Fragmentos sobre as máquinas

Karl Marx, quando ainda rascunha (Grundisse) o Capital, produz um texto memorável (Fragmento sobre as máquinas), em que antecipa como a forma de produção se desenvolveria em um capitalismo avançado. A sua tese era que o capitalismo se tornaria um regime em que o principal valor seria produzido pela ciência e pela inteligência (o trabalho vivo, como denomina) do trabalho humano, a ponto de toda a sociedade se tornar produtiva, um general intellect.  O texto abaixo poderia descrever muito bem o atual estado do que chamamos de sociedade do conhecimento ou capitalismo cognitivo:

A natureza não constrói máquinas, nem locomotivas, nem ferrovias, nem o telegráfo etc. São estas produtos da indústria humana: material natural transformado em órgãos da vontade humana sobre a natureza ou da sua atuação na natureza. São órgãos do cérebro humano criados pela mão humana; força objetivada do conhecimento. O desenvolvimento do capital fixo (máquinas, por exemplo) revela até que ponto o conhecimento ou o conhecimento social geral se converteu em força produtiva imediata e, portanto, até que ponto as  condições do processo da vida social mesma estão sob o controle do general intellect e remodeladas conforme ele mesmo. Até que ponto as forças produtivas sociais são produzidas não somente na  forma de conhecimento, mas sim como órgãos imediatos da prática social, do processo da vida real.

Alguém lê online notícia do dia dos jornais impressos?

Não sei se estou só, acho que não. Mas percebo que a maioria dos leitores de jornais online não lê as informações dos jornais impressos do dia que estão disponíveis para (não) assinantes online. Sei que por uma obviedade: o leitor online busca muita mais as informações de última hora. Contudo, virou onda disponibilizar o layout dos jornais para ser lidos em formato digital. ME parece que é perda de tempo e de dinheiro.

A revoluções moleculares do Youtube

Li na Folha uma ótima matéria sobre um conjunto de artistas e videomakers que começam a produzir exclusivamente para o Youtube, já que este virou um espaço de circulação e valorização de linguagens audiovisuais. Alguns apontam até como um espaço rizomático de produção de opinião e de conhecimento, com seus milhares de vídeos, curtas, documentários e testemunhos. E também de produção de memória, já que boa parte da memória da televisão no Brasil, por exemplo, está sendo depositado no site. O receptor agora usuário está atento e frequentemente grava e publica no Youtube o que tem de mais incomum, mais débil e de mais qualidade na televisão brasileira. Há pouco assisti um vídeo histórico do Repórter Varela, personagem do Marcelo Tas.

Nova versão do Globo Online adota jornalismo participativo

Estou escrevendo um capítulo sobre colaboraão e mutações na produção do jornalismo, quando, de repente, me surpreendo positivamente com a nova página do Globo Online.

A tendência é forte mesmo. O Globo – é o primeiro jornalão – inova e adota o jornalismo-cidadão (ou participativo) na sua versão online. Qualquer usuário poderá enviar reportagem na forma de texto, audio, video e foto para ser publicada na seção Eu, Repórter. Olha… o jurídico do Globo deve ter trabalhador bem, já que a legislação brasileira não permite que “qualquer um” seja jornalista. Deve haver brecha. Gostei que há uma ética de publicação, semelhante às experiência de civic jornalism no mundo, que é a seguinte:

Antes de enviar seu material, saiba que:

– O Eu-Repórter só publica textos, fotos, vídeos e áudios noticiosos, nunca opinativos.

– O conteúdo deve obrigatoriamente ser de autoria que quem o envia

– A publicação do conteúdo está sujeita a aprovação da equipe de editores do Globo Online

– Textos com palavrões; acusações pessoais desacompanhadas de provas; preconceitos de qualquer ordem; que promovam a violência ou que estejam em desacordo com as leis brasileiras não serão publicados

– Todos os textos, imagens, vídeos e áudios publicados serão assinados

– Os textos podem ter, no máximo, 2 mil caracteres, contando os espaços

– Os arquivos podem ter, no máximo 10 megabytes

Pelo o que vemos, as grandes mídias querem entrar de vez na onda web 2.0, em que o leitor é o maior produtor de conteúdo. Há uma seção que exemplifica muito isto: Opinião. Cada leitor tem um espaço próprio para opinar sobre o noticiário entre outras coisas. É a captura da forma-blog. Há muita novidades: organização dos conteúdos em tags (como o Clarin) multimídia, podcast etc.

Uma do Negri

Em overdose de Antonio Negri, por conta da minha tese, li uma frase maravilhosa: “a tradição não explica a ruptura”. Pensei e refleti que não adianta procurar na tradição jornalística (na sua história, nas suas crises) o fator primordial para todo esse bombardeio da web 2.0, – particularmente, toda a família dos blog (fotolog, moblogs, vlogs, podcast etc) – que constitui uma fissura no poder de mediação quase exclusivo que a sociedade dava ao jornalismo como intérprete da história ordinária. A ruptura só pode ser explicada pelos seus próprios acontecimentos. É a lógica da imanência: o texto pelo texto, o fato pela fato. E no more…

A história do computador nos vídeos do Youtube

Me amarrei na matéria do IDG Now que mostra um conjunto de vídeos depositados no Youtube que exibe curiosidades e história do computador nos últimos 25 anos. É imperdível. Gostei tanto que vou adotar os vídeos como material de sala de aula da minha disciplina de Jornalismo online.

Quem quiser pode ir direto a fonte e ver todos os vídeos sobre o tema computador que estão estocados no Youtube.

BLogs x Jornalismo

Mais uma matéria sobre as relações nada harmonônicas entre a linguagem dos blogs e a produção jornalística. Agora feita pela Fapesp. Sempre o núcleo duro do conflito entre jornalismo e blogosfera reside na fragilidade da  credibilidade da informação de ambas linguagens: de um lado, o tom personalista dos blogs; de um outro, a pseudo-impacialidade jornalística. Esses dois atributos, mutuamente, produzem descrédito em cada linguagem, ao mesmo tempo, que a sustenta como superior em relação a outra. Assim, a polêmica (como toda polêmica) se torna inútil e tautológica.

“O jornalismo tradicional frustra e tem sua importância de ser pela mesma razão: é uma instituição com todo um maquinário para checar, editar e distribuir informações. Para manter isso funcionando por tanto tempo, criou-se o rótulo da ‘confiança, credibilidade, visibilidade’, difícil de ser superado”, analisa. Para Rosen, no entanto, essa rigidez acabou por revelar a falácia que é a virtude da grande imprensa: a imparcialidade. “Da forma em que está construída hoje, essa objetividade faz com que a mídia seja facilmente manipulada por um braço executivo que controla a mensagem e produz uma ortodoxia rígida, excluindo qualquer voz que não seja a convencional.”

Lula no JN

Opinião do grande amigo do presidente Lula, José Dirceu, em seu blog, sobre o desempenho de Lula no Jornal Nacional:

A primeira imagem que ficou é de um presidente muito tenso. Trocou várias palavras, ética por corrupção, milhares por milhões e salário por inflação – este último equívoco corrigiu a tempo, até porque ele é o presidente do emprego e do aumento dos salários, com controle da inflação e queda dos juros nominais (ainda que o real ainda seja o maior do mundo).