O #protestoemVitoria e a política do comum

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É na reivindicação que se encontra a origem do verdadeiro pacifismo” (Antonio Negri).

“Um partido já não vive de sua representação, mas de sua capacidade de ser movimento” (Antonio Negri)


Manifestantes do #protestovitoria fazem assembleia na Ufes. Foto: Izaias Buson

Durante o mês de maio, nos muros da cidade de Vitória/ES, podia-se ler: “Dia 02/06 a cidade vai parar”. Era um teaser. Igual a esses que os publicitários preguiçosos gostam de fazer, do tipo: “O  shopping preparou uma novidade para você”.  Contudo,o teaser de maio tinha assim um tom mais de ameaça. mas ninguém se importou muito com ele. Até que às 8h da manhã, da última quinta-feira, Vitorinha realmente parou. Deu tela azul. Travou. Um grupo de manifestantes radicais fez uma barricada de pneus queimados, numa avenida que corta o Centro da Cidade.

A cena era dura ao poder, pois que a manifestação estava em frente à escadaria da sede do governo estadual. Como nômades, não se sabia quem eram aqueles “estudantes” que não deixavam nada passar. Só se sabia que protestavam a favor do passe livre e pela redução da tarifa de ônibus. Até às 13h, não se tinha acordo para dar fim ao protesto. E o trânsito, no lado Sul da ilha, continuava do mesmo jeito: imóvel. Daí, o governo decidiu agir: mobilizou o Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar, que, à base de bombas, tiros de bala de borracha e cacetetes dispersaram, em segundos, os manifestantes. O evento foi acompanhado ao vivo, pela TV Record, através de um de seus programas locais mais populares. Numa acepção estatalista, estaria agora tudo resolvido. Trânsito livre. A força do Estado serve para manter a ordem e a paz perpétua.

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A Batalha do Anchieta

Mas, ao contrário, a “Batalha do Anchieta” estava apenas começando. 30 minutos após a ação policial, surgia no Facebook e no Twitter uma convocação estudantil para às 15h, em frente à Universidade Federal do Espírito Santo. Objetivo: protestar contra o uso desmedido da violência pelo governo estadual. Agora entrava em cena não mais os “radicais”, mas aquele fenômeno típico da rede: “tamujuntomisturado”. O Batalhão foi novamente acionado. O tratamento foi ainda pior. As imagens dos policiais jogando bomba de efeito moral DENTRO da Universidade e de prisões arbitrárias geraram efeito inverso para o “governo de esquerda” do ES. Uma enxurrada de fotos, vídeos e testemunhos ao vivo do acontecimento se alastrava na internet. Mas, desta vez, a comunicação possuía um “corpo social”. Saía de cena o exibicionismo típico das redes sociais para a inflação de visibilidade da política que só a rede hoje é capaz de criar. Saía de cena o marketing pessoal dos profiles, com sua chatice de videozinho pra cá e devaneios psicologizantes pra lá, e entrava na casa da gente todo tipo de revolta compartilhada.

Mesmo reprimidos, os estudantes novamente se organizaram. E marcharam rumo a 3a Ponte (liga o município de Vitória a Velha, cobrando alto pedágio dos cidadãos para isso).Lá o confronto foi pior. E os registros que chegavam eram de assustar pela violência policial, enquanto os estudantes, pacificamente, se manifestavam. Em troca, o revide, na rede, foi a manutenção de um exército de ciberativistas que mantinha a tag #protestoemVitoria como o assunto mais tuitado no Brasil. Em poucas horas, a tag entrou para o clube seleto dos Trending Topic Wordwide. Chegava no mundo inteiro.

Na mesma noite, um novo protesto estava sendo convocado em rede para o dia 03. No final da tarde de sexta-feira, o estacionamento do Teatro da Ufes estava abarrotado de gente. Agora o movimento contava com o apoio de professores e funcionários da Ufes, e de diversos movimentos sociais da capital. Enquanto isso um excessivo contingente policial cercava toda a cidade, com sua cavalaria, viaturas, caminhões e muito munição de bala de borracha. Tudo registrado por anônimos, que, dos seus celulares, publicavam fotos e vídeos dos locais por onde os estudantes passariam, mandando alertas para os manifestantes. A passeata contabiliza cerca de 5 mil pessoas. Daí a relação de força virou. A policial foi retirada das ruas. E todo protesto ocorreu pacificamente na praça do pedágio da Terceira Ponte, onde foram liberadas as cancelas para o trânsito fluir livremente. Os rumos desse movimento político é, neste momento, indeterminado.

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O #protestoemVitória e a política do comum

O #protestoemVitoria possui uma composição social nova. É formado, de um lado, majoritariamente por uma juventude crítica da nova e da velha classe média, agora conectada em redes sociais; e, de outro, por uma classe de trabalhadores precarizados e submetidos à economia imaterial (essa em que atender bem o consumidor, gerar informação e colocar a alma no trabalho é fundamental). Desde há algum tempo, essa turma engrossa a tese de que o sistema político brasileiro está apodrecido. E que o desenvolvimento do país é limitado pela corrupção generalizada; pela transformação dos partidos em “caciquismo”; pela política clientelista de cargo e trocas de favores, amplamente internalizada na máquina de todos os partidos que administram o Estado; pelo marketing político que oblitera a franqueza, dando visualidade ao político desqualificado; ou mesmo pela impotente atuação dos setores mais reacionários da sociedade, com seus discursos e palavras de ordem do século XIX/XX (“livre mercado pra tudo” ou “estado stanilista  para todos”). Enfim, há a cada dia que passa um acúmulo de indignação por esse distanciamento da representação da fonte da própria democracia, a multidão. E isso, diariamente, a gente percebe nas redes sociais, tornadas o veículo catártico dessa multidão.

Num mundo em que a circulação é a condição da própria produtividade social, cujo valor se mede na quantidade de trabalho imaterial inscrita nas mercadorias, não é difícil prever que o “direito de ir e vir” se torna um dos campos de maior ocupação pelas novas lutas sociais (queremos um aeroporto novo ou queremos passe livre, bradamos!). E é dentro desse desejo de circulação livre (ou pela cidade, ou tendo acesso à internet), que muitos movimentos brotam. E com uma particularidade que assusta a ortodoxia liberal ou a marxista: como pode um movimento ser feito sem partidos e sindicatos?

Em grande parte, essa possibilidade deriva da própria incompreensão que esses atores possuem sobre o próprio momento histórico. Hoje o “horário depois do expediente” explica mais o trabalho do que o relógio dentro da fábrica. Esse tempo da reprodução é que demonstra que não há diferença no trabalho de um mestre de obras para o executivo da construção civil. De ambos é exigido o tempo inteiro a conexão pelo telefone celular, de ambos é exigido o tempo inteiro formação continuada, de ambos é exigido o tempo inteiro capacidade de comunicação, criação, trabalho em grupo, empreendedorismo, networking, fidelização de cliente, atendimento e técnicas de negociação, enfim, toda sorte de competências que são adquiridas mais na cidade do que no escritório. E, na prática, a diferença salarial entre eles se calculará pela herança escravagista que cada qual possui mas, sobretudo, pelo grau de acesso à comunicação social e aos serviços públicos que ambos estão imersos. É por isso que no #protestoemvitoria tem menino do Colégio Darwin e menino do Colégio Estadual juntos. Tem juntos Sol na Garganta do Futuro e MC Roleta. Porque ambos querem banda larga, ambos querem passe livre. Não para vadiar, mas para produzir.

Nesse sentido, é a “assistência social” o próprio núcleo duro por onde passa a velha relação capital/trabalho hoje. Assistência social, como sinônimo de uma política que dê acesso aos bens comuns para autovalorizar o trabalho (e com isso este ganhar autonomia perante a qualquer empregador). É a política social a dimensão mais importante de qualquer desenvolvimento econômico. Lula, queiramos ou não, comprovou isso. É só checar as novas demandas sociais: universalização da banda larga; passe livre como vetor de desenvolvimento da juventude, políticas de geração de trabalho e renda; criação de redes de produção cultural independente; telefone e luz para todos; acesso generalizado à graduação e à pós-graduação públicos (hoje os valores das faculdades privadas são exorbitantes); liberalização das drogas como combate à violência urbana; fortes políticas de desenvolvimento que articule saber local, alta tecnologia e sustentabilidade ambiental; fim dos pedágios e das cobranças pela livre circulação na cidade etc.

Vejam: o trabalho hoje demanda uma nova política democrática, que ultrapasse à ideologia da “exclusão dos excluídos”, e que note que a “exclusão” é barreira sistêmica para o novo capitalismo funcionar. Quanto mais excluídos, menor é o valor. É por isso que a população toda tem celular, mas não tem dinheiro pra pagar. É o modelo de inclusão que é o objeto de conflito. Caiam na Real!!!! Quando a política hierarquiza trabalhador em “pré-pago” e “pós-pago”, a democracia se fragiliza. E o protesto brota. Porque não adianta ter Petrobrás no Espírito Santo, se a maior parte dos “empregos inteligentes” ficará fora do Estado, reproduzindo a hierarquia de desenvolvimento nada sustentável.

Portanto, o #protestoemvitoria é um sintoma de que o sistema político, no lugar de incorporar, se fecha às novas demandas sociais. E mesmo quando quer incorporá-las, vê-se limitado pela própria matriz partidária que possui: na ponta esquerda, com o seu “incluir os excluídos”; ou, na ponta direita, com seu “trabalhar para pagar”. A luta contra a pobreza será em vão se ela não abarcar essas novas demandas sociais, tornando mais sólidas e autônomas as políticas de inclusão.É preciso agora produzir uma política para os “incluídos excluídos” e para os “excluídos excluídos”. Tudojuntomisturado.

As 100 maiores empresas globais e o uso de redes sociais

Via o perfil no SlideShare de Burson-Marsteller é divulgada os principais resultado de pesquisa detalhada sobre o uso das redes sociais com as 100 maiores empresas globais.  Novidade: a maior parte das campanhas desenvolvidas por essas empresas tem área de  comentários para o usuário. Antes as emrpesas morriam de medo de não controlar um meio como a internet, anáquico por natureza. E ainda: as empresas têm respondido aos consumidores na rede, rompendo aquele equívoco do “nada a declarar”. Segunda supresa: crescimento recorde do uso de blog.

Para todo mundo ver:  enquanto cresce no Estado o receio da “democracia do compartilhamento”, o capital, de olho lá na frente, deita e rola.

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A crítica 2.0 e a impossibilidade do pensamento único na internet

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Entrevista que concedi ao Diego Viana, repórter de Valor Econômico, o que o ajudou na produção da reportagem Crítica 2.0, divulgada hoje,  na versão impressa do jornal.

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– Os processos criativos da internet, particularmente os processos colaborativos, alteram radicalmente o sentido das noções de “objeto”, “autor” e “leitor”, que são basilares na lógica tradicional de circulação de bens culturais, em que se insere a crítica. Que espaço tem a crítica na lógica digital?

Há na internet a generalização da crítica, seja ela acadêmica ou seja a mais factual (aquela cujo principal “gênero” é a resenha). Se a crítica sempre se constituiu como o campo do “franco falar”, por tabela, vivemos um período amplo da franqueza na análise dos produtos culturais. O digital tem uma particularidade: nunca gera peça única. Se há uma iamgem que demonstra como a crítica se faz na internet é aquela que vemos quando há um fluxo intenso de respostas que ocorre numa lista de emails: << Re: Re: re: re: >>. A crítica na internet é como uma espiral infinita de respostas. Veja o filme “tropa de Elite II”. Numa pesquisa rápida no Google, há mais de 600 mil resenhas do filme, desde aquelas escritas por  grandes especialistas em cinema brasileiro até outras, por adolescentes especializados em filmes de ação. O que isso significa? Qua a franqueza se torna a cada dia que passa o elemento mais vital da crítica digital. Porque o crítico, na internet, é público também. E sabe que a crítica se faz em comunidade. Nesse sentido, a crítica na web se revela ainda mais passional, porque o leitor do blog de cinema quer mesmo é consumir o jeitão de escrever de seu blogueiro e não necessariamente a qualidade de análise estética do crítico. A internet não funciona muito como um lugar do theorós, ela é um dispositivo de Eros.

– Tem gente que atribui justamente à internet, com seus comentários de blogs e Diggs, com os retweets, com o “like” do Facebook etc., a propalada “derrocada” da crítica. Outros dizem que essa derrocada é muito anterior e obedece a preferências do mercado ou à incapacidade da própria crítica de dialogar com o leitorado, mas a internet pode ser, ao contrário, um novo sopro para a crítica. A crise existe? Onde a cultura digital se encaixa nisso?

A crítica vive o esplendor com a internet. É o seu melhor momento. A web hospeda desde a crítica acadêmica até aquela mais rasa, que beira ao comentário do “mimi”. Sem dúvida, o filtro feito por esses agentes que funcionam como editores coletivos (likes, diggs, retweets etc) é um dispositivo que faz circular um sentido geral sobre determinada obra. Uma reputação que se faz sem centro, sem editor. Isso não significa que o crítico morreu. Ao contrário, se analisarmos as críticas mais reputada na web, veremos que se saem melhor aqueles que se dedicam ao fazer crítico diário, com qualidade e ótima formações humana e especializada. Até porque o internauta sabe que, na web, há uma promiscuidade do link. Sabe que aquele grupinho que faz a comunidade de determinado blog fica sempre circulando os mesmos links, as mesmas opiniões, para fazê-las presentes no campo maior da crítica. Então o usuário se protege contra isso buscando mais referências. Quando temos buscadores, como o Google, o caos informacional é reduzido. E podemos mergulhar nos pontos de vista alternativo. Um exemplo banal. Um usuário que precisa viajar. O mercado de turismo hoje funciona, em boa parte, graças à reputação coletiva de blogueiros, youtubeiros, facebookeiros,comentaristas, que dizem, com toda franqueza, a qualidade dos hotéis, dos pacotes das agências, analisam aos serviços de determinada cidade, enfim, é a crítica que nos torna mais bem informado sobre “aquela cidade”. E se discordamos, qualificamos tudo ao contrário do que foi dito nos mesmos lugares onde tudo se apresenta como mil maravilhas. O mesmo ocorre com o cinema, a literatura, as artes visuais, enfim, com toda gama de manifestações culturais. Elas dependem da produção coletiva da crítica para ganhar mais complexidade e também para serem desmitificadas. De novo, não há pensamento único na internet. E os canônes, marcas de uma economia da escassez – do editor, da indústria que intermediava a cultura – são cada vez mais difíceis de aparecer, porque a internet revela também que a criação é recheada de links. Um escritor da nova geração, que começou fazendo um blog, por exemplo. Você entra na página dele e vê lá no seu blogroll com quem ele dialoga, o mantra que ele repete e a forma de escrever que ele reiventa. De forma que o esforço da crítica é hoje de ver mais a blogosfera que aquele escritor faz parte do que necessariamente isolar a sua escrita como algo original. Vivemos um período do coletivo como autor. É o inverso desde a invenção do livro, que, como dizia o Macluhan, inventou o público. A internet inventou o “amigo”. E toda crítica mais dura e mais relevante está em compreender como essa dimensão afetiva e subjetiva atravessa a crítica. É a amizade o motor da nova web, para além do bem e do mal. Veja um problema formidável para os estudos culturais, por exemplo: os realizadores estão dependentes da visibilidade trazida pela micromídia da rede. Através de um blog ou de um canal do Youtube, o “autor” cria a sua obra, recebendo aqueles insights fantásticos da sua comunidade, de forma que quanto mais produz, mais ele circula (mesmo que de maneira tautológica). Daí me pergunto: é possível criar num regime de fragmentação da atenção? Qualquer neurocientista vai lhe afirmar que isso é impossível. É preciso se dedicar às ideias, porque elas têm um tempo. Então o recolhimento do autor para produzir a sua linguagem é hoje um desafio, porque aquele autor-blogueiro é dependente do afago e da inteligência da comunidade que gira em torno dele. Não se trata de fãs, se trata de amigos. Então a criação se vê mergulhada nessa dependência por visibilidade em tempo real. Isso é um drama para os autores. Alguns resolvem publicando em seus blogs: “estou de férias, volto logo”. Há outros que ficam presos a essa Caverna de platão às avessas, onde se está preso às luzes e não às sombras.

– Os fluxos da publicação literária do século XX eram tais que o autor tinha um papel social, por exemplo, a do “intelectual público”, como se diz; o editor tinha uma função de modulação sobre esse intelectual público; o crítico tinha uma função de “autoridade” capaz de chancelar ou bloquear um autor, numa triangulação bastante bem definida. Esse modelo de fluxos é posto em questão quando os papéis sociais perdem a clareza, quando “o amador”, como se diz, tem um poder criativo que não tinha antes. Como se organizam os fluxos na nova realidade?

Eu não creio no aniquilamento do intelectual. O que há é uma transmutação. Por um lado, ele é jogado nas graças das relações diretas com o seu público. Sem intermediação, o intelectual precisa ser ainda mais claro sobre suas intenções e posições. O sentido de “autoridade” se faz à la algoritmos do Google: pela quantidade de links que lhe são direcionados. A autoridade paulatinamente se vê substituída pela relevância. E, neste caso, saem na frente, por enquanto, aqueles indivíduos e instituições que têm acumulado credibilidade e respeito já há algum tempo. Eles são uma espécie de ponto de partida para se legitimar algo na rede e fora dela. Mas, aos poucos, sua figura pública é inteligada a outras, criando uma espécie de clube da intelectualidade de massa, que é presente em milhões de assuntos de nichos. Há quem diga que isso seria a perda da capacidade de se constituir um público geral na sociedade ou mesmo como uma política de fragmentação, quando, na verdade, é só um diagrama de poder de novo tipo, cuja centralidade está na capacidade de se organizar em rede. Nesse sentido, a função do editor é uma função ambígua nesse novo diagrama. Porque, de um lado, tem de bandeja a curadoria da inteligência coletiva à sua disposição, fazendo com ele se defronte com um novo comportamento, que é de apostar naqueles que ganham relevância na rede. E, por outro lado, a contragosto, o editor não tem sozinho a capacidade de criar novos públicos. Isso realmente fica cada vez mais na mão do autor. Se pegarmos um autor típico da web no campo da literatura, como o Fabrício Carpinejar, o que veremos? Que ele foi formando e sendo formado pelo público através de seu blog, que agora lhe acompanha em revistas semanais e em sites independentes. Ou em livros impressos de sua editora. Não há antagonismo entre autor e editor, senão mais autonomia para o primeiro.

– Mesmo no modelo tradicional, o leitor é um crítico e o crítico é um leitor, porque o leitor tem um impulso de avaliação e o crítico, antes de avaliar, também frui do texto. Com a facilidade de discutir textos, poderíamos dizer que o impulso crítico do leitor ganha um impulso fantástico. Por outro lado, com o dilúvio de textos e imagens que a tecnologia digital oferece, há quem considere que esse impulso de criticar seja, na verdade, sufocado. Qual é o seu ponto de vista a respeito?

Há razão para apontar a internet como um pântano de imagens. Isso tem a ver com o festival de bordões repetidos na rede por milhões de pequenos fanáticos sobre os produtos de massa, que é um comportamento adesista ou mesmo uma atitude conformista perante a produtos em série. De certa forma esse fanatismo na rede pelos ídolos pop e de massa é financiado por estratégias de promoções e marketing em redes sociais e de todo um arsenal intelectual, cujo conceito de transmedia é uma das suas orientações mais simplória. E o fanatismo tem ao seu lado, muitas vezes, uma crítica jornalística e uma intelecutal  frouxa, que se omite do seu verdadeiro papel: confrontar o poder, no lugar de ser parnasiana. Mas há todo um outro movimento que busca compartilhar idéias, críticas e pontos de vista. Nesse sentido, essa visão ingênua da participação em grau máximo na internet só dissipa o fato de que há muitos conflitos ao redor da própria concepção de compartilhamento. Veja o quanto de esforço vários países e corporações fazem para impedir o compartilhamento de dados e opiniões. É uma espécie de criminalização da amizade. O leitor não é leitor na internet. É amigo ou inimigo. O que significa, de modo geral, é que não há um puro sujeito do conhecimento em terras digitais, não há isenção de vontade, alheio à dor e ao tempo, que isolado é capaz de produzir a “verdade”. Essa pretensão teorética sempre veio da cultura do isolamento trazido pelo livro, que, em certa forma, os meios eletrônicos suplantaram desde a década de 30 e que a internet se opõe de maneira radical. Nietzsche dizia que que quanto mais afetos permitirmos atravessar sobre determinada coisa, quanto mais olhos, diferentes olhos, soubermos utilizar para essa coisa, tanto mais completo será nosso “conceito” dela, nossa “objetividade”. Me parece que estamos caminhando para essa profecia.

– Uma outra função da crítica é inserir os textos em perspectivas históricas, identificar continuidades e rupturas, criar linhas diacrônicas de entendimento dos textos. Esse processo acontece no universo digital? De que maneira?

Essa função sempre foi da crítica mais acadêmica. Sempre apareceu, no campo geral da crítica, mas como algo marginal, num tempo dominado pelas resenhas factuais em jornais e semanários. Ao mesmo tempo, sabe-se que o crítico sempre evitou analisar o primeiro livro, o primeiro filme, primeiro álbum. Sempre preferiu o segundo, quando se realmente testa um autor. O que isso significa? Que a crítica sempre foi histórica. Sempre rejeitou o seu próprio tempo. Nesse sentido, a internet virou uma plataforma onde esta questão continua intacta. As críticas históricas estão na rede do mesmo jeito que estavam antes, de maneira marginal. A maior parte da produção crítica se debruça sobre o lançamentos. Porque isso que as pessoas buscam: um serviço de qualidade para não se decepcionar com algum filme, livro, game, série de Tv etc. À diferença disso, surgem os novos formadores de opinião, que são capazes de articular a novidade com os cânones, com as referências histórias, com as adesões estéticas que determinado autor se vincula. Qual é a dificuldade então? É de cartografar quem são esses críticos mais densos, porque eles são milhares. E isso não é contraditório com a sua marginalidade num mar de milhões de críticos-fãs. E há neles a característica de um fazer crítica no espaço público, algo que era considerado uma heresia, porque sempre nos foi inculcado a ideia que o saber deve ser feito de maneira isolada, porque o caos o “fragmenta o saber”. Estamos vivendo o que o filósofo francês Michel Fouault chamou de “revolta dos saberes naif”, enfim, uma profusão de liberdades de expressão que antes ficavam deveras isoladas como saberes menores da sociedade. Nunca mais existirará o grande público que tanto Dominique Wolton mistifica. Não há mais possibilidade de existir o POVO (olha o Egito e a Tunísia mostrando essa impossibilidade!). O sucesso dos mashups na internet revela, num plano micro, essa mudança no patamar das democracias. Ao lançar um videoclip, Lady Gaga faz mais sucesso pelos vídeos e aúdios recombinantes que aparecem no Youtube do que efetivamente pela qualidade estética que carrega. O que esse mashups nos comunicam? Que sempre é muito simples produzir um ídolo pop, mas também como é fácil desmontar a maneira como esse trabalho é composto. Há casos de DJs melhorarem o ritmo de determinada canção de ídolos pop, inserindo trilhas e imagens oriundas de outros artistas. Em outros casos o DJ dá até dignidade a música desses ídolos, fazendo um trabalho de recombinação de tanta qualidade que esses mesmos popstars acabam incoporando a versão do DJ como a oficial. Trocando em miúdos; a era do pop star acabou, antes mesmo da morte do Michael Jacson.

– Com isso, chegamos à questão das licenças do tipo creative commons. A noção tradicional de direito autoral fica inteiramente comprometida com as possibilidades oferecidas pela tecnologia digital e o estabelecimento de uma cultura da recomposição, recriação etc.?

O Creative Commons representa o fato de o autor está no comando. É ele que tem o poder de licenciar sua obra. Nesse sentido, isso não tem nada de diferente com o espírito da lei dos direitos autorais. O que há de diferente é que ao estimular o papel mais político do autor, as licença CC carregam um outro espírito: de acabar de vez com a cultura da permissão que ainda vigora no campo da produção da cultura. Por isso que se diz “cultura livre”. Hoje a tecnologia permite isolar o som do Caetano velozo em frações de milésimos de segundo, de maneira que é impossível se  saber a fonte original (provavelmente o próprio Caetano deve utilizar desse saber tecnológico em sua banda ou gravadora). Então para que lutar contra isso? é melhor criar um amplo campo de direitos e deveres que estimulem práticas de recombinação ao mesmo tempo que se garanta que um mercado mais diversificado e sustentável seja construído. Aqueles que compartilham o espírito Creative Commons colaboram com a concepção de que a obra precisa circular para o autor ganhar mais reconhecimento e trabalho. Vivemos no momento de transformação da idéia do que seja autor. Alguns artistas digitais já dizem que o verdadeiro autor é a rede. Duvido que algum criador, antes de iniciar um trabalho, não vá pedir ajuda ao Google. As recentes polêmicas entre Creative Commons e Ministério da Cultura, que deixa de licenciar seus conteúdos sob CC, demonstra como o governo Dilma recua nesse campo, vira a cabeça para o século XX, enquanto a Apple monta todas as suas estrategias econômicas em torno da cultura do compartilhamento. Só sabe usar Iphone quem sabe compartilhar dados e informações. à diferença da Apple para o Creative Commons é que o modelo jurídico do primeiro funciona sob licenças proprietárias rígidas, que tudo quer sobretaxar ou mesmo capturar.

Redes sociais e educação

Corre rápido na rede esse link como favorito de quem trabalha com redes sociais. Trata-se da revista Monográfico, com número dedicado a Redes Sociais e Educação. Cada vez mais presente entre os alunos, cabe hoje aos educadores criarem estratégias pedagógicas que agreguem as redes sociais no universo escolar. Em um dos artigos, o  Juan José de Haro responde a pergunta sobre a tese de que as redes sociais roubam a atenção do alunado:

Una encuesta realizada recientemente por el periódico ARA a sus lectores ha mostrado que el 80% de los participantes considera que es necesario bloquear Facebook y otras redes en los ordenadores portátiles del alumnado, porque “distraen”. ¿Cree que es justa esta percepción?

Soy de la opinión que es preferible educar a prohibir. La prohibición no educa ni soluciona problemas ya que las conductas negativas se reproducirán cuando no esté presente la prohibición, por ejemplo, cuando estén en casa estudiando, los fines de semana o durante las vacaciones. Además, se está perdiendo una herramienta educativa de indudable valor. Facebook, por ejemplo, no puede ser usado por menores de 13 años, en esos casos es indudable que la prohibición es aconsejable para las edades en las que no se puede utilizar, pero no así para los mayores que, como ejemplo tomado al azar, pueden usarlo para entrar en contacto con especialistas en las materias que están estudiando.

Biopoder e a fábrica social

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O que a ciência nos entrega é uma grande sabotagem social.
(Antonio Negri)
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Antonio Negri insiste em demonstrar que a conceituação sobre biopolítica é ambígua. É, de um lado, a vida como objeto de governo; mas, de outro, a vida que não se oferece plenamente como dominada, abrigando toda a generalização da resistência. Isso – a ambiguidade – não se revela como dual, mas interior às próprias dinâmicas da vida subsumida ao poder: “toda dominação é sempre também uma resistência”, cutuca Negri em La fabrica de porcelana, p.46). Temos aí toda a filosofia política do antagonismo muito presente na obra do italiano. Só para reforçar: antagonismo negriano não tem pretensão de criar sínteses dialéticas. Só há derrotas e vitórias.

Em Negri, a análise da biopolítica é desenvolvida no marco da subsunção real do trabalho no capital, o que significaria dizer que não há mais tempo da vida, um tempo fora da relações de produção capitalística, porque “o tempo de trabalho inundou o tempo da vida”. De forma que toda nossa linguagem, nossa corporeidade, nossa comunidade, enfim, tudo aquilo que antes se dizia como campo da reprodução é  o locus preferencial da mercantilização e da captura dos capitais. A vida toda é mercantilizada, não importa sem em bytes ou se em átomos.

Não é dificil evidenciar que o  terreno da reprodução é hoje um locus produtivo de valor.  É só se debruçar sobre o conflito entre grandes corporações tecnológicas (Google, Facebook, Apple etc) para testemunhar como boa parte delas se dedica a fabricar máquinas imersivas por onde a vida passa e se fixa nos termos e códigos de uso de suas plataformas 2.0. Máquinas que hospedam a vida na forma de “status”, curtições, “atualizações”, “preferências”, “posts”, fotos, recados, testemunhos, enfim, modos de vida que estão cada vez mais dentro da dinâmica desse poder revitalizado do capitalismo 2.0 (veja toda a polêmica sobre a apropriação de dados privados então saqueados por agentes instalados nos ambientes do Facebook, Google,Twitter etc).

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Mídias sociais e sua vida profissional

Entrevista que concedi a Gabriely Sant´anna e Juliana Rodrigues, para publicação interna do Banestes.

O que a entrada em uma mídia social pode agregar na minha vida profissional? Existem alguns conselhos para aproveitar essa participação ao máximo?
A entrada no mundo das midias sociais significa, primeiro, a possibilidade de criar um networking. Mas exige, para isso, que o indivíduo se paute na construção de uma boa reputação online, o que significa que nao precisa ser um garoto comportado, mas crítico. O conselho maior é atuar em correntes de opinião e ser gerador de conteúdos relevantes.

Quais as principais gafes cometidas na rede? Como evitá-las?
Brigas online, apesar de todo mundo já ter entrado em alguma, é gafe na certa. A maneira de evitar uma gafe é tomar um ansiolítico, rs. Brincadeiras à parte, o bom é tentar manter a ansiedade de querer clicar, replicar e dar reply para qualquer coisa.

Um contato profissional me chamou para ser amigo no Facebook ou está me seguindo no twitter. É indelicado recusar?
Não é indelicado. Em redes menos imersivas, como o Twitter, a opção de não ser seguidor do contato profissional é melhor aceita, à medida que o Twitter funciona pela lógica do interesse temático. Jà em redes como Facebook, a situacao é mais delicada, sobretudo,  porque suas mensagens podem ser lidas, indiretamente, por aqueles que são amigos de seus amigos. Todo mundo que entra em redes de relacionamento sabe que será vigiado por pessoas que não curte muito. Então nesses lugares é melhor adicionar o amigo chato. E se pautar sempre por ser transparente. Sem muitos exibicionismos.

Devo fazer algo se eu souber que um colega está fazendo comentários inapropriados nas mídias sociais, não necessariamente relacionados à nossa atividade?
Se é algo que lhe difame, tens todo o aparato jurídico para recorrer.

Quase todas as pessoas que eu conheço estão em mídias sociais. Devo ingressar também ou serei excluído?
Será excluído. Ingresse. Mas, se for para entrar e não participar, a exclusão será ainda maior. Mídias sociais podem revelar aos outros talentos teus que poucos notam.

É errado twitar enquanto estiver participando de uma reunião ou solenidade, mesmo que o assunto seja relacionado ao evento?
Não. Tenha como ética o interesse público daquela atividade. Se for algo que diz respeito a meia dúzia de gente, é melhor ficar invisível, como no gmail. :)

Se pudessemos reduzir a netiqueta em apenas um tweet (texto em até 140 caracteres), qual seria?
Quanto maior o interesse público, maior sua responsabilidade na hora de divulgar as informações. Mas sem achar que vc é a notícia.

1.O que a entrada em uma mídia social pode agregar na minha vida profissional? Existem alguns conselhos para aproveitar essa participação ao máximo?

A entrada no mundo das midias sociais significa, primeiro, a possibilidade de criar um networking. Mas exige, para isso, que o indivíduo se paute na construção de uma boa reputação online, o que significa que nao precisa ser um garoto comportado, mas crítico. O conselhoo maior é atuar em correntes de opinião e ser gerador de conteúdos relevantes.

2. Quais as principais gafes cometidas na rede? Como evitá-las?

Brigas online, apesar de todo mundo já ter entrado em alguma, é gafe na certa. A maneira de evitar uma gafe é tomar um ansiolítico, rs. Brincadeiras à parte, o bom é tentar manter a ansiedade de querer clicar, replicar e dar reply para qualquer coisa.

3. Um contato profissional me chamou para ser amigo no Facebook ou está me seguindo no twitter. É indelicado recusar?

Não é indelicado. Em redes menos imersivas, como o Twitter, a opção de não ser seguidor do contato profissional é melhor aceita, à medixa que o Twitter funciona pela lógica do interesse temático. Jà em redes como Facebook, a situacao é mais delicada, sobretudo,  porque suas mensagens podem ser lidas, indiretamente, por aqueles que são amigos de seus amigos. Todo mundo que entra em redes de relacionamento sabe que será vigiado por pessoas que não curtem muito. Então nesses lugares é melhor adicionar o amigo chato. E se pautar sempre por ser transparente. Sem muitos exibicionismos.

4. Devo fazer algo se eu souber que um colega está fazendo comentários inapropriados nas mídias sociais, não necessariamente relacionados à nossa atividade?

Se é algo que lhe difame, tens todo o aparato jurídico para recorrer.

5. Quase todas as pessoas que eu conheço estão em mídias sociais. Devo ingressar também ou serei excluído?
Será excluído. Ingresse. Mas, se for para entrar e não participar, a exclusão serà ainda maior. Mídias sociais podem revelar aos outros talentos teus que poucos notam.

6. É errado twitar enquanto estiver participando de uma reunião ou solenidade, mesmo que o assunto seja relacionado ao evento?
Não. Tenha como ética o interesse público daquela atividade. Se for algo que di respeito a meia dúzia de gente, é melhor ficar invisível, como no gmail. :)

7. Se pudessemos reduzir a netiqueta em apenas um tweet (texto em até 140 caracteres), qual seria?

Quanto maior o interesse público, maior sua responsabilidade de divulgar as informações. Mas sem achar que vc é a notícia.

Quora, sua rede responde

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Depois do buzz do Formspring, entra em cena o Quora, nova rede social de perguntas e respostas na internet. É tudo muito simples. Você se loga com a sua conta do Facebook ou do Twitter. Segue e é seguido. E posta respostas e perguntas. E, assim, você aproveita o conhecimento gerado pela  inteligência coletiva da rede. E, é claro, doa o seu conhecimento também. É uma espécie de Yahoo Respostas 2.0. Uma das grandes vantagens do Quora é o baixo índice de anonimato, por você se logar através de sua conta do Twitter ou do Facebook.

Por enquanto, só entra na rede quem tem convite.

No mais, o Quora é mais uma das ferramentas que alimentam o que chamo de economia da identidade online, que se realiza através de empreendimento baseados na criação de novos ambientes comunicativos cujo DNA é o “perfil de redes sociais”, sobretudo, os do Twitter e do Facebook, duas plataformas que facilitam inovações por terem suas API’s abertas à colaboração do usuário.

A narrativa nas redes sociais da internet

Artigo publicado no livro Princípios inconstantes, editado pelo Itaú Cultural, e depois ampliado para publicação na Revista Lugar Comum.

Fábio Malini
(o artigo abaixo é apenas uma parte do texto original )

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1994. Após um ano em que Tim Berners-Lee apresenta ao mundo o seu projeto World Wide Web, a internet começava a mudar. Até então ela havia se tornado numa espécie de rede intergaláctica de cientistas, nerds e de usuários que se divertiam através das bulletin board system (bbs), comunidades virtuais onde se liam mensagens – sob um fundo preto chapado – sobre diferentes temas, de acordo com o gosto do freguês. Tudo era feio e simples. Porém, muito divertido. As bbs podiam ser criada por quaisquer um que se arriscasse a pegar a sua poupança, comprar uma linha telefônica, um computador Pentium 386, baixar o software spitfire, ficar dias lendo tutoriais, para até chegar o grande momento em que criava online o seu “clube bbs”. Para se conectar a ele, cada sócio pagava uma graninha, que geralmente era revertida na compra de equipamentos para tornar ainda melhor a performance da rede. Nessa internet de raiz, todo mundo podia ser, em tese, uma UOL, um Terra, uma AOL.

Contudo, as bbs se foram. E, com a popularização da web, em 1994, logo surgiu o site. Agora era mais atraente ficar num chat animado – e com design em cores – do que ficar naquela tela preta do DOS, com sua chata interação através de comandos de teclado. E foi em 1994 que um caboclo chamado Justin Hall, estudante de jornalismo em São Francisco e estagiário da revista Wired, decidiu publicar em seu site,  Justin´s Link, relatos da sua vida cotidiana. Escrevia coisas como o suicídio do pai até às suas aventuras amorosas através desse log (diário) virtual. Hall criava a partir dali um dispositivo de escape para uma solidão típica daquele ano recheado a Guerra da Bósnia, eleições na África do Sul e genocídio em Ruanda. Mais. Ele criava uma forma de constituir uma presença online, estabelecendo relações entre aqueles que compartilhavam e consumiam vida através, agora, da web. Porque a web, diferente das bbs e sua noção de clube, onde entra quem pode e quem curte “aquele” tema, é um ambiente totalmente aberto, totalmente público.

blog: onde tudo começou

Essa publicização da intimidade revelava um caminho catártico de constituição de si. O site de Justin trazia vida real a ele, mesmo que, na aparência, fosse ele que levasse a sua vida real aos outros.  Foi imediato o aparecimento de toda uma comunidade virtual em torno dos seus relatos. Era aquele devir bbs, de compartilhamento de ideias, de interação mútua e de participação, que se afirmava agora numa cultura nova, baseada no mito da transparência total. Justin Hall tornava-se ali o pai fundador do diário virtual.

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O viral e o orkut nas eleições 2010

No Brasil, pelo o que estou pesquisando, as eleições serão marcadas pelo viral. Nada de Orkut, nada de Facebook, nada de Twitter. O que vai bombar e decidir o voto será, em primeiro lugar, o viral. Junto dele as estratégias de marketing de guerrilha. O viral trará toda a cultura do humor nacional, que é o que manda na internet no Brasil – só ver os milhares de virais já assistidos no país, do “funk de não sei quem” aos personagens bizarros que se tornam célebres no youtube.

O viral tem um componente complicado: o anonimato (como todo mundo sabe, o anonimato sacode a internet, mas é visto por muito como algo covarde). Mas faz parte de sua cultura. O anonimato pode gerar um duplo movimento, o de trolagens e boatarias; ou de adesão colorida, por outro. A trolagem (espalhamento de comportamentos fraticidas, facistas, de má educação) pode fazer forte o candidato que é detonado pelo boato, pois que o vitimiza, tornando-se, portanto, injustiçado e objeto de má fé. Mas o efeito pior é do candidato que o troll busca defender, que, rapidamente,  acusado de estimular a boataria, passa a impressão que é um cara sem ética. Candidato bom age rápido quando é trolado: cria um blog somente para responder a rumores. E leva a melhor. Continue reading