“Ontologia da liberdade na rede”, artigo em parceria com Henrique Antoun saiu, em francês, na revista Multitudes – espaço bem bacana onde são publicados estudos deleuzianos, negrianos e outros bichos.
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10 momentos da campanha eleitoral no ES. Na web.
Antes de qualquer coisa, candidatos, por favor, continuem com as suas redes sociais. Não apaguem nada.T odo esse material na web é história.
Agora vamos a minha avaliação.
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A campanha eleitoral chegou ao fim no Espírito Santo. Muitos candidatos, muitos jingles do Carlos Papel, muitos santinhos jogados no chão, muitos #foras, muitos “estou indo agora para”, muitos sacis, porém, também muitas possibilidades interessantes de pensar o Estado, que há oito anos se via mergulhado numa realidade que estava mais para as páginas policiais do que políticas da crônica jornalística local.
As eleições na internet não aconteceram como se previa (como nada que vira coisa de futurista). Os candidatos se mantiveram dentro de um patamar seguro do ponto de vista da comunicação política: como emissores, sozinhos, das suas promessas. A rede virou um “grande mural do facebook”. Mas, mesmo assim tivemos avanços, porque o eleitor jogado às traças na rede, foi capaz de então constituir as suas próprias relações políticas, construindo diferentes perspectivas de seus candidatos. A grande ausência das campanhas digitais foi a transmissão em tempo real das atividades públicas das campanhas. O eleitor saiu da campanha não sabendo muito o que se disse e o que os políticos eleitos pretenderão desenvolver. As inserções, em tempo real, aconteceu de forma tímida, no estilo #pergunteaoserra – o que, sabemos, virou piada pronta no Twitter.
Então eu fiz uma seleção bem arbitrária dos melhores momentos das eleições do ES na internet.
1. Pré-candidatos nas redes sociais
“Eu não tenho twitter, mas vou aprender a usar”, dizia a candidata do PSOL, Brice Bragato, às vésperas de a campanha começar de fato. Todos os três futuros candidatos adotaram as redes sociais como mídia para manter conversação com eleitores. Praticamente todos os principais políticos do Estado adotaram as novas mídias e, pela inexperiência no uso das redes, mantiveram-se cautelosos em seu uso. Mas nem por isso escaparam de brigas e rusgas entre si pela internet, o que rendeu ótimas notas e comentários na web.
2. O #diadofico e a hora H
19 de março de 2010 seria o começo das eleições no Espírito Santo. O governador do estado, Paulo Hartung, despediria-se do governo, candidatando-se ao Senado. Com isso, o seu vice, Ricardo Ferraço, assumiria a gestão estadual e candidataria-se à reeleição. O PT apoiava a estratégia de PH, por acordar que, em 2014, seria a sua vez na fila, possivelmente com o prefeito de Vitória, João Coser. Tudo estava muito bem montado, o vice desfilava em todos os eventos públicos, com parte da mídia local o apoiando declaradamente e repercutindo qualquer de suas opiniões. Ferraço era uma espécie de queridinho da mídia local. Mas, naquele final de verão, o governador Hartung disse: ““Renuncio a um projeto pessoal de disputar um novo mandato. Faço esse gesto com serenidade e consciência republicana”. Disse isso no salão São tiago, no Palácio Anchieta. O salão estava assim de políticos e assessores conectados à internet, e a notícia vazou pelo Twitter e logo angariou as hashtags #diadofico e #fico. Quem deu um furo em todo mundo foi o prefeito de Cariacia, Helder Salomão, uma unanimidade de simpatia no microblog (se alguém bate no cara na rede vira um Judas na hora). A força da hashtag acabou por ser lindamente copiada pela crônica política local, que já a partir dali não sabia mais o que dizer, acabando por passar a toda campanha amargurada.
@heldersalomao Helder SalomãoO governador Paulo Hartung acaba de anunciar que fica no governo até o final do mandato. 19 MAr@Bof_Buffon José A. Bof BuffonTwitter mais rápido do ES, na hora H @heldersalomao O governador Paulo Hartung acaba de anunciar que fica no governo até o final do mandato.
3. Renato Casagrande, independência ou morte!
Preterido no acordão, também em março, o senador Renato Casagrande mobilizou o seu partido, o PSB, e o seu mandato para articular uma candidatura independente. Aliado do governo, reclamava na imprensa que o governador desidratava sua campanha, fechando portas de partidos e apoiadores. Casagrande não contou com nada, decidiu ir para a disputa, unindo setores da sociedade que conseguia mobilizar. Sua sina seria muito dura: pouco dinheiro, pouco tempo na tevê (2 minutos). Resolveu arriscar-se, foi para a internet. Site novo, twitter turbinado, redes sociais distintas e até blog. Enquanto não tinha muito espaço midiático, expressa-se em todas as suas redes sociais. Em um de seus discursos, talvez um dos mais belos discursos da história recente do Espírito Santo, o senador afirmava que a história era feita pela sociedade e não em gabinetes fechados por um grupo pequeno de políticos .Quem quer conhecer a história, esse o perfil do Danilo Simões, uma espécie de fã-militante de Casagrande. O cara registrou tudo. Guardem esse nome, o rapaz é muito bom.
4. O dia do mico
Depois de um mês de intensas negociações, a reviravolta na política do estado acontece. O governador Paulo Hartung cede às pressões do governo federal e anuncia apoio a Renato Casagrande, em uma coletiva pra lá de movimentada. O seu vice, Ferraço, explode de ira. eE, de novo, a crônica política fica sem entender nada. O governador mais popular da pós-Constituinte vai no ostracismo político. Na internet, os políticos pagam tanto mico, que o a “nova” oposição começa fazer gozação, muita gozação. Foi um dia de explosão de informações na internet. Tarefa para historiadora da comunicação. Coisa bárbara.
5. O imperador Hartung e a aliança com Casagrande
Antes do apoio de hartung a Casagrande, circularia na web o viral mais assistido da “campanha”. Um hit que ironizava a aliança entre PT e PMDB, que acabou naufragando. Nenhum outro vídeo foi tão visto no Estado. Nesse momento, Renato Casagrande já era líder nas pesquisas. E começava a ditar, ao seu ritmo, a condução da campanha. Já era senhor da web, já tinha o twitter com o maior número de seguidores. Os tucanos estavam apaixonados pela peça na rede, os apoiadores de Casagrande, vingados.
6. Ricardo FailRaço
Fez enorme sucesso o perfil fake do vice-governador Ricardo Ferraço, considerado, por mim, o melhor fake de toda a rede. Criativo, original, inovador. Foi a peça mais hilária dessa campanha, o ricardofailraco e os vídeos da Xuxa Verde. A rede tucana não cansava de retuitar.
Ricardo FailrraçoNem Hartung, nem Lula… quem decidiu que eu não seria o escolhido foi a XUXA VERDE: http://tinyurl.com/2eaz5b4 #FAIL 10:06 PM May 2nd via web Retweeted by 1 person
6. Os fakes das campanhas: trolagem e pouca inteligência
Tiveram pouco destaque os fakes, depois de julho. Todos eles foram utilizados no sentido mais de despolitizar o debate do que efetivamente construir uma visão mais crítica dos candidatos. Alguns deles circularam um pouco mais: @narizinhocapixaba, @emocasagrande, @bricebagaco – mas baseados em acusações. Muito ruim. Muito se deduziu dizendo que os fakes eram todos internos às dinâmicas da campanha, mas todos os lados se prontificaram a negar qualquer responsabilidade por eles.
7. O #foramagnomalta
A mais importante mobilização da opinião pública compartilhada na rede no Espírito Santo. Organizada por muitas mãos – algumas bem interesseiras, no sentido de menos debater a questão, mas pedir voto contra o senador – o #foramagnomalta foi um tuitaço contra a hipocrisia trazido a cabo pela campanha do senador, que, na televisão, passava lição de moral com uma proposta pra lá de fascista: colocar adolescente na cadeia, caso cometam algum tipo de ato infracional. Ao mesmo tempo, o senador defendia políticas duras contra toda forma de pedofilia, mostrando, assim, uma total contradição em seu discurso sobre a criança e o adoelscente. Conjugado a isso, toda uma rede contra a homofobia se rebelava online, criando o lema “todos contra a hipocrisia”, numa ironia ao “todos contra a pedofilia”, camisa negra com caracteres brancos do senador. O movimento fez Malta tirar o time de campo, recolher o discurso público, tornando-se um pouco mais aberto ao debate da sociedade. O #foramagnomalta manteve alguns dias à frente dos assuntos mais tuitados da capital do estado, segundo o site Trendsmap.
Uma ótima história ainda para ser contada, a partir da fartura de crítica online, por algum estudioso de história política do estado. Algo que pode ser o começo de um movimento.
@babadocerto Babado Certo
8. O webmício de Luiz Paulo
Com ótima ideia, o candidato tucano abriu canal de conversação com seus eleitores, no seu webmício (comício na web). Problema sério, poucas pessoas na rede ficavam conectado a ele. O webmício foi uma ótima ideia, mas executada sem fôlego. Luiz Paulo, na verdade, vacilou. Ele é ótimo em seu blog, que virou um ex-blog (como o do Casagrande) logo que começou a campanha. Com muita verve, era o blog que poderia lhe dar ótimas tiradas. Despensou o blog, entrou no twitter e ficou apenas no relato de agenda, como todos os outros candidatos. Mas inovou em se aventurar a debater tête a tête com quem quisesse aparecer na sua casa na web.
9. O uso das redes sociais
Twitter brilhou, mas protagonismo foi dos eleitores e não dos políticos. Fotografias no Flickr também foram um marco. Casagrande tentou criar a Rede Ning, mas deu com os burros n´água (por motivos óbvios, o Ning deveria ter começado pelo menos uns sete meses antes). Luiz Paulo tentou importar a rede mobiliza (um fracasso total, senão como um lugar de trolagens e mais trolagens). Assim os candidatos se resumiram a orkutizar as suas mensagens. Poucas campanhas usaram das estratégicas do ciberativismo, mobilizando via DM, estabelecendo relações offline a partir do online, tudo ficou muito no script. Resultado: nenhum debate consistente na internet. Só troca de “obrigados e valeus”. Contudo, essa possibilidade de dizer o que pensa e afirmar algo sem qualquer intermediário faz-nos parabenizar os políticos e os seus assessores que fizeram uso de diferentes redes sociais. Mas houve baixíssima conversação com os eleitores online. As redes sociais foram muito mais usadas como estoque de informação do que fluxo contínuo de informação. Mas tudo bem, é um começo. Na próxima, com certeza, teremos mais novidades. O convívio permanente com a sociedade já deixaram os políticos suscetível às visões distintas de mundo (sobretudo, eles se colcoaram em estado permanente de controle da sociedade. Isso é muito bom). E todo político se acostumou a ficar checando as menções, os comentários e as curtições. Estão viciados nisso agora. Sobre facebook e Orkut, o destaque foi para os eleitores, que arregassaram as mangas e apoiaram deveras seus candidatos. Aqui, existe outra grande fonte de historiografia para ser feita, para entender as motivações que levam às pessoas a erguer suas bandeiras digitais.
10. Os anúncios da vitória e da derrota.
Até daqui a pouco, lá para às 20h, vamos ver os primeitos tweets e fotos, vai sair tudo primeiro na internet, como manda a vida nesse novo século.
PS1: o grande erro das campanhas: focar a comunicação apenas a quem já havia se decidido pelo candidato. Acabou o candidato falando pra quem quem já estava careca de ouvi-lo. Na próxima eleição, o desafio é chegar mais nos outros graus de comunicação.
PS2: daqui a dois anos, na capital, talvez teremos um novo tuiteiro, o governador Paulo Hartung, um cara que tem todo perfil para estar nas redes e, não sei por que, se ausenta delas.
Ps3: a imprensa influenciou muito pouco, pouquíssimo.
Onde eu errei #fail #barraconaufes
Após a situação surreal ocorrida na Ufes, batizado no Twitter de #barraconaufes, eu pesquisei o tuitaço através do sistema de busca do Twitter. E notei que o o meu tweet “Jogar laptop na cabeça de aluno? Sem dúvida, é culpa do windows” pode ter gerado uma interpretação equivocada. Naquele momento, não se tinha a confirmação do autor e da vítima. Só tínhamos assegurado o ato “professor arremessou laptop”. Numa manifestação de repúdio, no lugar de uma opinião mais dura, fiz uma sátira. Contudo, o “na cabeça” foi entendido como se eu tivesse afirmando que o fato assim aconteceu. Os próprios alunos acusaram informação, no Twitter, que o laptop havia sido arremessado em direção a um aluno, mas que não pegou na cabeça de ninguém, essa e outras informações, em regime de colaboração em rede, fez que o fluxo de informação se depurasse rumo a esclarecer o que havia ocorrido na Ufes.
Assim, eu gostaria de pedir desculpas aos leitores desse blog, àqueles que me seguem no meu perfil no Twitter, e, sobretudo, aos estudantes e o professor da Ufes, Victor Gentilli, envolvidos no caso, por esse lapso. Eu poderia ter republicado, imediatamente, a informação correta, a partir dos relatos dos tuiteiros, mas eu não me atentei ao detalhe. Mesmo que isso não tenha influenciado na condução dos relatos na rede, quando a gente erra é bom publicar em todas as redes sociais possíveis, e não se calar sob o guarda-chuva de um crachá tosco. Se possível, seria importante que aqueles que retuitaram esse meu tweet (adicionando ainda mais sátiras como protesto), que procedesse repetindo o seu ato, ou seja, um mísero retweet desse post. Isso seria decente, e não mistificar um pelo o múltiplo. Entre alguns desses retweets foram realizados por profissionais de destaque.
Além disso, o blog se encontra totalmente aberto às manifestações de todos aqueles que se sentiram prejudicados pela minha sátira. Na internet, a memória é ilimitada. Não há problema de espaço.
É como diz o ditado popular, deus está em todos os lugares, o diabo, nos detalhes.
#fail
Fábio Malini
O viral e o orkut nas eleições 2010
No Brasil, pelo o que estou pesquisando, as eleições serão marcadas pelo viral. Nada de Orkut, nada de Facebook, nada de Twitter. O que vai bombar e decidir o voto será, em primeiro lugar, o viral. Junto dele as estratégias de marketing de guerrilha. O viral trará toda a cultura do humor nacional, que é o que manda na internet no Brasil – só ver os milhares de virais já assistidos no país, do “funk de não sei quem” aos personagens bizarros que se tornam célebres no youtube.
O viral tem um componente complicado: o anonimato (como todo mundo sabe, o anonimato sacode a internet, mas é visto por muito como algo covarde). Mas faz parte de sua cultura. O anonimato pode gerar um duplo movimento, o de trolagens e boatarias; ou de adesão colorida, por outro. A trolagem (espalhamento de comportamentos fraticidas, facistas, de má educação) pode fazer forte o candidato que é detonado pelo boato, pois que o vitimiza, tornando-se, portanto, injustiçado e objeto de má fé. Mas o efeito pior é do candidato que o troll busca defender, que, rapidamente, acusado de estimular a boataria, passa a impressão que é um cara sem ética. Candidato bom age rápido quando é trolado: cria um blog somente para responder a rumores. E leva a melhor. Continue reading
Howard Dean, o pioneiro da Política 2.0
A política 2.0 não começou com a campanha de Obama. Quatro anos antes, em 2004, Howard Dean inovou com sua campanha política de nicho: forte uso do Meet Up, sinceridade ao extremo (mostrando suas convicções, como crítica a ocupação norte-americana do Iraque) e a estratégia de estímulo à doação de dinheiro pelos eleitores (através de pequenos valores).
Há três anos, no Laboratório de Estudos de Internet e Cultura, na Ufes, debatemos a introdução do livro A revolução não será televisionada, de Joe Trippi, que conduziu a campanha de Dean {mais tarde também a de John Edward, que abandonou as prévias democratas, vencidas por Obama).
Atrás da cortina dessa política negociada, as campanhas se tornaram mais venenosas, mais conscientes do poder da mídia, mais tecnologicamente avançadas, mais caras, intensas, longas, maiores e mais fortes em todos os aspectos, exceto um. Em algum lugar do caminho, eles perderam os eleitores.
Quer conhecer mais a experiência de Dean? leia a tradução livre da ótima introdução do livro de Trippi. {tradução de Maria Elisa}
Partido inglês ensina usar redes sociais
Lendo o e-Xaps, tive acesso ao guia de uso das redes sociais para políticos do Partido LIbera inglês. É ótimo, sobretudo, se você é ou quer ser um político (em sentido amplíssimo…)
NO Chile, campanha de Frei recusou novas mídias
No Chile, o candidato da Corcetación não usou as novas mídias em sua campanha. Parte da sua derrota se explica por isso. Ao contrário, Piñera ganhou e mobilizou 41 mil seguidores no seu Twitter.
Via Politica2.com
A Global Brasil está online!
A Revista Global Brasil, que participo desde a primeira edição, em 2001, está no mundo dos bits. Só em pensar que já se foram quase dez anos.Agora a revista terá sua versão on.
Obrigado @eduardoluc e @wwdaigo !!!
O “ih, fora!” e a volta do Zé Carioca
“Decepcionar é um prazer.” (Gilles Deleuze)
No excepcional discurso de Gilberto Gil, em 2003, então empossado como ministro da cultura, o artista baiano afirmava: “Não cabe ao Estado fazer cultura”. O cantor-ministro espantou geral, muitos dele riram. Como se sabe, Gil fez uma gestão revolucionária, de escala global. A lógica do ministro era a de fazer algo bem contemporâneo, que chamou de do-in antropológico. “Avivar o velho, massagear o novo”. A herança de Gil parece que passa ao largo da administração cultural da capital, ainda presa a visão folclorista da cultura. Mas um folclorsmo de tipo novo. A folclorização da cultura pop. A receita é assim: transforma-se algo em pop, depois o pop em um cult folclorizado. É uma operação que dá no mesmo de sempre: samba, suor e cerveja, a mesma equação que tanto tempo, pré-Gil, fazia a alegria dos salões burgueses nos tristes trópicos. E que transformaria os gabinetes de cultura numa caixa de repasse de verbas para uma clientela preferencial.
Eu? Fórum de Mídia Livre 2008
Pois bem, Youtube é demais, pesquisando material sobre mídia livre livre, descubro um vídeo em que eu estou a falar. Foi no FML de 2008, no RJ. Legal.