@choravilavelha: jornalismo p2p e o homem público das redes

Por que o @choravilavelha se transformou no evento fundador do jornalismo p2p no Espírito Santo?

Para aqueles que não sabem: @choravilavelha é um perfil no Twitter cujo principal objetivo é retuitar reclamações sobre a cidade de Vila Velha, no Espírito Santo. Hoje, dia de finados, movidos pela indignação contra alagamentos e caos urbano provocados pela chuva constante que cai sobre a cidade, internautas de Vila Velha deixaram o habitual orkut-email-msn-google e partiram, no Twitter, para uma campanha contra o prefeito da cidade, que virou Judas, depois de publicar no microblog, que acompanhava, da China, notícias sobre o estado de emergência por qual a antiga capital do ES passa.

O meme #choravv se espalhou pela web 2.0. Até o final da tarde, já passavam de mais de 500 comentários nos microblogs. O ponto mais alto da conversação virtual foi quando o prefeito da cidade, @neucimarfraga, erra o código para enviar uma mensagem privada (direct message) a um jornalista-tuiteiro, tornando-a pública:

d-ximenes65- se insistir no tratamento pessoal, poderemos conversar no tribunal.

Depois da ameaça do prefeito, a reação foi ainda maior, entrando agora em cena os jornalistas da cidade, que numa ação corporativa (do sindicato ao chefe de redação de um dos jornais) condenam, via Twitter, o ato do prefeito. Já, neste momento, o @choravilavelha vira o principal veículo da cidade, gerando um “efeito jornal” nos internautas capixabas, ou seja, sendo o porta voz da indignação cidadã contra a política municipal que, para além da boa vontade do governo local, chegava a 10 meses de administração, com ruas em obras (de forma absolutamente desorganizada), alagamentos em inúmeros pontos da cidade, buracos infinitos…

a era do jornalismo p2p

O @choravilavelha abre a temporada do jornalismo p2p no Espírito Santo, à medida que sem edição, publica todo tipo de manifestação, mesmo aquela que vá contra o desejo e os interesses dos autores do chora. Como uma espécie de Napster do jornalismo, faz com que os internautas tenham acesso ao que toda rede escreve de crítica à cidade de Vila Velha, de forma direta, ponto a ponto, criando ao mesmo tempo um grande mural conversacional e instaurando uma comunidade virtual.

Mas o que o @choravilavelha reflete é um alteração densa nos processos de formação da opinião pública. A opinião sempre esteve atrelada àqueles que detinham a capacidade de irradiar informação. Hoje essa capacidade está em todos os lugares virtuais, fazendo com que o conceito de notícia se caduque com enorme facilidade. O caso de hoje é exemplar: foi possível ver fotos, relatos, depoimentos em texto, vídeos sobre o caos, publicados por cidadãos de diferentes partes da cidade de Vila Velha. Tudo de forma direta, usuário para usuário, ponto a ponto (p2p). Portanto, o “efeito-imprensa” atravessou toda a web canela-verde, de forma que todo cidadão passou a produzir sua própria notícia da desgraça que cai sobre o município.Com a popularização do computador e da internet, jornal, Tv e rádio – hoje afastados da dinâmica concreta da cidade (mergulhados num jogo de dependência político-financeira com setores conservadores) – veem seus públicos criarem seus próprios canais de comunicação, fazendo com que só reste para si um público facista, aquele que se diverte vendo “acidentes de trânsito e homícidios entre os pobres”.

Mas a novidade de hoje não somente essa possibilidade do usuário produzir notícias (aliás, isso já é sabido há pelo menos dez anos). O que é radical hoje é o fato do internauta poder cultivar o seu público. Um público poderoso porque, na verdade,na internet não existe públicos, mas parceiros. Internet – para o bem ou para o mal – só funciona a partir da lógica da parceira (veja a busca delirante dos jornais em colocar o usuário para dentro da produção da notícia). Então essa nova geração de publishers são potentes porque sabem cultivar menos públicos e mais parceiros. Essa é a grande diferença entre o jornalismo p2p e o u2m (um para muitos). O @choravilavelha é produto de um jogo de parcerias, por isso que fazem funcionar uma netwar, que desloca o conceito que temos de “homem público”, porque demanda deste uma relação direta, sem intermediários, sem maquiagens, com a população.

um dilema: a lógica pastoral dos profiles

Foi o Richard Sennet que afirmou que, nessa época de publicização da intimidade, reina a tirania, porque aqueles que são capazes de mobilizar mais fãs (ou amigos), a partir de valores pessoais e consumistas, conseguem destruir reputações públicas. É verdade: há nisso tudo um enorme campo de contradição, sobretudo, se pensarmos que parte da internet é feita de scripts, macros, spammers, obsessões exibicionistas, ególatras e outras coisas mais, que juntos são capazes de gerar uma massa de subjetividade que se edifica a partir da idéia de que, ao irradiar mensagens, repetindo-as, replicando-as, é possível ter mais força online. Trata-se do velho “efeito de massa”. Não é à toa que o pesquisador Henrique Antoun vai mostrar que o principal antagonismo hoje, na internet, deriva da tensão entre a comunicação distribuída dos grupos e a comunicação irradiada dos fãs.

A ameaça a qualquer ação p2p é exatamente a de transformá-la em uma orda de pequenos fanáticos (fãs). Em vários momentos, percebeu-se que muitos movimentos dos usuários do @choravilavelha reproduziam o ideário do fã: crença inesgotável no ídolo e, na mesma proporção, a descrença naqueles que dele discordam. Quando isso ocorre, o profile torna-se pastor e não um jornalista (usando o termo como metáfora, como aquele que quer aglutinar todas as expressões sobre um acontecimento). A ética pública precisa ser a ética do comum. E o comum é a aglutinação da diferença social. Contudo, o @choravilavelha é uma criação coletiva, mobilizado a partir das margens. Transformou-se num espaço de catarse. Dali não sairá um grande movimento social, mas criou um lugar, uma diferença, importante num momento em que vemos fãs para tudo que é lado.

Assumir o efeito-imprensa significará, cada vez mais, para os bons perfis das redes sociais,  fazer passar a sociedade, numa relação de diálogo, de conversação. Sem ameaças, sem fanatismos.

Sobre a política em tempo de web 2.0

Neucimar Fraga, nosso prefeito, já aprendeu a lição. Sua atitude autoritária, de usar a velha política da ameaça como forma de lidar com a crítica, foi absurdamente refutada online e offline. Na prática, sem saber, os políticos – sobretudo aqueles ligados à política local – vão ter de aprender a viver com a crítica direta advinda da internet. Na verdade, a internet pode ser um grande espaço de liberdade do político em relação àquele marqueteiro oportunista que vive de modular a imagem do político na mídia de massa. Pode ser uma forma de experiência direta, de conversa direta. São muitas as possibilidades de atuação pública do político nas redes.

Eu só queria pontuar uma coisa importante. A internet é uma mídia viva. Nada se perde nela. É interessante notar que uma das formas de ativismos contra Neucimar tem sido a recuperação de suas mancadas históricas, como aquela lei contra o homossexualismo que defendia de forma preconceituosa. A rede levanta essas mancadas (traz entrevistas, artigos etc do prefeito) e bota pra circular de novo. A rede é memória. E a memória é o que constitui o vivo.

Se blogs, microblogs etc são ou não imprensa, isso é questão para aqueles que ainda estão na era analógica, que creem que só eles são capazes de “atualizar” a população.

Novos ventos no Espírito Santo, apesar da chuva.

De Volta para o futuro

Proposta de Novas diretrizes curriculares de jornalismo empurra curso para uma concepção reacionária na formação, não percebendo que as novas práticas do fazer jornalístico não passam pelo estágio, mas pela produção autônoma de veículos, que são a cada dia criados e mantidos pela sociedade em rede.

Escrevo esse artigo, que trataria da relação das chamadas mídias livres no campo da comunicação social, no momento que sai a proposta das novas diretrizes para o curso de jornalismo. Inevitável mostrar como o cenário do midialivrismo gera reação até onde seria o campo da recepção das novas demandas sociais: a formação acadêmica. De antemão, não há muitas novidades nas diretrizes para o ensino de jornalismo, senão uma tentativa de posicionarem-se diante ao fato cabal de que o campo da comunicação social se tornou mais elástico e rico, e o campo do jornalismo, mais restrito e corporativo. É nessa tensa relação que as diretrizes foram geradas. Novidades radicais: estágio supervisionado obrigatório e separação do curso de jornalismo do campo da comunicação social. O restante é chover no molhado, só atualização às novas necessidades.

No entanto, muitos do problemas dessas diretrizes estão associados ao fato de nascerem fora de lugar, dissociadas das decisões do Supremo Tribunal Federal, que gerou o fim da exigibilidade do diploma de jornalismo,  a queda da lei de imprensa e do acórdão que entende a internet como espaço da liberdade absoluta.

As novidades das “novas diretrizes” são um trágico “de volta para o futuro”. Elas apontam muito mais para trás, mesmo que exista uma boa fé daqueles que pensam em estar olhando para frente.

Quem institucionaliza a formação em jornalismo?

Uma questão concreta, um interesse concreto. Aqui na Universidade Federal do Espírito Santo, propomos um novo curso de especialização lato sensu, em jornalismo. O foco é ser uma especialização teórico-técnica aberta a todos os profissionais graduados, como queremos e a justiça também. Ordem do Supremo. Não podemos, por lei, dizer que somente graduados em jornalismo podem fazer o curso de aperfeiçoamento, nível pós-graduação lato sensu, em jornalismo. Claro que também é uma atitude política. Queremos qualificar a formação do campo dos não-jornalistas, graduados em habilitações da comunicação social e outras áreas, que agora são jornalistas, de direito.

Ao mesmo tempo as novas diretrizes permitirão que a graduação em jornalismo não será mais uma habilitação da comunicação social. Nada de delírio sulamericano, pensam alguns, que acreditam que essa coisa de comunicação social é abstrata demais e impede o ensino de jornalismo de focar mais no fazer jornalístico.

Mas veja o nosso caso aqui de Vitória como vai no núcleo da “questão da formação”.

Se um dia, um departamento, como o nosso, propor fazer uma pós-graduação lato sensu de jornalismo, com foco no “campo profissional”, será que o curso/departamento de jornalismo iria dizer o quê? Não, pelo amor de Deus, é só na graduação de jornalismo que aprendemos a fazer fotojornalismo, pelo amor de deus é só na graduação de jornalismo que aprendemos a fazer telejornalismo? As diretrizes curriculares do campo profissional vão impedir cursos de jornalismo lato sensu nas universidades públicas e faculdades privadas desenvolvidos por professores, que são jornalistas, mas que atuam em outros cursos de habilitação da Comunicação Social ou em outras áreas da Humanidades?

Veja que essa idéia de criar um “campo profissional” dissociado de um “campo de conhecimento” pode gerar uma dinâmica de guerra na área. Eu, se estiver num curso de audiovisual ou de economia, para usar exemplos concretos, posso propor um curso de jornalismo em nível de pós-graduação lato sensu, quer o departamentto de jornalismo da minha instituição queira ou não. Eu posso propor, e a instituição superior de ensino aceitar criar um curso de especialização com todas as disciplinas técnicas do jornalismo. E aí, de novo, quem vai me proibir? Ninguém, porque as diretrizes querem separar a formação  de jornalismo da área de comunicação no nível de graduação, mas não no de pós-graduação, porque neste o que vale é o fato de jornalismo ser parte do grande campo de conhecimento chamado Comunicação Social. E daí o discurso do jornalismo como apenas campo profissional não cola. Dessa forma, o nosso curso de lato sensu para profissionais “do” jornalismo é absolutamente algo legitimado institucionalmente e traz, de volta, a junção daquilo que a comissão sugere separar: o jornalismo como uma faceta do campo da comunicação social. Eu posso formar jornalistas, graduados em qualquer área, no nível de pós-graduação, independente da formação que o estudante possa vir a ter.

Então, no lugar de fortalecer os cursos de jornalismo, a proposta acaba por criar um conflito entre áreas da comunicação social que pode, em última instância, fragilizar as graduações, senão até acabar com muitas delas, porque, pela lógica, só poderão estar dentro dos cursos de jornalismo graduados em jornalismo. Lembre-se, para comissão, o jornalismo é campo profissional e não campo de conhecimento. Eis aí a primeira volta para o futuro. Enquanto a sociedade radicaliza a comunicação social (pressionando pela ampliação de direitos no campo da comunicação), aqueles que formam jornalistas querem dissociá-los das dinâmicas concretas da sociedade.

Pela lógica, o estágio supervisionado é ilegal

Não podemos esquecer que temos uma dimensão constitucional nova sobre o que é jornalismo. O fim da exigibilidade gerou viúvas, sabemos. E aí, essas diretrizes podem estar é acabando com os cursos de jornalismo, na maior boa fé.

Essa coisa do estágio supervisionado é uma atidude pedagógica reacionária, repressiva, mesmo que, repetindo, exista uma boa fé nisso. Num contexto em que a sociedade produz comunicação (e jornalismo como uma das suas linguagens), como eu vou pedir pro cara que cursa jornalismo e tem um blog indepedente de jornalismo político fazer estágio na editoria de política do jornal local? Como eu vou pedir pro cara que atua num coletivo de jornalismo independente, que mistura, cinema, audiovisual, produção gráfica, computação, sociologia, teoria da comunicação, etc, e ganha uma grana com novas formas de sustentabilidade profissional, a passar pelos “postos de trabalho” da fábrica fordista? Eu, que tenho minha revista online, com 10 mil acessos dia, focada em jornalismo cultural, vou ter de fazer estágio onde? Esses são exemplos reais, pois estamos num cenário de radicalização da comunicação social e de esplendor para o jornalismo. E o pior que nem sou somente eu quem diz isso, é só fazer uma pesquisa básica no Google e encontrar entrevista do editor do Washington Post Philip Bennet,  publicada no jornal El Pais, comentando o fato de ter demitido 250 jornalistas nos últimos três anos: “tive que fazer isso com um paradoxo sempre na mente que estamos a viver uma época terrível para empresas de notícias e uma era de ouro para o jornalismo”.

A proposta dessas diretrizes quer – de novo, com a maior boa fé – é retomar a proposta de exigibilidade do diploma, mas só para uma classe de trabalhadores, e pasmem, para os jornalistas. Reparem a lógica. O cara que faz jornalismo terá que fazer estágio. Onde? Nas redações e ambientes institucionais. O estágio poderá ser feito apenas em “instituições” (com curioso detalhe que poderá ser em assessoria de imprensa). De qualquer forma, o estágio recupera a velha  concepção da fábrica fordista (estudante primeiro, produtor depois). Assim, o fazer jornalismo fica condicionado, nas faculdades, a um estágio, portanto, dentro das redações (no sentido mais amplo possível do termo, por mais irônico que isso seja, para aqueles que pensam em jornalismo, legitimando o jornalismo de uma fonte só). O cara fica quatro meses, no mínimo lá no local, depois, pé na buzanfa.

Nessa lógica, não pode existir jornalista formado sem residência. Contudo, o que vai acontecer? Só é jornalista graduado aquele que passar pela dimensão corporativo-sindical. Com um avanço (rs), o cara que for fazer estágio não entrará como estudante, mas como JORNALISTA, porque legalmente o ESTÁGIO EM JORNALISMO É UMA FICÇÃO. Com o fim da exigibilidade do diploma, não se pode criar, nas redações, a figura do estagiário. Ninguém sacou que o fim da exigibilidade deixará o sindicato dos jornalistas rico? Então essa de estágio é ilegal nas redações, porque a atuação jornalística não requer diploma e o estudante terá que ser contratado como profissional ou, o pior, ser contratado lá pela organização como um estagiário de serviços gerais, para fugir das normas que regem a legalidade em questão. Com a decisão do Supremo, esqueçam, não pode haver “estagiário em jornalismo”, só jornalistas.

Mas o pior, cômico e trágico ao mesmo tempo: o cara que cursa História poderá fazer jornalismo sem passar pelo estágio. É verdade, poderá. Mas o cara que já é jornalista, e cursa jornalismo, não pode ser jornalista se não fizer estágio. Então, as diretrizes, com todo respeito, pioraram a situação para quem quer fazer jornalismo, porque só é “jornalista quem for fichado”. E o pior: nenhuma redação vai querer contratar o cara, num regime de trabalho CLT, para ficar trabalhando apenas um ano, porque depois vai ter de demitir e pagar todos aqueles encargos que empresário  não gosta de  pagar (40% de demissão etecetera). O estágio inviabiliza os cursos de jornalismo no país porque, na verdade, não existe mais conceito de estágio em jornalismo. Quem for atuar no jornalismo, por não exigir diploma, precisa ser sindicalizado como tal. Se existe residência em medicina, não haverá no jornalismo. É por isso que os cursos de residência em jornalismo no país não pagavam, e vão continuar a não pagar, um centavo para os nossos estudantes, porque se trata de uma benevolência do grupo de comunicação em ensinar o jornalismo a partir das suas regras editoriais. Agora com a obrigatoriedade do estágio as coisas melhoram para o empresariado (apesar do contrato de estágio fake que terão que criar, como já criam, diga-se de passagem). E agora, de volta para o futuro, a comissão recorre no esquecimento da decisão do Supremo. Nada de estágio, vamos assumir, dentro da CLT, o trabalho jornalístico profissional, seja ele de um garoto de 18 anos ou de um senhor de 60.

Mas o pior não é a interpretação caduca da comissão. Mas é a visão mesmo de que só há jornalista se houver o estágio institucional. O estágio supervisionado obrigatório é rescaldo da cultura do aprisionamento do fazer jornalismo como uma atividade corporativo. E “tá na cara” que inseri-lo no currículo pode criar uma situação de inconstitucionalidade. Afinal, impor-se-á uma obrigação na formação que não tem amparo legal, à medida que o estudante pode atuar na produção de jornalismo antes ou depois de formado, tal como o estudante de audiovisual ou de história que podem, agora ou amanhã, atuar no jornalismo. Valerá à pena fazer o curso de jornalismo à medida que este coloca a barreira do estágio como condição para ser jornalista?

Para mim, a questão passa é por romper essa dimensão disciplinar do estágio. O que significa afirmar que a gurizada precisa fazer o que curte hoje: criar suas próprias mídias, de forma autônoma, inclusive, em relação ao próprio professor. Para que somente ter a moral do escravo entre nós? Não, não, não. Hoje podemos construir nossas próprias mídias e viver delas. Há tantos exemplos, tantos, de inovações jornalísticas, na rede sobretudo, que não passam por ter um chefe, que fica difícil apoiar essa história de “obrigação do estágio”, porque este exclui as novas práticas sociais de mídia livre, em que ter seu próprio veículo é condição de estar no mercado de trabalho. Então no lugar da moral do escravo, temos é que criar a moral do empreendedor coletivo que articula diversos saberes na produção de veículos jornalísticos para além de ter um patrão. Mídia Livre nos currículos de jornalismo para conseguirmos ter a oportunidade de produzir novas linguagens, novas oportunidades de trabalho.

Os empregos continuarão a existir.

Os espaços institucionais não cessarão. Estarão sempre à disposição de talentosos jornalistas (formados ou não em jornalismo/comunicação social). Mas, veja bem, eu não sei se uma entidade poderá criar estágios em jornalismo, repito. Já estamos a ver concursos públicos que abrem vagas de jornalismo, mas que não pode priorizar aqueles formados em jornalismo. Os gestores que fizerem essa priorização pode ver o concurso público sendo questionado na justiça. E no campo da redações profissionais é o talento e a obediência (não é vero?) à cultura organizacional que vai decidir a parada. Enquanto isso centenas de jovens talentos já estarão produzindo os seus próprios veículos, quase sempre de forma coletiva, junto com carinhas que são cineastas, publicitários, designers, programadores, matemáticos, cientistas sociais etc, num processo incrível de mistura de conhecimentos para criar histórias contemporâneas. E não há dúvidas que é nessa maioria que a inovação deve passar, o que não inviabiliza que a “grande mídia” pesque alguns desses talentos, remunerando-os de maneira digna (oremos!).

Então, vejo, como dentro da normalidade que alguns professores de jornalismo tenham receio da cultura da comunicação social (que vemos hoje na própria internet). Mas é dela que precisamos. Sei que o termo “comunicação social” pode soar muito abstrato para esses professores, de fato, é. Mas, para mim, se trata apenas de um termo para mostrar o óbvio. O processo sempre aberto do campo da liberdade de expressão. Nossa constituição tem lá, o capítulo Da Comunicação Social. O termo não é só acadêmico, mas constitucional. Não se trata de ter uma perspectiva estruturalista no campo. Ao contrário, é entender que a dimensão da comunicação social é exatamente o que o “novo jornalismo” deve ter como horizonte profissional. Perder a dimensão comunicacional é perder parte da ética jornalística e das dinâmicas concretas de exigência de democratização da comunicação, porque o jornalismo é feito das diferentes linguagens, práticas e éticas que estão circunscritas ao domínio da comunicação. O que eu posso fazer se os americanos pensam a formação de “jornalismo como curso de jornalismo”? Veja lá a situação dos caras. O processo intenso de disputa com o campo da comunicação social, que se insurge contra ou chacoalha o “campo profissional de jornalismo”. A situação americana é esta. E a gente aqui dizendo que o campo da comunicação social é coisa menor para o jornalista, enquanto aprovamos uma legislação eleitoral que afirma que todo cidadão deve ter direito à produção da informação, quer os políticos queiram ou não.

O que é isso, companheiro? A luta, de hoje, significa trazer a cultura do remix para dentro do jornalismo. E não excluir dele as novas linguagens originadas dentro da comunicação social, que tem hoje a rede como seu principal paradigma.

Este semestre dou aula para o jornalismo e o desenho industrial, no mesmo espaço, no mesmo dia. Descobri que não tem como pensar narrativas multimídia dissociadas do campo do design e da programação. Antes, os meninos e meninas de jornalismo faziam conteúdos bem legais, mas, o que adiantava, se não sabíamos programar e potencializar ainda mais o grau de conhecimento aplicado na produção de reportagem. Então resolvi radicalizar. Botei todo mundo na mesma sala. A galera do design discute personagens, narrativas, iconicidade dos personagens etc. A galera do jornalismo design, formas de organização da notícia dentro das narrativas do multimídia, programação php e desenho a partir da lógica CSS. Isso para mim é comunicação social. É radicalizar o princípio da comunicação social. A galera vai produzir seis especiais jornalísticos multimídia. Reportagem com profundidade a partir da hibridização jornalismo + design + informática.

Só penso nisso porque fui formado em comunicação social, habilitado em jornalismo. E não quero fazer a viagem “de volta para o futuro”. Não me façam tirar os alunos do design e sistema de informação da minha turma de laboratório de jornalismo online.

Meus antigos professores, vocês estavam certos. É a comunicação social que está sendo radicalizada hoje. Deixem os americanos e os europeus na crise. E assumam o devir latino-americano do jornalismo como “comunicação social”. É como diz o Roberto e o Erasmo, “Não dê ouvidos a maldade alheia / E creia / Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo / Meu bem / meu bem / Use a inteligência uma vez só / Quantos idiotas vivem só / Sem ter amor / E você vai ficar também sozinha / Eu sei porque …”.

Blogar com censura

Via GeneracionY, testemunho de como blogar é vital quando se estar sobre regime de censura.

Quando se ha vivido en medio de consignas, arranques voluntaristas de unos pocos y tareas obligatorias, el deseo personal se convierte en una meta a reconquistar.

Em Cuba, Yoani participa de uma itinerância de formação de blogueiros cubanos. Blogar é uma questão de militância. Porque possibilita a ampliação de muitas vozes, sobretudo, as dissonantes.