Las nuevas tecnologias mediaticas y el cambio político y social é o tema do e-journalUsa. Vale à pena a leitura do artigo sobre novas mídias e a política estadounidense.
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Palestra J.Orihuella: jornais estão sempre em crise
Palestra de Jose L. Orihuella ministrada no último dia 16 de abril, em Quito. Tema: como as pessoas estão se tornando narradores dos próprios fatos que presenciam mais do que testemunhas oculares da história.
Nessa crise do jornal, ouvimos explicações absurdas, como aquela que afirma que os jovens não lêem jornais porque, em geral, não lêem mais. Ora hoje os jovens lêem e escrevem mais do que nunca. O problema é que escrevem e lêem em outros lugares.
Cabe ao jornalismo escrever numa linguagem mais próxima às pessoas, mais ligado ao cotidiano das pessoas.
Acho importante essa análise do Orihuella, seu esforço de demonstrar essa transição de testemunha à narradores. Ele começa sua análise ao mostrar centenas de pessoas capturando imagens, através de aparelhos celulares, da festa de posse do Obama.
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Sobre massa, disciplina e mídia
Na última aula eu explorei muito o debate em torno de dois campos teóricos da comunicação, a saber:
1. a emergência e o desenvolvimento da subjetivação-massa, entre o final do século XIX e seus desdobramentos até a década de 60 do século XX.
2. os processos de pós-modernização ou informatização da produção, que se instaura a partir da década de 60.
I. Resenha da aula
O objetivo da aula foi demonstrar os conflitos, que vão lentamente se instalando na sociedade ocidental, derivados de mutações que tem haver com a crítica das vanguardas à sociedade de massa e, ao mesmo tempo, com a invenção de novas formas de vida abertas pelos movimentos sociais pós-68, que abrem uma nova mentalidade, agora calcada na rede como nova forma de organização social, para além da lógica da representação inscrita em toda mentalidade de massa. Portanto, conflitos tendem, a partir desse momento, a se localizar nas inúmeras formas de demonstração das resistências culturais das audiências de massa e nas diferentes criações de dispositivos comunicacionais desprovidos de centros de controle.
A aula foi animada pelo texto informatização ou pós-modernização da produção, publicado em Império, de Antonio Negri e Michael Hardt.
II. Sobre a subjetividade-massa
O tema é bem amplo, visto repetidamente na disciplina de teoria da comunicação. Fiz questão de retomá-lo, mas a partir da acepção de Walter Benjamin. Ao analisar o fenômeno das massas, lia-o como uma evidência de “perda da experiência”. Em sua elaboração, a subjetividade massiva significa uma perda de viver diretamente uma dada experiência, transferindo-a para dispositivos de reprodução técnica (nesse sentido, Benjamin adianta-se em relação ao conceito de indústria cultural). Para ele, a massa é um estado em que as coisas que são dadas distantes, são vivenciado proximamente, portanto, o testemunho histórico e a autenticidade são ocultados em qualquer bem reproduzidos pelos dispositivos de massa. Os meios de comunicação de massa são, assim, esses dispositivos que fazem esse elã entre o longínquo e o distante, tornam presente, no aqui e agora, aquilo que só poderia ser alcançado mediante ao testemunho ou a tradição.
Eu gosto muito de uma passagem do A obra de arte na era..., em que Benjamin afirma: “a reprodução em massa corresponde de perto à reprodução das massas”. Os meios de comunicação de massa, bem como os grandes eventos de massa, seriam a projeção, o espelho das massas. As massas se vêem e se afirmam nesses dispositivos. É na busca incessantemente de mínimos comuns que as massas se constituem como um agrupamento. Nesse sentido, as massas precisam dos clássicos (não como cânones, mas como referência básica). As massas negam qualquer valorização ao culto, à contemplação, algo típico de sociedades em castas. Exige que tudo se torne próximo a ela. Eis a sua potência.
Contudo, torna também o mundo e as coisas “transitórias e repetitivas”, como forma de romper com a unidade e a duração dessas mesmas coisas.
Ser massa significa a prática de uma subjetivação que valoriza a repetição e a transitoriedade como maneira de ruptura com a unidade (as coisas devem ser experimentadas uma só vez) e com a duração (as coisas devem durar para sempre).
Nesse mundo novo, a lógica de massa passa, de forma inevitável, pelo esquema emissor-receptor. O emissor é o pólo da representação, que é uma função imutável nessa sociedade.
Do ponto de vista político, as primeiras seis décadas do século XX vêem a concretização dessa figura das massas encarnadas em determinados tipos sociais, sendo o mais dramático o operário fordista, que Chaplin imortalizou em seus tempo modernos. A era da “execução perfeita dos movimentos”, o legado da técnica, marcou a dramática história social contemporânea: repetição, trabalho autômato, burro, cuja principal produtividade residia na capacidade de adestramento do corpo, agora extensão corpórea do maquinário mecânico. Foi Michel Foucault que melhor desvendou as relações de poder entranhado na sociedade das massas industrial. Para ele, somente técnicas disciplinares conseguiam gerir as massas: controle da população, medicina social, higienização urbana, hierarquização dos corpos na cidade (o lugar da produção, o lugar da reprodução), enfim, toda uma gama de dispositivos que funcionavam para docilizar os corpos, agora tornados produtivos. Mas um certo tipo de corpo produtivo. Um corpo que tinha a consciência de sua força de trabalho, que tinha “consciência de seus objetivos”, a vida regrada por aquilo que está fora de si. A vida só existe se o objetivo for alcançado.
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Esse homem-massa possui a qualidade de poder deslizar sobre diferentes trabalhos, pois depende apenas da energia e do corpo adestrado para ser produtivo. É o que alimenta a produção, mas, sobretudo, o consumo de massa. O acesso aos bens de massa – duráveis ou não -, mediante ao salário valorizado, gera um ciclo virtuoso de conquista do mercado consumidor. Não é só consumo e produção que são massificados. As próprias lutas sociais são de massa, embora restritas e quase sinônimas de lutas operárias.
A vida é então profundamente atravessada pelo tempo da produção fordista. Casa, fábrica, casa. Os tempos bem determinados. Tempo do trabalho (que se realiza na fábrica) e o Tempo da reprodução (o espaço do lazer, da educação, saúde, cultura etc). Essa homogeneização da vida marca bem esse momento histórico, sendo a televisão o seu meio mais representativo.
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Como afirma Lazzarato (1998, p.67):
Na fábrica, o taylorismo radicaliza cientificamente a redução do corpo a organismo. O Welfare articula e dispersa a população em processos de reprodução, multiplicando as figuras de sujeição (controle e instituição da família, das mulheres e das crianças, da saúde, da informação, da velhice etc). O espetáculo articula e multiplica o público em uma relação cada vez mais estreita entre comunicação e consumo, requalificando também o político.
Nesse sentido, massa se constitui como um elemento de cálculo. Como gostava de afirmar Adorno, o indivíduo se torna objeto da indústria, e não o seu sujeito. A televisão, veículo eletrônico que faz fundar o “acontecimento” (a forte aderência do espectador ao presente), carrega a compreensão de que o mundo está em ordem. Ocupa, nessa época, a centralidade entre os aparelhos de percepção. Isso acontece em sentido geral, independente da ideologia que se carregava na época, pois que o socialismo real usava a mesma estratégia de produção taylorista, a mesma dinâmica disciplina do trabalho. O fascismo também já utiliza o taylorismo como dinâmica dos próprios campos de concentração. É curioso saber que o taylorismo é uma tecnologia de campo de concentração, de altíssima disciplina, de degradação do corpo.
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Esses dois filmes demarcam muito bem o nível de histeria que constitui essa fase, considerada “a era de ouro” do capitalismo, inscrita por um pacto entre capitalista industrial fordista, welfare e espetáculo de massa. Há várias razões que explicam a fratura desse sistema, sendo a crise salarial a mais forte delas, provocado pelos movimentos de recusa fabril que se espalha pelo mundo inteiro (no Brasil, sobretudo, a partir do final da década de 70). Mas a negação da disciplina não se limitou à fábrica. Ao contrário, surgiu de um forte movimento no campo da cultura. Um curto-circuito que explode em 1968. Uma reação em cadeia contra o autoritarismo disciplinar em suas diferentes instituições (escola, família, hospital, arte, fábrica, etc). Os movimentos culturais e sociais abrem a possibilidade de construção de novas mentalidades sobre o mundo, a partir da construção de novos (ou a renovação dos) valores sociais, em que no centro está a defesa de novos agenciamentos baseados na expressão e na invenção como condições de produtividade social, em contraponto à disciplina burra e autômata. Trata-se de ações confusas, fragmentadas em diferentes sujeitos sociais, descentradas em distintas causas, em que a emancipação não significa revolução comunista, mas a revolução na mentalidade. Não é à toa que um dos lemas da época era: “Quando penso em revolução, penso em fazer amor”. E não é à toa que, mesmo podendo tomar o poder, os manifestantes de 68 hesitam, porque não havia ali um princípio de ordem. Interessante lembrar que o método da assembléia, dos porta-vozes e dos delegados brotaram como formas de organização daquele movimento de 68. A ação direta – sem Estado, sem Partido – é experimentada dentro desses movimentos (e vai se tornar, depois, a própria filosofia da internet). Reunião de grupos, sob decisão assembleística, constituem a liberação dos movimentos também dos processos disciplinares dos movimentos sociais. A ação direta nasce como um ato desses coletivos e faz incentivar o surgimento de outros pequenos grupos com suas causas a defender, também sem intermediação de qualquer instituição. O que para alguns é a gênese da revolução molecular, para outros, a crise do comando disciplinar como capaz de mobilizar e convencer toda a sociedade a produzir de forma hierarquizada e autômata. É paradoxal que tudo issoo ocorra num período de ouro, de forte crescimento econômico mundial, sem contar os avanços associados a isso, como alto consumo de bens duráveis, ampliação do acesso aos serviços coletivos, novos métodos contraceptivos (sobretudo, a pílula anticoncepcional), enfim, toda uma gama de conquistas que acabaram servindo como fermento para uma turbulência cultural.
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III. a subjetividade-rede [próxima aula]
Le desordre c’est moi.
(um dos muitos lemas de maio de 68)
Maio de 68 inaugura a fase da afirmação dos direitos. “Ter direito aos direitos”, como se diz na época e é repetido até hoje. Esse estopim de movimentos identitários (negro, gay, feminista etc) e dos ligados a determinadas causas (ambiental, contra a fome, saúde, transporte público, comunicação, movimentos comunitários etc) fazem modificar o estatuto teórico da resistência, alargando a definição para além dos muros fabris. E, sem sombra de dúvida, essa mentalidade molecular se torna o plano subjetivo para a origem, por exemplo, das organizações não-governamentais.
A lógica da classe é metamorfoseada em novas concepções (a que eu gosto mais é a de multidão). POis bem, é essa atmosfera de pensar o impossível que se tornou o terreno para a constituição de um outro movimento também : a contracultura. Esse movimento é uma das chaves de compreensão da gênese da internet, junto com esse caldeirão de mutação no conceito de classe, movimento e poder, que é inaugurado no 68 francês.
De qualquer forma, é esse contexto de diluição da classe em uma multidão de singularidades que faz emergir o que chamo de subjetividade-rede. Tema da próxima aula junto com o debate sobre a contracultura.
Blog é um meio superficial
Ótimo artigo sobre o ato de blogar: Por qué blogueo?, de Andrew Sullivan.
El blog, desde luego, ha seguido siendo un medio superficial. Por superficial, simplemente apunto que el bloguear recompensa la brevedad y la inmediatez. Nadie quiere leer un tratado de nueve mil palabras en línea. En la red, los links de una sola palabra son tan legítimos como las diatribas de mil palabras –de hecho, a menudo son más valorados. Y, como me dijo Matt Drudge cuando busqué consejo del maestro en 2001, la clave para comprender un blog es asumir que se trata de una emisión, no de una publicación. Si deja de moverse se muere. Si deja de remar, se hunde.
a tv e a internet no Brasil
Ótimo slide sobre o uso da internet durante as Olimpíadas de Pequim, segundo o Portal Terra. Há nele ótimos dados sobre a experiência do usuário brasileiro nos portais de informação noticiosa.
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internet e política, por Steven Johnson
No Roda Viva, Steve Johnson opina sobre a relação entre internet e política, provocado pelo Marcelo Tas.
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singularidade e tecnologia
O que é a singularidade tecnológica, por Vernor Vinge.
Colaboração e Uso livre das redes p2p
Vai ser publicado na Revista Lugar Comum (n.27) novo artigo que escrevi. Chama-se Colaboração, uso livre das redes e a evolução da arquitetura p2p.
O digital, a televisão e o futuro
A transmissão digital da televisão acabará, enfim, com chuviscos e borreamentos. Isso é a pura verdade, mas nem de longe se trata do seu principal impacto. Neste verão, o que começa a ser inaugurado – ainda devagar – no Espírito Santo é uma ruptura com o modelo de televisão que vigora há mais de 50 anos. A lógica desse modelo é simples: toda emissora deve conquistar uma boa audiência (massa) para depois vendê-la a potenciais anunciantes. É essa venda de massas que garante a sustentabilidade financeira de qualquer veículo. Para além do bem e do mal, foi esse modelo que fez alavancar a indústria de broadcasting do país, tornando essa terra uma das mais prósperas e criativas no que tange a produção de linguagem televisiva, ao mesmo tempo que criou uma indústria concentrada nas mãos de poucos.
Mas, por que a transmissão digital se antagoniza com esse modelo? Por três motivos básicos que estão em seu interior: a conectividade, a interatividade e a convergência. Se vencida a batalha pelo desenvolvimento do middleware Ginga, o que significa negociar o pagamento mínimo de royalties pelo uso de uma série de tecnologias nele inscritas, a tv digital se tornará um dos principais instrumentos de interatividade e inclusão digital do Brasil, pois se transformará em um ponto de acesso à internet, possibilitando ultrapassar o unilateralismo que sempre demarcou as emissões das ondas eletrônicas. Tal conectividade empurraria a televisão para dentro do princípio mais interessante do digital: a modularidade. Os dados são contínuos, portanto, submetidos sempre a uma adaptação individual ao invés da estandartização massificada. Cada um seleciona entre uma diversidade de dados a ideologia que quer carregar. Isso conduz a emergência de novas possibilidades econômicas, como a personalização de conteúdo. As emissoras poderão vender pacotes mais customizados a partir de sua grade de conteúdos. Vender programas e não canais. Contudo, para isso, o Congresso Nacional terá de aprovar um novo marco regulatório para o mercado de comunicação, pois hoje emissoras só podem fazer transmissão direta (um-todos), e não um-um, como é a lógica da telefonia.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista do cidadão, a televisão digital será marcada por elementos interativos em sua tela. De novo aqui se abre novos mecanismos de e-commerce para todos, mas a lei atual também impede que emissoras de canais abertos, públicas ou privadas, possam ofertar broadcasting e internet. Outro ponto de conflito: hoje há tecnologia que permite gravação, edição e distribuição de programas através da televisão digital. O entrave é a lei, que não permite o chamado canal de retorno e quer impedir a gravação de cópias, algo que daria a todos a possibilidade de se comunicar com todos e criar sua própria biblioteca de programas. Sem isso a televisão funcionaria somente como uma máquina de descarregamento de arquivos que não ficam armazenados nos equipamentos das pessoas.
Há ainda o desejo de convergência entre a sociedade. Não adianta a televisão ser restrita a si, ela deve funcionar em interface com diferentes dispositivos, desde o celular ao pendrive. Há outros pontos de debate, como o caso da multiprogramação e da transmissão em alta definição (HD), mas dá para se ter uma idéia que o atual modelo de televisão é um defunto que muitos ainda ficam a fazer eletrocardiograma. Um defunto que ainda vai durar algum tempo, apesar de não ter mais salvação. De certo é que ele não mais mobilizará a atenção de produtores, artistas, executivos e pesquisadores. E vencido os altos custos de aquisição da tecnologia digital, o que estará em jogo será a capacidade de se produzir conteúdos de qualidade voltados para demandas específicas e ativas, que estarão com suas mentes cada vez imersas na tela.
Não haverá mais como vender massas. O que se venderá é conexão. Possivelmente vamos ver a saída de cena das emissoras, pois se transformarão em “provedoras de acesso” em um mercado com muita mais concorrência (com as telefônicas, as chamadas redes públicas e, sobretudo, com os milhões de usuários que hoje são cada vez mais produtores de mídia). Mas isso são cenas do próximo capítulo que todos vamos participar.
O que nós, blogueiros, somos?
palestra no Campus Party Brasil
21 de janeiro de 2009
“O devir é sempre de ordem outra que a da filiação. Ele é da ordem da aliança”. (Gilles Deleuze)
Há quem diga que se há só existe uma única identidade entre blogueiros: a própria internet (este seria o ser positivo dos bloggers). Contudo, em geral, esse tipo de informação tem um certo sentido pejorativo, pois que se revela uma operação antropológica negativa, já que acusa todo tipo de blogueiro de “falta de tradição ética” (este seria o ser negativo dos bloggers).
Usando muitas remissões de leituras associadas ao ciclo do debate sobre o capitalismo cognitivo, que peço desculpas, por não referenciá-las, pois aqui se trata de texto síntese, um texto para ser lido.
De antemão eu queria demonstrar que estamos no cerne de um conflito de poder. Na verdade, num conflito entre poder e saber. Esse conflito está associado à nossa indignação, a nossa insurreição sobre por que nós somos excluídos do coletivo que conhece ou do coletivo que deve produzir o conhecimento. O poder, no âmbito do saber, sempre se estruturou no isolamento da sociedade ao trabalho do laboratório, do trabalho que produz a experiência. A experiência é que funda a certeza. Portanto, isso fez separar o saber do comum. Com isso o argumento de o saber devendo ser produto do espaço público, do espaço comum, sempre foi refutado, porque isso causaria a desordem, o caos, geraria somente incertezas. Então o monopólio do saber fica restrito aos representantes. Os acordos do saber ocorrem entre poucos. Isso é a base da democracia representativa. Um tempo as pessoas são ouvidas, depois se calam, porque transferem suas vozes para seus representantes. A lógica de um fala, outro se cala, é o que fundamento o poder no campo dos saber. É assim que se faz ciência, é assim que faz jornalismo, por exemplo.
Os blogs fazem parte de uma movimento social que recusa essa hierarquização. Recusa como o poder funciona. De deixar para a mídia dizer quem é jornalista ou não é. Quem informa e quem não informa. O poder funciona nessa separação. Não se trata de desqualificar saberes dos especialistas e eruditos, é muito mais questionar a sua clausura, o seu isolamento. É questionar essa divisão. Essa é a nossa visão, esse é o nosso desejo, essa é a nossa vida. Hoje o conhecimento não é mais estável. As corporações do poder também estão numa incerteza radical. Veja o caso caso do jornalista. O capitalismo cultural está sendo marcado por essa incerteza. Muitos saberes estão saindo de espaços públicos rompendo a sua insígna de saber profano.
Foucault dizia que é uma insurreição do saber submisso, é o que vivemos. É um movimento duplo. Uma insurreição do saber particular, do saber naif, do saber ingênuo. Saberes que são particulares e específicos. O louco quer demonstrar o seu saber, o operário, o morador de rua,o presidiário, o adolescente, o paciente, idem. E, por outro lado, há também uma insurreição do saberes eruditos: das tradições, dos conceitos, das teorias que haviam sido vencidas. O caso do debate teórico sobre os commons e a liberdade é um exemplo disso, porque era uma reflexão que havia sido completamente abandonada e derrotada na universidade, e que agora é retomada com muita força.
Então somos parte, como blogueiros, dessa nova luta contra o poder. Contra o direito do poder em auto-proclamar quem é o especialista, que é aquele que tem experiência e quem tem o direito de fazer a experiência. Como disse explicitamente o filósofo italiano Maurizio Lazzarato, “o poder de crítica cabe a cada um de nós, e não apenas aos ‘especialistas’. Nós somos especialistas”.
Eu queria corroborar e refutar essas duas dimensões identitárias (o positivo e o negativo) a partir de algumas leituras teóricas e observações da produção blogueira. Então a partir dessa tensão entre o positivo e o negativo extrairia os fundamentos que todo blogueiro levam em consideração para formar a sua reputação (ou melhor, os seus padrões de conduta). Tudo isso de forma muito ensaística e, até certo ponto, com uma levada filosófica para fazer jus a minha atividade profissional de professor universitário.
I. Todo blog reproduz a cultura da internet.
Todos nós sabemos: ao emergir em 1997, o blog hospedava as linguagens mais amadurecidas da internet. E mais: se tornava o mais novo povoamento da internet. Muitos usuários começaram a ter uma nova moradia na web para além de seus email (primeiro povoamento) e das suas comunidades virtuais (segundo povoamento). O interessante é que o blog vai ser a primeira plataforma madura de publicação que nasce na internet, não guardando nenhuma (eu sou radical nisso), mas nenhuma mesmo, referência a qualquer forma de publicação que o antecedeu. Não tinha, a priori, a necessidade de de transpor nenhum meio físico de informação, tal como se caracterizou o jornalismo online.
A primeira conclusão óbvia é que todo blog é, de forma condicional, uma prática cibercultural. Eu tenho uma experiência de ser professor de jornalismo digital que coloco meus alunos para publicarem blogs, apesar da reação deles, que querem produzir notícias. E noto que a grande dificuldade deles em produzir blog é a adaptação à netculture e o abandono dos princípios éticos de massificação. (Vocês sabem o jornalismo advém da cultura do papel: a durabilidade, a objetividade, a portabilidade, a opinião pública, a massificação, mas também o descarte, a efemeridade, a exclusividade e, principalmente, o passado. O Mcluhan dizia que o papel – na verdade, o livro – inventou o público e o individualismo. Então, meus alunos querem falar com o grande público, isolado e passivo. E a internet é uma ruptura com a massificação. Nunca na internet haverá uma publicação com a mesma audiência da televisão, por exemplo). Mas percebo que abandonar os princípios de massificação não é um grande obstáculo, mas sim compreender e exercitar os fundamentos da netculture, que é uma memória pesada que está cimentada sobre os ombros de cada blogueiro.
Que fundamentos são esses? Inúmeros, mas quero destacar apenas três, aqueles que estão mais arraigados até hoje na constiuição do ser blogueiro (isso com ajuda ajuda de um especialista nesses fundamentos, o russo Lev Manovich):
- Na rede, “nos identificamos com a estrutura mental de outra pessoa”. Não seguimos o corpo de uma celebridade, como ocorre na sociedade industrial de massa. A internet é um dispositivo de relação entre mentes: é um bio-organismo vivo.
- Na rede, “todos os meios são programáveis”. Os dados são contínuos, portanto, submetidos sempre a uma adaptação individual ao invés da estandartização massificada.
- “Toda cultura digital é marcada pelo princípio da variabilidade”. Cada um seleciona entre uma diversidade de dados a ideologia quer carregar, tornando o original apenas protótipo daquilo que quer recombinar. Todos blogs são meios variáveis, porque servem como versões e protótipos ao mesmo tempo.
No sentido bem amplo, podemos reconhecer três características dos blogueiros que são derivadas dessa cultura da rede:
- Da relação entre mentes, advém entre os blogueiros o princípio da interligação. A ligação é que distingue o blog de qualquer outra publicação. Blogar é se aliar, se associar, se linkar (blogueiro linka blogueiro, se diz). É uma relação contínua com o outro. Aqui reside a cultura do hiperlink (filtro e contexto), a cultura dos memes (influência e partilha), a cultura da conversação (participação e referências múltiplas). A interface dos blogs é preparada para a interligação. Isso é o núcleo genealógico (portanto a raiz) da atividade blogueira.
- Da cultura da programação dos meios digitais, advém entre os blogueiros o princípio da perspectiva individual. O blog é um espaço protegido. Ninguém revisa o que você escreve. Portanto, não há checagem de ninguém, você não tem de responder perante a ninguém. É uma experiência, deste modo, de alargamento da compreensão pública da vida. E, em geral, essa compreensão se distinguem das versões do poder. É por isso que detestamos blogs que se detêm apenas a reproduzir conteúdos já padronizados, logo, conteúdos que reproduzem o poder. Isso porque, na raiz da estandartização, existe a busca pela fixação da compreensão a um único relato, a um único texto.
- Da cultura da variabilidade, advém entre os blogueiros do princípio da mistura. Eu queria reforçar esse princípio porque tem muita relação com a questão biológica. O Richard Dawkins que afirmava que ao se tornar múltiplo, hibridizado, sabemos que o corpo fica mais forte, mais resistente. E há a perda natural do original. É a diferença o que une os blogueiros. Nesse sentido, eu sou do grupo que considero o blog algo absolutamente inclassificável. E acredito que ele é um gênero literário. Blogar é uma experiência que, paradoxalmente, estimula dois movimentos: puxar e empurrar, graças ao fato de cada post possa se dividir em comentários e hiperlinks que conduzem o leitor para um outro lugar com as mesmas característica de divisibilidade.
II. A moral blogueira e a questão da reputação
Eu dizia que concordo com a tese de que a unidade do blogueira reside no fato de ser o blog resultante da cultura da internet. Mas que era contra a visão de que a blogosfera não contém uma ética. Essa é uma crítica pesada. Não sei se vocês sabem a dimensão que isso causa quando alguém diz a um outro que não possui uma ética. O filósofo francês Michel Foucault gostava de ressaltar que nos tornamos sujeito – portanto, ativos no mundo – quando adquirimos uma ética; quando somos preenchidos de valores que fazem afirmar nossa singularidade, nossa diferença, nossa pulsão, nosso desejo de vida, nossa “vontade de poder” para citar o Nietzsche. Então quando dizemos que o blogueiro não é um “sujeito ético” significa uma acusação, significa que ele não é capaz de agir sobre o mundo, não é capaz de transformar a si. A ética é esse carregamento de valores que constituímos para nós como algo que nos difere e que nos movimenta. E que nos faz conhecer a si e aos outros.
Mas, num lugar como a da blogosfera, onde há uma fragmentação absurda do saber, onde se fala muito e se ouve pouco, onde parecemos nos sentir mais isolados do que em comunhão, será que é possível dizer que formamos um corpo ou seríamos apenas uma simulacro de nós mesmos? Somos um movimento social ou somos apenas imagens oportunistas e exibicionistas? Somos permeados de vontade de poder ou somos portfólios prêt-a-porter? Mais uma mercadoriazinha com seus valores de uso e troca ou um trabalho que nega ser comandado? Eu sei que essas questões ainda não estão bem resolvidas. Contudo, eu queria colocar isso bem num âmbito político para enfrentar essas questões espinhosas para chegar ao coração das práticas de reputação na blogosfera. É preciso, como fizeram os gregos, criar o Outro, criar aquilo que não é como uma estratégia antropológica para se dizer o que é. Trocando em miúdos: nós, blogueiros, quem somos e o que não somos? Eu estudo, do ponto de vista do materialismo, então parto da premissa que “somos o que construímos” numa relação de força contra força.
Então eu queria responder esse dilema ético do “ser ou não ser” a partir da análise de como se constrói o blogueiro para depois extrair daí as estratégias de julgo associadas esse mundo, que estão presentes na práxis blogueira. Vocês sabem, reputatus, significa renome que vêm da capacidade de julgo, de diferimento, de consideração. É uma avaliação que nos escapa: é uma atitude amorosa, à medida que se depende do outro. Mas dependendo do que se seja, de como nos definimos eticamente, a capacidade de distinção também é uma ou outra.
Para mim, nós, blogueiros somos tipos de pessoas motivados pela “partilha da informação, pela construção de uma reputação e pela expressão livre da opinião pessoal”. E o que nos funda é a ligação, é a relação com o outro, é o link, a referência. Blogueiro linka blogueiro, eis a nossa fundação ética no campo da informação. Diz a Rebecca Blood, “é a ligação que confere credibilidade aos weblogues, cria uma transparência impossível de atingir noutro meio de comunicação. É a ligação que cria a comunidade em que o weblogue se enquadra. É a ligação que distingue o blog da escrita dos meios tradicionais”. Partilhar informação (links) ornando-a com sua expressão é o que vai torná-lo respeitado. Mas, sem sombra de dúvida, é “a produção de um ponto de vista, a capacidade de seleção de links e a experiência de vida do autor” que vão demarcar a sua reputação no seio dessa tribo. A reputação do blogueiro tem haver com sua capacidade de ser um perito. E, pela primeira vez na história da comunicação, a verdade é construída sem a necessidade de hierarquias no plano da subjetividade.
Hoje podemos dizer que a reputação é resultante de um conjunto muito diversificado de operações. Mas julgar é algo que requer tempo. As idéias requerem tempo, já dizia Platão. Fiz um compêndio do que autores que têm estudado a blogosfera tem a dizer sobre a conquista de uma reputação em blogs:
– Escreva só para você. Você é o seu único público.
– Concentrar-se num assunto específico. A identidade é a base da reputação.
– Indagar-se sempre sobre por que está direcionando um link e ou por que escreve sobre um assunto. No mundo da blogosfera, a reputação nasce dos links que você sugere. A confiança é fator decisivo na formação da reputação.
– Quem passa de perito para “personalidade da web” perde reputação porque se orienta por questões não mais centrais ao foco do seu blog.
– Analise a imagem mental do seu público para que não publique nada inadequado. A reputação cresce quando o conteúdo do blog coaduna-se com o gosto do público. Se escreves sobre gastronomia, talvez o público não seja muito fã de suas impressões sobre o filme que você assistiu com seu filho.
– Não recomende de imediato uma notícia que tenha gostado. Pesquise, compare versões e direcione ligações para aquelas mais aprofundadas.
– É preciso ter uma presença online pró-ativa e colaborativa para além dos blogs. Mas não pratique a adulação e não seja submisso. O importante é a ponderação, a sinceridade e a posição discordante respeitosa.
– Ignore os conflitos.
– Não queira ser um “vendedor de audiências” como faz a televisão. A longo prazo, você é visto como um mercenário. E sua voz terá pouca força de reputação de conteúdos na comunidade blogueira, apesar de ter popularidade.
– Publique aquilo que é verdadeiro. A verdade é o limite da liberdade da expressão.
– Qualquer erro deve ser corrigido publicamente.
– Nunca destrua um post. Se não tem certeza de sua opinião, não a publique.
– Revele os conflitos de interesse em torno de uma idéia ou fato.
– Faça ligação para links de conteúdos que você discorda.
III. Notas conclusivas: sobre críticas à moral blogueira
Eu queria terminar apontando alguns dilemas éticos que nos atravessam e que afetam a construção da reputação blogueira em comunidade. E comentar um pouquinho cada um desses dilemas:
1. Os links incestuosos ou a endogenia mafiosa de alguns blogueiros. No jornalismo uma das coisas mais danosas é que o jornalista só lê jornal. Isso faz com que as notícias sejam sempre as mesmas. Dizemos, isso é uma tautologia. No caso dos blogs, o nosso problema é ficar restrito a poucas fontes, geralmente aquelas que alcançaram um papel de hub no nosso campo. Quando ficamos restrito a um mundo restrito, impedimos que perspectivas distintas. Então seria muito bom que todo blogueiro convocasse e linkasse blogs com pequena audiência, isso como um hábito mensal ou semanal. Isso não é só um questão que produz empatia, mas que valoriza o novo, valoriza a comunidade. Sabemos, com a nossa experiência de mídia de massa, que repetição gera saturação na imagem.
2. Pouco esclarecimento de notícias, e mais pontos de vista sobre elas. A função da blogosfera é fazer uma insurreição na velha hierarquia saber especializado x saber profano, como já havia colocado. A grande força da blogosfera é constituir uma excesso de ponto de vista para retirar o sentido único que geralmente contém uma notícia ou até um post. Muitas vezes há uma reprodução da agenda midiática, uma importação cega, para o blog ficar dentro da agenda da imprensa. E assim ganhar mais atenção. Não adianta o cara dizer que a saúde do Steve jobs anda ruim. Significa sempre que ele está à reboque de um outro mídia. A questão é então o que significa isso para o mercado de tecnologia, para a história da informação, para o futuro da Apple etc.
3. A repetição, a previsibilidade e o ar de completo. É importante o raciocínio que nosso conteúdo é aberto, portanto, sempre há uma lacuna que queremos deixar de tê-la. Quando repetimos o que já dizemos, somos previsíveis, produzimos redundância negativa, uma entropia. É como ouvir um palestrante repetindo o mesmo argumento. A repetição deve ser um recurso para ativar uma memória. Somente, penso.
4. As reações convencionais no lugar da interpretação genuína. Não se torne um jogador de futebol. Sabe aquela coisa de repórter no campo, jogar saindo do vestiário e aquele depoimento: “Respeito o adversário, será um jogo duro, mas estamos preparado para ganhar”. Então esse vazio argumentativo é depreciativo. Uma coisa é ser ponderado, outra coisa é ser submisso. É preciso que sua voz ecoe na blogosfera, através de argumentos que fazem parte de seu ponto de vista.
5. Pautar-se exclusivamente pelos assuntos do momento (caçadores de paraquedistas). Não se estresse: sempre haverá alguém com público maior que o seu. “Não confunda a atenção que presta ao público com o objetivo de impressioná-lo”.