Karl Marx, quando ainda rascunha (Grundisse) o Capital, produz um texto memorável (Fragmento sobre as máquinas), em que antecipa como a forma de produção se desenvolveria em um capitalismo avançado. A sua tese era que o capitalismo se tornaria um regime em que o principal valor seria produzido pela ciência e pela inteligência (o trabalho vivo, como denomina) do trabalho humano, a ponto de toda a sociedade se tornar produtiva, um general intellect. O texto abaixo poderia descrever muito bem o atual estado do que chamamos de sociedade do conhecimento ou capitalismo cognitivo:
A natureza não constrói máquinas, nem locomotivas, nem ferrovias, nem o telegráfo etc. São estas produtos da indústria humana: material natural transformado em órgãos da vontade humana sobre a natureza ou da sua atuação na natureza. São órgãos do cérebro humano criados pela mão humana; força objetivada do conhecimento. O desenvolvimento do capital fixo (máquinas, por exemplo) revela até que ponto o conhecimento ou o conhecimento social geral se converteu em força produtiva imediata e, portanto, até que ponto as condições do processo da vida social mesma estão sob o controle do general intellect e remodeladas conforme ele mesmo. Até que ponto as forças produtivas sociais são produzidas não somente na forma de conhecimento, mas sim como órgãos imediatos da prática social, do processo da vida real.