoas relevantes” e celebridades.
  • o Twitter não é uma catedral. É um bazar. Para usar a metáfora dos ideólogos do software livre.
  • o Twitter é uma potência porque exatamente não cria um povo e um líder. É multiplicidade em estado puro. E dentro desta há os boçais, e o boçal também se singulariza, vou fazer o quê!
  • E o mais óbvio do óbvio: a maioria no Twitter não é célebre, nem líder de opinião midiático. E aqui que mora todos os “novos problemas e os novos agenciamentos”. Nenhuma cartografia científica será capaz de chegar a esses agenciamentos utilizando métodos tradicionais da estatística (sempre orientada à maioria). O problemão de pesquisa está no fato que a relevância de uma rede só brota de maneira minoritária. Essa é a desgraça para a pesquisa científica tradicional. Isso porque a minoria não se generaliza como dado, é sempre local, casual e singular. Mas isso não significa, em absoluta, que ela tenda à fragmentação. Ao contrário, ela é exatamente o motor da criação da cooperação em torno dos commons virtuais. Afinal, não há democracia no Egito sem a ação das minorias enredadas.

Mas a ideologia da maioria contida na estatística das redes, longe disso, só quer encontrar padrões, repetições e bordões!! O chato é que esses padrões ditam tendências, ditam modismos, sem parar, para tudo ficar no mesmo lugar: manda quem tem seguidor, obedece quem não tem amigo.

E, assim, o conformismo metodológico reina entre nós.

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