Cresceu muito, em uma semana, o número de eventos, grupos e páginas criados pelas ruas da esquerda para “defender a democracia”, para dizer “não vai ter golpe” ou ser “contra o golpe”. A cada dia é preciso atualizar os números. Em 19/03, eram 64. Hoje, 27/03, já são 793. São canais no Face criados muito recentemente, praticamente nas últimas duas semanas.
Numa rápida análise, percebi que são segmentos artísticos, universitários e movimentos sociais organizados que mais se destacaram na criação e alimentação desses “canais vermelhos”. A elevada participação desses segmentos é importante para demarcar a diferença entre as ruas da esquerda das da direita. A “tropa de choque” cultural fez amplificar notícias e mobilizações sobre a “deposição constitucional” da presidente Dilma, o chamado golpe paraguaio, agora conduzido por Eduardo Cunha, na Câmara. Fez ainda fomentar um debate dentro do campo das esquerdas (mas é golpe mesmo? não será melhor convocar novas eleições?) e bloqueou a ofensiva dos perfis de direita na rede, que agora acedem a uma perspectiva defensiva, baseada na ideia tautológica do “impeachment está previsto na constituição”. E miram o jogo jogado na Câmara, através de trolagens aos deputados que votarão na Comissão do Impeachemnt.
Não estão presentes na minha coleção de dados a rede de páginas noticiosas do #naovaitergolpe, ou seja, Jornalistas LIvres, Cafezinho, Ninja e tantas outras. Percebi que começa aparecer eventos contra o “golpe” mais ligados à Igreja Católica. E, apesar da diversidade desses eventos (atos, debates, principalmente), o movimento #NãoVaiTerGolpe ainda não conseguiu construir o que eu e Toret chamamos de “rede de coletivos desencadeadores” no território nacional. Ou seja, Não há, por exemplo, um “Não Vai Ter Golpe SP”, um “Não Vai Ter Golpe RJ”, um “Não Vai ter golpe ES”, como aconteceu com o #NaoVaiTerCopa no Facebook. A estruturação territorial de uma rede de coletivos no Facebook aparece mais nas ruas da direita (em especial, no MBL), embora as páginas da Frente Brasil Popular (com fins governistas) busquem construir essa regionalidade. Na falta disso, de modo emergente, e em cada estado da federação, os hubs das manifestações do dia 31 de março vão aparecendo de modo espontâneo em eventos, grupos e páginas o Face.
Outra pequena nota: No dia 19/03, a página de destaque em volume de interação era http://facebook.com/909827309124576. Já na última semana, http://www.facebook.com/735288736605613. Isso evidencia que há um público que está dispostos a republicar narrativas das ruas de esquerda e não apenas confirmar “participação” em eventos no Facebook. Ou seja, aumentou a tropa de slackativistas, aqueles que não vão aos atos, mas compartilha notícias deles nas redes sociais. Sigo acompanhando os fatos, apontando que as manifestações do dia 31 de março continuam aquecidas.
Os dois grafos representam dois períodos. O primeiro, Do dia 12 a 19 de março, quando eclodem as manifestações das ruas da esquerda, no dia 18/3. Nota-se um número pequeno de eventos, páginas e grupos sobre eles: 64, com a participação ativa de 20521 usuários.
Já o segundo grafo representa o periodo de 19 a 27/3, quando há uma explosão interativa no Facebook – uma expansão no número de canais, de 64 a 793 (esse dado precisa ser sempre atualizado), e de participantes ativos na rede, de 20.521 para 91.114 usuários.
Vocês notaram que os rótulos dos nós são números. Sim, é o ID da página no Facebook. Fiz isso porque, se deixasse o nome das páginas, bagunçaria o grafo todo, pois há canais que possuem nomes enormes. Para ser mais transparente, publico abaixo a lista dos canais mineirados conjuntamente. Decidi coletar os likes (que representam as linhas do grafo) dados usuários (nós) aos posts dessas páginas/eventos/grupos (também nós). Para descobrir qual página representa qual número, é só digitar facebook.com/ID. Caso queira identificá-la na minha lista, é só checar mais abaixo.
Peço desculpas antecipadamente se uma dessas páginas não estiver associada aos protestos da esquerda. Tive apenas 1 hora para fazer a limpeza do dataset.
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