No meu mundo interior (li isto em Negri e achei engraçado), tenho me chateado com uma função que tem o Orkut. É o seguinte: o usuário pode enviar email para toda a sua rede, contudo, quem recebe o email não pode enviar reply para a rede do sujeito. É a velha lógica unilateral da comunicação: um-todos.
Participei de um debate online com uma figura que sempre mandava a opinião dele para todos os seus "amigos", contudo, o que eu dizia sempre ficava no terreno do isolado, do perdido, da relação eu-meu interlocutor. Talvez essa função do orkut reflete um pouco a dimensão sinóptica que Baumann insiste em afirmar: o mundo se articula na criação de tecnologias que mais investem em "evitar a entrada" do que "evitar a fuga" (panóptico).
Sei que, para quem está no Orkut, socializar a sua rede no "fora" é perder a graça de usar a comunidade virtual. Contudo, essa "reprodução do fora" carrega um dupla ideologia. Primeiro, a noção de que constituindo um fora, os vínculos se tornarão mais fortes no dentro. Porém, essa condição comunitária identitária (eu-outro / dentro-fora) continua a reforçar elos fracos, porque no âmbito do virtual, as identidades são mais camisas do que peles. O dentro é mistificação, que se sustenta numa prática do fora que é ilusória, já que a informação circula lisamente.
A segunda ideologia é a noção do fora como um terreno do excesso, o que justificaria a criação de um dentro mais objetivo, comum e estriado. Trocando em miúdos: somente no dentro é possível constituir redes sociais, já que a barreira identitária (ter comunidades) é o que articula o ser algo.
No final de tudo, acho tudo moralista. É só "entre quatro paredes" (no dentro) que o íntimo, o político e o desejo se manifesta.
Ou esta “figura” é que mandava mensagens pelo canal errado, ou você achava que ele queria uam discussão quando na verdade ele queria era “publicar” o pensamento dele.
“as identidades são mais camisas do que peles”. Camisas são peles virtuais. Pergunte à Andre Lemos (http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/https/).
“Trocando em miúdos: somente no dentro é possível constituir redes sociais, já que a barreira identitária (ter comunidades) é o que articula o ser algo. ” Acho que você confundiu redes sociais com comunidades. Redes existem. Até nilistas (“eu odeio a segunda feira”), mas não necessariamente existem comunidades. Realmente as comunidades fazem uma barreira identitária, mas acho que os amigos também (e suas respectivas comunidades, claro!) criam a identidade, especialmente pelos depoimentos, scraps e coisas do gênero.
O “pensamento dele” se é, em rede (social), só se constitui no social. É a máxima de Marx: “o indivíduo só se individualiza socialmente”. Publicar o pensamento no âmbito do íntimo é covardia e ingenuidade, já que o suporte é produzido em e produz redes.
“Camisas são peles virtuais”. Não acredito em paradoxos. Sinceramente. Ou se defende a visão essencialista e histórica (a metáfora da pele) ou a dinâmica pós-moderna (a da camisa). A mim, vejo que o Orkut é um suporte lúdico apriosionado. Um sinóptico divertido e encantador.
Não confundo a noção de dentro/fora filosófica (deleuze e cia), mas chamo a atenção para a criação do espaço sinóptico como um freio para a sociabilidade. Se a web é fruto de uma noção de circulação e comunicação livre, a criação de um “dentro vigiado” freia aquela dimensão de ter acesso livre à informação…
Pode ser covardia e ingenuidade. E pode ter sido esta a intensão =)
Somente brinquei com as palavras sobre a camisa. è uam discussão sobre a técnica que Lemos trás falando que nós somos seres técnicos. Uma camisa,em conseguinte, é uma pele técnica, virtual. Foi mais uma provocação 😉
Não falo de dentro/fora, mas de rede social e comunidades. Por muitas vezes que se referes a rede me parece um pouco que queres falar “comunidades”. A rede não tem necessariamente o compromisso da comunidade, o que a torna mais fraca em um aspecto e muito poderosa em outro (como em GRANOVETTER 1983/197X).
Abs.