Já é mais do que sabido que os conteúdos que circulam nas redes sociais influenciam nossas decisões. Na hora do voto não é diferente. A política tem se transformado depois que as pessoas começaram a utilizar seu tempo livre para opinar no espaço público virtual. Assim, a rede não apenas se firma como plataforma de mobilização social, como ainda se torna o lugar da própria produção da política.Os Slides, feitos no Prezi por Natalia Albañil, acabam por tematizar essas transformações.
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Governo 2.0 não significa marketing nas redes sociais
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Márcia Rodrigues, da Revista Capital Público, me telefonou, mandou as questões por email e saíram essas respostas abaixo sobre o tema do governo eletrõnico & web 2.0. Não sou especialista em “governo”, mas dei meus pitacos. Uma forte referência para eu responder isso tudo aí embaixo foi o post Gov 2.0: It’s All About The Platform, que resume as ideias de Tim O´Reilly sobre o governo eletrônico 2.0. Uma dica adicional para quem curte o tema é seguir o RSS da tag gov2.0 no Delicious.
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Os governos no Brasil (federal, estaduais, municipais) já têm uma razoável presença na web. Porém, pouca expressão na web 2.0. Quais o senhor acredita que sejam as maiores limitações para uma presença pública mais efetiva nas redes: técnicas?
O governo eletrônico no Brasil é ainda restrito à concepção unilateral da comunicação online. Ainda sobrevive a concepção do acesso ao usuário, que se traduz em plataformas onde só o governo comunica. Nos idos dos anos 90, de fato, era vital os governos disporem aos cidadãos de toda gama de serviços para os indivíduos usarem. E isso ainda de forma top-down. Contudo, depois da virada participativa da web, o cidadão quer governar junto. E para proporcionar essa união de maneira completa, a maior limitação dos governo é, primeiro, de cunho ideológica: romper com a visão autoritária de quem tem poder é somente quem governa. Segundo, pensar a comunicação para além do caminho das mídias de massa. Boa parte da dificuldade técnica dos assessores de comunicação tem a ver com o fato de hoje secretários ou técnicos de governo usarem o Twitter sem o “consentimento” da equipe de comunicação. Os assessores não sabem muito bem como funciona uma rede social, porque foi martelado neles que seu principal conhecimento é fazer media training e relise. A cultura do sigilo, típico do autoritarismo informacional das relações públicas, é algo que reduz a capacidade de governar junto com. Mas só isso não explica essa limitação dos governos com as redes sociais. O maior problema de evitá-las – com o cúmulo do absurdo delas serem proibidas nas repartições públicas – é que a política de branding não é possível ser totalmente controlada, porque não há como fazer, de forma geral, na internet, a velha estratégia da matéria paga ou da submissão lambe-botas à imprensa.
Em sua visão, todos os órgãos públicos, sem exceção, devem estar na web, ou isso não é necessário/desejável? Por quê? E na web 2.0? Por quê?
Todos. Porque a informação pública precisa estar sob domínio público. Essa história do sigilo será cada vez mais fácil de se ultrapassar, por causa dos próprios mecanismos de controle criados pelo poder nos últimos anos. Cartões corporativos, telefones móveis, emails, palm´s, tablets, internet, softwares de textos, planilhas, protocolos, etc são profundamente contaminados por dispositivos que deixam registros digitais e identificam tudo da vida (e da linguagem) das pessoas e instituições. É uma forma de controle absoluto sobre o social (daí a forte crítica à chamada sociedade do controle). Porém, depois do Wikileaks, a sociedade é encorajada a utilizar esses mesmos mecanismos para democratizar as informações. Trata-se de fazer um big brother ao revés. E veja que o curioso é que essas práticas começam a tomar contornos eleitorais, beneficiando candidatos que têm comportamentos de diálogo na rede. A transparência será cada vez mais um valor democrático reinvindicado pela população e, se atendida, beneficiárá governos, políticos, empresas e formadores de opinião. Já há, como o caso da Inglaterra, em que os governos estão disponibilizando seus banco de dados para que a própria sociedade façam análises estatísticas ou de visuailzação de dados. É o chamado “open government”, uma forte tendência de governo eletrônico. De posse de banco de dados sobre despesas nos últimos 30 anos, por exemplo, um programador pode criar alguns algoritmos que demonstrem os períodos de maiores gastos e fazer nexos com fenômenos que estão em outros bancos de dados, como o de volume de chuva no período, e identificar quando e por que se gasta com enchentes etc. Enfim, doar os bancos de dados faz o governo penetrar na chamada inteligência coletiva e governar com mais eficiência. Há um lema fantástica no movimento ligado à cultura colaborativa da internet que um governo 2.0 pode adotar: “muitos olhos, poucos erros”.
Como os gestores de órgãos públicos que queiram aproveitar todo o potencial de interação e geração de conhecimento trazido pelas redes sociais podem começar a fazê-lo? Existe um caminho mais indicado?
Primeiro de tudo.: criar política desenvolvimento de serviços tecnológicos. Se quisermos fazer uma política séria no campo das novas mídias, o correto é criarmos uma política forte de desenvolvimento de tecnologia de informação que democratize não só a informação, mas as deciões políticas. Não se trata de criar tecnologias para a burocracia interna, mas para a comunicação externa com os cidadãos: aplicativos para tablets, telefones celulares, streaming de vídeos, redes wi-fi, enfim, criar tecnologias é a principal estratégia de um governo 2.0.
O outro caminho é fazer jus ao lema da internet: “faça você mesmo”. Empoderar os funcionários para que eles criem suas conta pessoais no Twitter, no Facebook, noTumblr, no WordPress. Porque a rede rompe a cultura da permissão, da intermediação. Então o gestor precisa ter a a sua própria mídia. As pessoas me indagam: “mas eu não tenho o que escrever!”. Eu respondo: diga apenas “bom dia” aos seus amigos online. Daí as pessoas começam a rir. Nós participamos diariamente da esfera pública, com nossas opiniões e afetos. É impossível não termos o que escrever ou falar. Somos tão disciplinados na concepção que o outro sabe mais, que somos apenas receptores, que criamos uma fantasia que não temos história, não temos saber, não temos vivências. Então, é importante os governos serem mais democráticos e liberar os gestores a terem seus próprios canais de comunicação. Sei que a realidade da maior parte do Estado brasileiro é de falta de capacitação dos técnicos e gestores em novas mídias, vistas como um enigma e com muita dificuldade cognitiva (sobretudo porque novas mídias demandam do usuário forte processo de alfabetização). Mas, você, gestor, comece atuando pequeno na rede e cresça aos poucos. E se você tiver alguma dúvida, digite no youtube o que você busca. Lá tem vídeos de passo a passo de tudo, desde como fazer um perfil no twitter a como cozinhar um arroz sem deixá-lo queimar. Foi heidegger que disse: “comunicar é se libertar”. Então, a internet está aí para isso.
Quais os passos que devem anteceder a entrada dos governos nas redes sociais? O que é preciso considerar antes de começar?
Os governos precisam compreender que um governo 2.0 não significa ficar respondendo usuário, republicando as coisas lindas que internautas tecem sobre seus governantes e menos ainda divulgar a agenda diária dos líderes. Um governo 2.0 é criador de tecnologias. Mais ainda: de serviços tecnológicos. Então o desafio maior hoje é que os governos olhem para essa ecologia nova de comunicação e perceba que os cidadãos querem tecnologias mais próximas de suas necessidades. Desenvolver serviços tecnológicos: aplicativos para mídias móveis, softwares educacionais, canais em mídias e redes sociais, redes wi-fi públicas, enfim, todo um conjunto de serviços que ajuda no dia a dia do cidadão. Essa coisa de ficar fazendo marketing em redes sociais é cafona. Cidadão quer ter, no seu Ipad ou “Iclone”, um aplicativo que mostra suas dívidas e pagá-las ali mesmo no tablet. Cidadão quer ter, no seu celular, um aplicativo com as aulas que ele assiste na escola ou na faculdade (coisa mais barata é transmitir ao vivo aulas e dispô-las na internet). Cidadão quer ter, no seu netbook, o canal do MSN da equipe especializada em mídias sociais da defesa civil, para caso aconteça uma enchente, poder se comunicar com o órgão, em tempo real. Cidadão quer mandar torpedo para o número do celular com as fotos de pneus velhos que estão no meio de uma rua qualquer, ajudando o departamento de serviços urbanos a cuidar da higiene da cidade. Cidadão quer governar, e não ser objeto de spam eleitoreiro.
Quais são, a seu ver, os maiores desafios impostos aos governos das três esferas pela crescente penetração e popularização das redes sociais?
Ser desenvolvimentista tecnológico. Criar serviços, plataformas, aplicativos, tecnologias de informação que ajudam no cotidiano da população que, a cada dia, depende e usa mais computador e dispositivos de comunicação móvel. Ser transparente, o que equivale, na prática, tornar público todos os processos decisórios do Estado. Não se trata de utopia, mas de uma demanda social crescente: pôr fim à cultura do esconder informação e à prática nefasta da espionagem alheia. Ser aberto, isto é, tornar abertas todas as suas bases de dados. Ao fazer isso, com certeza, toda uma produtividade ligada à inteligência coletiva florescerá e gerará mais valor a essas bases, através de técnicas refinadas de mineração de dados. É muito comum, por exemplo, várias empresas criarem aplicações que potencializam os dados dessas bases. Siga o exemplo do Twitter, tornou público o seu segredo de fabricação e fez surgir todo um conjunto de inovações como twitcam, Twitpic, Hootsuite, enfim, uma gama de produto que só fortalece a marca Twitter. Ser comunicativo nas redes e mídias sociais, atuando na produção de informação que auxilie as decisões, em tempo real, de seus cidadãos, bem como incorporando dados e inovações geradas pelos usuários e comunidades dessas redes. Há um caso fantástico da importância de um governo atuar bem nas redes sociais. Obama e a reforma da saúde. Ele criou uma plataforma online para debater o projeto da reforma com os cidadãos americanos. Com isso, ele criou bases sociais de sustentação para a democratização da saúde pública nos EUA.
O que antevê para o futuro? A web 3.0 trará novas mudanças para as instâncias de governo? Quais?
O futuro já ocorre. E se chama mobilidade. Então os governos precisam ser mais nômades, como a tecnologia de tablets, netbook e telefones celulares. Imagina vc ter um aplicativo do Acervo Histórico da sua cidade dentro do seu celular? Imagina as crianças poderem ter um aplicativo, em seus celulares, com seus livros didátivos interativos? Os governos precisam urgentemente abrir concurso público para desenvolvedores de aplicativos de mídias móveis, abrir concurso para analista de redes sociais, de produtor de conteúdos via streaming (ao vivo). Aposto que, se fizer isso, em pouco tempo, a relação com os cidadãos se alterará para melhor. Só para lembrar; o Brasil tem 240 milhões de celulares circulando no mercado. Apesar das altas tarifas, a mobilidade já faz parte do cotidiano de todos os brasileiros.
A narração na web 2.0, a emergência de um novo gênero
Web 2.0 story-telling: The emergence of a new genre (em pdf), de Bryan Alexander and Alan Levine, é um bom artigo para quem busca maiores informações sobre narrativas digitais e a web 2.0 . O texto mostra que padrão de como uma história se conta está a mudar. A velha perspectiva da sucessão, cuja forma primordial é o “começo, o meio e o fim” cede terreno para uma narração cross-media, participativa, exploratória e labirintíca.
Vale à pena ler (em inglês).