Alberto Cairo organiza, em seu site, um index de infografias pelo mundo do jornalismo afora.
Tag Archives: Jornalismo
blogueiro não é jornalista, segundo Imprensa
Está lá na revista Imprensa uma boa matéria sobre blogs e jornalismo:
“Blogueiros e jornalistas são coisas tão diferentes que nem deviam ser discutidas”, afirma Bruna Calheiros, principal figura por trás do blog Smelly Cat, dedicado a curtas e longa-metragens em animação. Apesar da assertividade da blogueira quanto à separação de universos e de sua formação em publicidade, sua página tem abordagem bastante informativa e é constantemente atualizada com as últimas novidades do gênero. Publicou diversos posts sobre o festival AnimaMundi, por exemplo, sem nada dever aos críticos mais tradicionais do setor. Bruna garante que não segue regras e nem pretende fazê-lo: “tenho meu tom, minha maneira e coloco minha personalidade nos textos”. Mas ela pertence a um grupo de blogueiros que se propõem a tratar de certos assuntos tão bem quanto o faria um jornalista treinado para isso, quando não melhor.
o jornal como um blog, o Figaro
O Figaro acaba de se tornar o jornal francês online mais lido, desbancando o Le Monde. O motivo, segundo o jornal, é adoção de vários serviços de informação, como blogs, minisites de cobertura local, publicações temáticas (feminino, de finanças, guias de lazer, etc) que atraiu um novo tipo de audiência para dentro do jornal. A audiência do periódico pulou para 4 milhões de visitas diárias, contra 3,5 do principal concorrente.
A curiosidade é no design do jornal, que radicaliza ao adotar um formato blog. Há outras três interessantes características do Figaro:
- todas as matérias possuem comentários.
- as matérias são dispostas em cronologia inversa, reforçando a lógica breaking news e se afastando da tradicional lógica da capa (com matérias distribuídas por ordem de importância). Nesse formato blogueiro, tudo é notícia, embora é “mais notícia” aquele fato mais fresco.
- Tudo na home. Não tem muita novidade dentro do jornal.
Via 233grados
Mediaon, vídeos
O Portal Terra disponibilizou todos os vídeos do MediaOn 2008.
Nesta edição, o foco foi no debate sobre a relação entre jornalismo, redes sociais e política. Minha intervenção foi sobre “o novo jornalista e a cobertura eleitoral”.
Muito legal foi conhecer o Granado, o Dória, o Markun e tanta gente boa que tem trabalhado com jornalismo e blogs, ao mesmo tempo.
Youtube e o jornalismo participativo
E o Youtube entra na onda e adere ao jornalismo participativo, ao lançar o Citizen News’s Channel, canal de vídeos noticiosos e informativos produzidos pelos seus usuários.O canal possui um manager, na verdade, umA, que possui o papel de publicar os melhores conteúdos noticiosos do site.
jornalismo online e o mito do texto pequeno
Ao contrário do que apregoa muitos manuais, quem acompanha diariamente o desenvolvimento do jornalismo online, já verifica que o jornalismo online já deixou de ser, há um bom tempo, sinônimo de “texto curto”. A minha hipótese é a seguinte: o texto online é do tamanho que comporta a história do fato. Tudo isso graças a memória é ilimitada no online, só existente no jornalismo online (como nos ensina o Marcos Palácios).
E pelo que se vê, o online tem optado por histórias longas nas suas principais informações de capa. Hoje li a notícia de capa do Globo Online, Mãe de Isabela acha que a filha foi mora por ciúmes dela. A opção do jornal carioca é verticalizar bem o texto, sem se preocupar com a quantidade de scrolls. A história é longa e muito hipertextualizada, porque o fato é de grande repercussão e tem já muita informação. Mas se fosse um fato ainda com “pouca história”, mas bem apurado, o texto seria mais curto.
Vou continuar a desenvolver essa hipótese nos próximos posts.
uma nova ecologia midiática
Para quem curte o debate sobre a reestruturação midiática contemporânea, vale à pena uma reflexão sobre esse diagrama abaixo (construído por John Hiler), que mostra o forte hibridismo (ou simbiose, como é afirmado) entre a atividade jornalística e a interatividade com o leitor/usuário. A tese é conhecida: as redes sociais e os blogs alargariam o campo jornalístico, difundido e debatendo as histórias que circulam no mainstream midiático.
Contudo, há também um trabalho autônomo de jornalismo: reportagens testemunhais, checagem de informações divulgadas pela imprensa e análises em geral.
Mas o importante é a simbiose mostrado no diagrama. No centro, os jornalistas de diferentes veículos. Estes continuam atuando de forma clássica: cultivar fontes, que lhe oferecem informações e histórias. Na base, novos ecossistemas de comunicação, marcados por veículos impulsores de idéias e notícias. Esses canais são, na verdade, novos circuitos de difusão, como comunidades de conversação e relacionamento (orkut, facebook, msn etc), sites de notícias colaborativas, mídias pessoais (como blogs) e redes sociais de trocas p2p (bittorrent, youtube etc).
Essas informações, processadas por jornalistas, acabam retornando para o público na forma de histórias. Essa retroalimentação contínua constitui a própria base do ecossistema da mídia online.
especial sobre guerra do iraque no USA Today
Continuo colecionando especiais jornalísticos que usam tecnologia em Flash. Esse especial: agora sobre a guerra do iraque e as baixas americanas, produzido pelo USA Today.
jornalismo e blogs
Especial legal sobre blogueiros e jornalistas. É produzido pelo blog Digestivo Cultural:
Jovens blogueiros, envelheçam, por Rafael Rodrigues
Blogueiros versus jornalistas?, por Lisandro Gaertner
Jornalismo em tempos instáveis, por Luiz Rebinski Junior
Jornalismo de todos para todos, Gabriela Vargas
Blog precisa ser jornalismo?, Rafael Fernandes
Jornalistossaurus x Monkey bloggers, por Diogo Salles
Papel, tinta, bluetooth e wireless, por Tati de Roterdã
Por que o jornalismo político de A Gazeta se envereda pelo denuncismo tautológico?
Não aguentei. Li a matéria de capa, da edição de domingo de A Gazeta (é o jornal local do ES), e não resisti. Escrevo esse post sobre o despreparo do jornalista na ânsia de denunciar algo, além de falta de conhecimento sobre a história política brasileira. Decidi agora não mais usar a nomenclatura imprensa, e citar quem publica nela. É preciso dar nomes aos bois, caso contrário, vira política corporativa de defesa do jornalista e condenação do jornal.
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Por que o jornalismo político de A Gazeta se envereda pelo denuncismo tautológico?
Felipe Quintino e Letícia Cardoso – e o seu editores – ecoam a pauta tucana que diz que a esquerda é ineficiente no gasto público, colocando na conta desta a genalogia do patrimonialismo brasileiro. É A Gazeta que perde cada vez mais a força investigativa que deu tão certo na Coberttura Gratz, e adota a linha do jornalismo denuncista tautológico.
Fábio Malini
Doutor em Comunicação e Cultura
Professor de Comunicação Social da UFES
Blogueiro (http://www.fabiomalini.wordpress.com)
É escandalosa, com toques de provincianismo coronelista, a matéria de capa da edição de domingo de A Gazeta, com título hiperbólico: “Prefeituras têm 2,4 mil cargos de indicação política”. Ela foi escrita por Felipe Quintino e Letícia Cardoso. E possui tanta opinião travestida de pluralismo jornalístico que merece uma desconstrução política urgente, para que a sociedade não caía no sentido único que a matéria carrega. É ótimo exemplo de como o jornalismo político totalmente despreparado e ingênuo – mas de boa intenção – nos coloca no inferno da chamada “crise contemporânea do jornalismo”. Tradução: crise de credibilidade, confusão entre informação e opinião, denuncismo à caça de títulos e prêmios, e reforço mítico do jornalista como grande portador ético da sociedade.
A “matéria dos jornalistas” é pauta gerada pelo DEM e pelo PSDB em nível nacional: o PT e seus aliados não saberiam administrar bem, porque são vorazes na criação de cargos comissionados, inchando o Estado (lembram do Estado Mínimo?) e produzindo desperdício do gasto público (olha, vejam, não há problemas governar sem a CPMF, o PT é um gastador!). Não nos enganemos, a matéria é discurso eleitoral. É uma febre amarela e azul que a “matéria dos jornalistas” não consegue esconder, desde as eleições de 2006, quando a imprensa insistia numa cobertura política que forçava a associação do governo Lula – e mais claramente o PT – à causa de todos os males e corrupção da nossa tradição política. Perderam feio para as urnas. Agora a nova onda é, no contexto de derrota do governo – o fim da CPMF – , associar Lula e o PT às bases genealógicas do casuísmo e do patrimonialismo na política brasileira.
os equívocos, antes de tudo, político
Na “matéria dos jornalistas”, as “Prefeituras do ES” são somente quatro. Todas elas aliadas do governo Lula (duas do PT, a capital, inclusive). Mas o jogo é muito sutil. A pauta foi estruturada a cobrir as “quatro maiores” da Grande Vitória para diretamente atingir ao governo de João Coser. A falha mais escandalosa se dá na omissão do histórico do número de cargos comissionados das Administrações anteriores de Vitória. Não poderia os jornalistas solicitar o quantitativo dos cargos comissionados nas últimas três gestões tucanas da Capital? Sem isso, tudo parece que tais cargos (seriam um excesso?) surgiram na gestão de Coser.
Nenhum dos dois jornalistas achincalhou o ex-prefeito de Vitória, o atual deputado Luiz Paulo Velozo Lucas, por ter nomeado em sua gestão dezenas de prefeitinhos e seus vice-prefeitinhos. Ao contrário, na época, a isso se denominava “choque de gestão” e “cidade planejada”. Nenhum dos dois jornalistas se lembrou que foi o governo de Vitor Buaiz que realizou um conjunto inovador de reformas no aparelho do Estado da PMV. Duas muito sérias: a administrativa e a previdenciária, que acabaram profissionalizando a máquina pública da Capital, apesar de o prefeito petista quase sofrer impedimento do seu mandato, numa campanha liderada pela raça política mais conservadora e corporativista da época, contrária a tais reformas.
Jornalismo sem história é “des-jornalismo”. É discurso autoritário. É aquilo que o “manual da redação” ensina e a gente só percebe depois: pluralizar as fontes para fortalecer um único discurso, que fica escamoteado para o leitor mais leigo. Mas leitor não é burro, não!
A “matéria dos jornalistas” ainda patina ao estigmatizar os “comissionados” (e seus salários, como se funcionalismo público devesse ganhar mal). A idéia se sustenta no preconceito de que aqueles que não passam por concurso público são geralmente desqualificados para a atuação na gestão das políticas públicas. Antes de tudo, isso é moralismo. O problema não é a indicação política de quem comanda os governos. O problema é explicar por que existe a indicação política para cargos de natureza técnica, como jornalista, engenheiro, pedagogo etc. O problema então é da natureza da democracia representativa atual. Cargo comissionado aos montes tem em TODOS os governos, não é atributo das esquerdas. A questão é que a classe política – toda ela – usa os cargos como moeda para troca de favores, fazendo corromper o próprio poder que o voto da população lhe deu. E isso ocorre não porque “falta ética” e transparência aos políticos, mas porque a base da democracia representativa – da política – no Brasil é estabelecida pela lógica que todo eleito torna-se proprietário da máquina estatal (não se fala de uso da máquina pública em épocas de eleição? Então). O governo é feito de cargos. E quem rateia cargos governa. Isso é a corrupção. O governo estadual é assim, o municipal e o federal, idem.
O dilema é então solucionar esse impasse, que a própria imprensa sustenta, quando acusa os políticos (principalmente, os das esquerdas) de incharem o Estado porque estão contratando muito gente via concursos públicos. Veja a esquizofrenia bipolar: a imprensa é contra os cargos comissionados, mas também é contra o aumento dos concursos públicos (dizem que são eleioreiros). Falta então um debate mais qualificado na imprensa. Na “matéria dos jornalistas”, há confusão numérica, visto que nem todos os comissionados são indicados, muitos são eleitos (o caso de diretores de escola, em determinadas prefeituras, como é o caso de Vitória). E isso, ao contrário do que quer a matéria, pode ser uma das soluções para “a indicação”: ampliar a democratização no processo de escolha das chefias, através da decisão, pelo voto, feita pelos pares.
Mas, visto do ângulo de quem é comissionado, há ainda uma outra situação, não tematizada na reportagem: muitos comissionados reclamam que trabalham mais do que os concursados, pois que estes fazem política corporativista de defesa de privilégios, ao invés de trabalhar. Quem não se lembra das matérias de A Gazeta que mostravam os médicos – concursados – que batiam o ponto no hospital e, em seguida, iam embora para seus consultórios particulares, e deixavam, com os comissionados o trabalho do dia? E o pior que essa situação continua até hoje. Um caso típico de outra tradição política brasileira: o funcionalismo público tornou-se hoje uma máquina de produção corporativa, sem critérios de produtividade, sem metas de atuação claras e, no caso da maior parte das prefeituras, com baixíssima qualificação técnico-profissional, algo que geralmente é salvo pelos comissionados.
Para completar a equação complicada, a democracia pede que uma forma de governo eleita “institua o seu tempo”. Daí se precisa garantir que o voto se desdobre numa filosofia de governo, que vai se desdobrar numa política de governo. Então, todos os técnicos – concursados ou não – devem assumir a natureza política desse governo. Assim, esse dualismo técnico versus político é moralista e cínico (o próprio PT insiste em sustentar esse moralismo). Ser neutro (“sou técnico”, em oposição ao “sou político”) já se trata de uma atitude não-neutra, por ser uma tomada de posição. Não há oposição entre a técnica e a política. Não sei quem inventou isso. Elas são a mesma coisa. O problema é instituir o justo no interior da prática da técnica política, e não afirmar que o técnico (per si, assim de maneira transcendental) é que o justo. O correto é, ao contrário, que nos assumamos políticos, e, dentro disso, contermos um conjunto de técnicas e competências que conduzam a uma prática justa de governo.
A qualidade então não reside no fato de ser técnico, mas da atuação política da técnica. E aí que entra mais dois outros problemas: muitos funcionários concursados não querem ser políticos (só técnicos), e acabam por se omitir da sua responsabilidade pública – entrando num a letargia niilista. E, por um outro lado, cresce o abandono social da política, o que tem levado à diminuição dos profissionais dos quadros partidários capacitados para a atuação técnico-política que a agenda pública, tão complexa hoje, demanda. Faltam quadros! dizem os dirigentes dos partidos. Daí que, com certeza, numa investigação mais apurada por A Gazeta se descobriria que muitos comissionados não possuem ligações com nenhum partido político ou que são gente sem nenhuma competência política, algo que reforça o crescimento do personalismo na política brasileira, mas também da criação de um conjunto de profissionais oportunistas, sem muito compromisso com o público. Mas essa turma deveria ser ouvida, mas, ao contrário, foram alijados. Jogou-se a criança fora junto com a água suja da banheira.
Por fim, é lamentável a última parte da matéria, titulada como “Governo Lula tem mais de 20 mil comissionados”. Depois de todos os argumentos que arrolei, fica claro que a matéria é eleitoral e pende para a oposição tucano-direitista. Como seria bom que os jornalistas tivessem a coragem (e os editores a sagacidade) de mostrar o quantitativo de cargo comissionado do governo estadual, comparando com outros governos em termos relativos e percentuais. Por que essa omissão? O que tem aí por trás? Mas também ter isso não serviria para nada, visto que o problema não são os números. Mas os motivos que os fazem existir. Não se trata de Lula, Hartung ou Coser a raiz do problema. Não vou repetir a ladainha que já escrevi.
É preciso que o jornalismo político capixaba se qualifique um pouco mais. A matéria, que visava denunciar o escândalo das indicações, acabou por denunciar a si próprio, como um exemplo de denuncismo tautológico.