Como fazer, com telefone celular, cobertura jornalística em tempo real

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A convite do Itaú Cultural, ministrei uma palestra sobre como realizar cobertura multimídia, em tempo real, de eventos culturais. E, provocado pelo Claudiney Ferreira (gerente do Rumos Jornalismo Cultural), publico aqui dicas de como fazer uma cobertura multimídia que explore bem a mobilidade e o livestreaming.


Com a popularização dos smartphones, os telefones celulares tornaram-se equipamentos poderosos para o trabalho jornalístico. Saiba como você pode realizar coberturas jornalísticas aproveitando ao máximo a tendência mais importante deste ano: a mobilidade e o streaming.

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Sem dúvida, uma das características da atual fase da internet é a ampliação de ferramentas que a conecta aos dispositivos móveis de comunicação, principalmente, o celular. A tal “fase da mobilidade” está só no começo. A possibilidade de registro da vida em tempo real tornou-se a própria marca da fase 2.0 da web, o que desencadeia críticas à alta visibilidade da imagem pessoal e, de certa forma, à saturação do consumo da intimidade alheia.

Essa publicização dos fatos cotidianos ocorre porque, de um lado, as pessoas interessam-se em se transformar em perfis de redes sociais, criando para si uma demanda por produção de informação pessoal contínua; e, de outro lado, há uma facilidade de transmissão de dados da máquina do usuário para os sites que hospedam conteúdos na internet. Na prática, através de telefones celulares ou de computadores conectados à internet móvel ou fixa, é possível publicar, em tempo real, mensagens de textos, vídeos ao vivo, fotografias instantâneas, enfim, toda uma gama de conteúdos que são hospedamos diretamente nos respectivos perfis de redes e mídias sociais, que, potencializam o espalhamento desse conteúdo por abrigar e interconectar material multimídia de produções amadora e profissional (youtube, flickr, qik, etc), bem como publicá-lo diretamente nos perfis de sua respectiva rede de amigos.

Não é à toa que esse modo de difusão é chamada de livestreaming, uma corrente contínua de dados/informação que consumimos e transmitimos nos nossos perfis de redes e mídias sociais sem qualquer tipo de interrupção. No modelo da web 1.0, a narrativa online era produzida sob o modelo da página principal (homepage), cujos conteúdos eram editados e de propriedade do autor do site. No modelo 2.0, o usuário não tem “home”. Tem “timeline”. um novo tipo de interface que mostra as últimas atualizações publicadas pela sua rede de amigos, fazendo com que as mensagens individuais sejam apenas uma pequena parte do fluxo d´água que faz movimentar o curso do rio (mídias sociais).

A cada instante, a timeline se atualiza, num processo contínuo de renovação, permitindo ao usuário vivenciar a experiência singular de descarregar e reproduzir uma notícia imediata, com um tempo de espera mínimo. Na concepção radical do design da timeline há a extrema dependência pela produção colaborativa. Se você não tem amigos, não será lido. Se não é amigo de muitos, não tem acesso àquilo que todo mundo comenta. Portanto, as redes sociais operam dentro de uma esfera pública midiática curiosa,pois que o público não é “formado pelo veículo”. Ele é anterior ao veículo. O dna das redes sociais é o autor, na forma de perfil, mas um autor que só existe, se antes, se interconectar com outros autores. Então, nas redes sociais, a priori, não há público, senão uma comunidade de autores.

Unindo comunidades de autores, dispositivos móveis de comunicação, internet 3G, tecnologias de transmissão via streaming e redes/mídias sociais, podemos montar um novo ecossistema para fazer circular notícias e conteúdos multimídia. Minha experiência com transmissão livestreaming de eventos, sobretudo os culturais, permite enumerar alguns passos fundamentais para que você possa aproveitar toda essa nova cena midiática. E atue firme na produção de um jornalismo que se beneficie de valores como mobilidade, instantaneidade, atuação em rede, participação e compartilhamento.

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1. Nunca deixar para fazer testes no dia do evento.

Não inventa de instalar aplicativos novos no seu celular no dia que você vai fazer uma cobertura. Não faça testes com câmeras ou qualquer outra nova tecnologia no dia do evento. Não invente uma nova seção no site. Faça todo tipo de testes antes da data do trabalho.

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2. Crie vários canais na internet, depois integre todos eles a um blog (com domínio próprio).

Tenha um canal no Youtube (vídeo), no Flickr (foto), no Qik (vídeo ao vivo), no Tumblr, no Livestream, no Twitter etc. Mas é só lembrar: todos esses canais devem ter o mesmo nome. E não esqueça: agregue todos eles em um só blog/site, que terá função de reunir todo conteúdo produzido e, assim, dar unidade editorial à sua cobertura. Se puder ($), evite usar sites de armazenagem de blog como Blogspot e WordPress.com. Isso porque ambos limitam a incorporação de recursos de interatividade ao seu site. Mas, se não tens grana para desenvolver o seu próprio site, opte por criar um blog no WordPress.com. Aí embaixo um vídeo explica como fazer isso:

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O que fazer então, caso queira ter endereço próprio na internet?

Primeiro você precisa criar o nome para o seu site. Faz de conta que você queira o seguinte endereço: coberturamobile.com.br. Com isso definido, o passo seguinte é comprar um endereço (domínio) e hospedá-lo em um hosting (uma Locaweb da vida). Em média, você vai gastar uns R$50 reais pelo domínio (o pagamento é anual) e R$80 pela hospedagem (o pagamento é trimestral). Dica: Quando você registra e hospeda o domínio numa mesma empresa online (como a Locaweb), você acaba ganhando o domínio de graça. Outra dica: na hora de criar o endereço do seu site, opte, se possível, pela extensão .com.br, pois ela está mais fixada no imaginário dos usuários. Seguem aí embaixo um vídeo tutorial que explica como hospedar e registrar um endereço na web. É bem simples.

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2.1 Utilize o WordPress como seu gerenciador de conteúdo (CMS).

Com domínio hospedado, você precisará de um programa que cria um layout do site e possibilite publicar na internet. Para isso, o melhor é o WordPress. É a melhor opção, para mim, de CMS no mercado (alguém aqui terá opinião contrária, com certeza). Para facilitar a vida: escolha um hosting que disponibilize o WordPress instalado. Por exemplo, no meu painel de administração, na Locaweb, já há a opção para se fazer a instalação automática do WordPress (saiba mais aqui). Com o WP instalado, é só se dedicar ao mundo dos temas (layouts) e plugins (ferramentas) que o WordPress oferece. Um site rodando em WordPress lhe dará muito mais possibilidades de fazer o seu conteúdo se destacar na web. Mas, importante: se não tens grana, nem um amigo que saca de WordPress, crie um blog e o integre aos seus canais nas mídias sociais!

Para saber como publicar no WordPress, um tutorial bem legal:

WordPress, do básico ao nem tão básico assim… from Rafael Cirolini on Vimeo.

3. Você pode fazer a apuração sozinho, mas jamais deixe de ter um editor remoto ao seu lado.

Gosto sempre dizer que, numa cobertura mobile, as coisas acontecem, ou seja, os fatos chegam sempre até você. Contudo, isso sempre faz cair por terra um lado do seu planejamento. Ás vezes é “aquela hora” de um entrevista, só que uma pessoa com história bem legal aparece do nada e você quer mais que a entrevista agenda seja cancelada. O extraordinário rola numa cobertura de um vento e é legal que ele tire um pouco daquele planejamento rigoroso do trabalho. Contudo, as “coisas só acontecem” para quem prevê, no planejamento, a edição remota.

Não adianta ficar fazendo vídeos, fotos, textos etc etc, se tudo vai para diferentes canais na internet sem uma organização mínima (coisa mais chata é um vídeo ou uma foto não ter títulos, não estarem tagueados, não estarem, num blog, com um resumo ou uma nota etc). Assim, tenha um editor remoto. Enquanto você está in locus produzindo o seu conteúdo em tempo real, o editor estará, em casa ou no trabalho, organizando o material nos canais online. No Youtube, ele titula e tagueia os vídeos. No Qik, idem. No Flickr, faz resumo e título de fotos. No Storify, organiza, em ordem cronológica, o que você e outras pessoas estão a produzir de conteúdo sobre o evento. O editor cuida do blog e das redes sociais. Se tens mais recursos, tenha dois editores: um para cada uma dessas funções.

4. Tenha um celular com conexão 3G, mas atenção para alguns detalhes.

Hoje investir num smartphone é fundamental para quem quer atuar com cobertura jornalística móvel. Mas não é qualquer um smartphone. É preciso ter um com perfil mais multimídia e que ative, com muita facilidade, as suas redes sociais, compartilhando conteúdos que você produza com agilidade. Há vários modelos no mercado. Mas é preciso estar atento a alguns aspectos:

(1) O celular precisa ter conexão à internet 3G, se puder, adquira um pacote ilimitado. Ou: compre um chip exclusivo de acesso à rede destes que utilizamos com o modem espetado nos nossos laptops. Por quê? Se vc faz transmissão com o pacote de dados com o chip do seu número de telefone, perceberá um grande inconveniente: se alguém ligar para ti no momento que está a fazer um vídeo ao vivo, sua transmissão será interrompida. Porque a chamada terá prioridade, afinal, você tem um telefone, e não um câmera. :) Se você troca o chip do seu telefone, por um de conexão 3G, ninguém vai ligar para ti, mas, pelo menos, não vai ter problema de interrupção daquela sua “grande” entrevista. Resumo: tenha dois telefones celulares. Um para telefonar, outro para produzir conteúdo.

(2) não adianta ter um celular com câmeras muito potentes, porque elas tornam os arquivos mais pesados. E arquivo pesado significa lentidão na transmissão para a internet, principalmente, levando em consideração que os serviços 3G das operadoras telefônicas, por enquanto, não são nada eficientes). Dica: um smartphone com câmera de 5 megapixels já seve para ti aqui no país.

(3) O celular precisa possibilitar acesso à internet via wi-fi. Então, não esqueça deste detalhe na hora da compra do seu equipamento. Afinal, em muitos lugares, o sinal de internet propicia uma velocidade maior que o seu chip 3G. Aliás, se puder, leve contigo sempre um roteador de internet sem fio, porque se há acesso à internet banda larga, você pode plugar seu roteador e propiciar que mais pessoas façam a mesma coisa que você. Quanto mais conteúdo na rede, mais possibilidades de compartilhamento e mais abrangente fica sua cobertura. Afinal, a atenção para um fato está diretamente relacionado à quantidade de pessoas que produz material jornalístico sobre ele. Não tenha medo da competição. Na internet, quanto mais gente falando de um assunto, mais tráfego gera para os seus.

(4) Hoje há dois sites que gosto de usar para fazer transmissão de vídeos, em tempo real, para a internet: Qik e Bambuser. Ambos oferecem a lista de modelos de telefone celular que é compatível com suas plataformas. O link dessa lista está aqui e aqui. Não adianta comprar um celular bacana se ele não possibilita fazer vídeos ao vivo na internet.

(5) Para quem não conhece, há um blog fantástico com resenhas sobre modelos de smartphones. É o Garota sem Fio. Com certeza, ele vai reduzir suas incertezas e ajudar na sua decisão de compra.

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5. Qik, Ustream ou Bambuser, ferramentas que auxiliam no streaming de vídeos via celular. Como instalar e usar?

Qik, Ustream ou Bambuser são ferramentas que permitem que você transmita vídeos e tenha um canal de comunicação na internet. Todos se integram ao Twitter e Facebook (ou seja, você pode se logar em um dessas contas e replicar os vídeos automaticamente . É baixar o aplicativo para o seu celular e apertar o botão gravar (broadcast). De acordo com o modelo do seu celular, haverá mais ou menos serviços. No iphone, você grava em preto e branco. No Galaxy S (roda Android), você faz chat com vídeo com muita facilidade e pode gravar um vídeo e transmiti-lo depois para o Qik. No Nokia n85 (roda Symbian), nada disso, mas em compensação a qualidade de som/imagem é muito melhor que a dos primeiros. Todos os três permitem que, após a transmissão ao vivo,

Defina o sistema que roda no seu celular: Symbian, Iphone ou Android. Depois, o passo seguinte é instalar um dos (ou os) três aplicativos. Para instalar o Qik no seu telefone, é só clicar aqui. Para o Bambuser e o Ustream, o processo é idêntico.

Algumas dicas fundamentais para aquele momento que você está frente a frente com os fatos que você irá registrar com seu celular:

(1) Para as entrevistas em locais ruidosos (eu já fiz num sambódromo, então imagina a barulhada): Aproxime o celular da sua boca para você não precisar de gritar na hora de fazer a pergunta. E, quando o entrevistador começar a responder, aproxime o celular numa distância de 50cm, no máximo. Abuse de closes e bigcloses em entrevistas nestes ambientes. Já em ambientes mais silenciosos, você pode aumentar o plano da imagem, mas a regra da hora de sua pergunta é a mesma ara ambientes ruidosos.

(2) Titule, sempre que possível, o vídeo. Ou antes ou depois de apertar o Rec, mas titule. Quando as coisas acontecem de modo rápido, peça a alguém, remotamente, que faça isso para você. Ou mandando torpedo com o título ou ligandodiretamente para um “editor remoto”, que terá a missão também de taguear o conteúdo (isso ajuda a busca para o usuário e para os motores como o Google).

(3) Na hora da gravação, teste perspectivas diferentes. Apontar o celular numa mesma altura é o básico, mas com o tempo, se aventure em ângulos alternativos, filme metade do rosto do entrevistado, desloque o celular para cima ou para baixo, enfim, seja um pouco mais criativo. A imagem no vídeo é constituída de diferentes planos (que muda em função da distância da câmera em relação ao objeto a ser filmado). Para quem não sabe nada sobre os tipos de planos e ângulos de imagem, tem um vídeo aqui sobre o cada plano e ângulo significa.

(4) Não dê zoom na hora de capturar a imagem. Infelizmente,as câmeras de celular não funcionam muito bem com o zoom. É melhor aproximar a câmera do objeto, fazendo closes ou bigcloses.

(5) A maior das dicas: tenha baterias de sobra. Três, no mínimo. Uma bateria dura pouco. E, em muitos casos, você não terá como recarregá-las. Uma bateria dura aí em torno de 25 minutos de gravação. Isso porque gasta-se muita bateria no celular para capturar as imagens, mas, sobretudo, para enviar/salvar o vídeo para o seu canal de comunicação na internet.

(6) Não há problemas de duas linhas de telefone utilizarem o mesmo perfil. Aliás, é corriqueiro ter mais de um celular cobrindo determinado evento. Quanto mais, melhor.

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3. Não existe profissional multimídia. Dedique-se a uma linguagem online.

Não inventa de ser “multimídia”. Especialize-se em uma linguagem. Se gostas do vídeo online usando o celular, faça só isso lá com seu aplicativo Qik. E tenha com você alguém para fotografar mais (uma dica legal, é fotografar usando aplicativos como Instagram – se usas iphone; ou Vignette – se usas Android). Chame alguém para fazer a twittagem do celular. E um Outro para filmar com handycam digital (que tal fazer os filmes e depois enviá-los para o Youtube? Não precisa fazer coisas ao vivo o tempo inteiro). A mobilidade não acontece somente por causa do celular. Há equipamentos digitais leves e de ótima qualidade.

6. Se puder, agregue à cobertura móvel o streaming feito a partir de câmera de vídeo profissional ou amadora: um tutorial

Você pode agregar a uma cobertura móvel, as ferramentas de streaming de vídeo com câmeras digitais. Faz de conta que irás fazer a cobertura de um show, por exemplo. Seu lance será twittar o show e transmitir ao vivo, em vídeo, para a internet. O sucesso do trabalho dependerá, é claro, da taxa de upload de sua conexão com a internet. Além disso, também dependerá do equipamento que terá em mãos. Se quiser pode baixar aqui um Tutorial, feito pelo Igor Chagas, do Labic (laboratório que coordeno na Ufes), que ensina como fazer transmissão usando o Livestream. Ou através de um programinha instalado no computador, chamado VidBlaster, que possibilita trabalhar com múltiplas câmeras. É um programa proprietário com custo de licença de U$ 700.

O legal de utilizar streaming com câmeras profissionais (ou digitais amadoras) é que você pode agregar outras possibilidades jornalísticas a uma cobertura móvel, como por exemplo a criação de um estúdio para gravação de entrevista. Junte a isso o fato de, uma vez gravado, o ao vivo permanece na internet, para que um usuário possa (re)assistir o vídeo.

PS: vamos começar a estudar o Landell, que é software livre, para utilizar em transmissões.

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7. Há o tempo do acontecimento e o tempo da repercussão dele

Não banque o consumista. Com um celular na mão, você é capaz de produzir muito conteúdo. Combine com seu editor para não publicar todos eles no seu blog ao mesmo tempo. Se, por exemplo, estás a fazer a cobertura de um evento que durará dois dias, podes deixar alguns conteúdos para ser publicados naquele período de tempo que não acontece nada. Isso é uma dica importante para manter seu público sempre abastecido de conteúdo exclusivo. Se o evento acontece de 9h às 18h, utilize o período de 18h01 às 8h59 para repercutir seus próprios conteúdos. Isso significa que o tempo real não é somente o tempo do acontecimento em si, mas a capacidade de duração dele para além do seu tempo. As pessoas toleram receber, via redes e mídias sociais, mais conteúdos até, no máximo, uns três dias após o evento. Mas em doses homeopáticas.

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8. Feche a cobertura com uma bela retrospectiva multimídia

Faça um último post com o melhor daquele evento. Embede vídeos, galerias de fotos, áudios, tweets, comentários, enfim, toda a gama de conteúdo que tens para fazer uma retrospectiva do que melhor ocorreu no evento que você fez a cobertura multimídia. Depois disso, feche o barraco, diga “até a próxima, pessoal”, e mantenha o site no ar. Uma dica legal é usar o Storify para isso.



Metade da relevância no Twitter é produzido por 0.05% dos usuários. E daí?

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Segundo estudo publicado no Yahoo Research (li isso numa notícia do IDG Now),metade da relevância no Twitter é produzida por míseros 20 mil usuários (0,05%). Como todo número tem um “espírito”, fiquei pensando o que isso significa. Tá na cara: a ideia é disseminar que “apenas poucos produzem coisas relevantes”. No final das contas, a metodologia de pesquisa 1.0 continua viva no mundo das redes. Ou seja, ainda se busca “investigar” raízes (apesar delas existirem) no rizoma para, depois, apontar o dedo e dizer: “tá vendo, mesmo nas redes, as pessoas ainda têm seus líderes”. E, assim, ninguém investiga o óbvio: os entornos de comunicação que afetam diretamente a maneira como eu, tu e eles consumimos os conteúdos da rede. No lugar de buscar “os reis da praia virtual” seria lógico procurar o “corpo que faz o rei reinar”. Afinal, Blog sozinho não faz verão. Um Perfil no Twitter, menos ainda. Mas nada. Muitos estudos ainda usam da estatística para  criar falsa maiorias (sujeitos, temas, etc).

Três coisas óbvias nesses números, lendo a estatística na perspectiva dos 99,5%:* o Twitter não serve apenas para circular conteúdo relevante (e com ele todo um poder pastoral).

  • o Twitter não serve apenas para abrigar “pessoas relevantes” e celebridades.
  • o Twitter não é uma catedral. É um bazar. Para usar a metáfora dos ideólogos do software livre.
  • o Twitter é uma potência porque exatamente não cria um povo e um líder. É multiplicidade em estado puro. E dentro desta há os boçais, e o boçal também se singulariza, vou fazer o quê!
  • E o mais óbvio do óbvio: a maioria no Twitter não é célebre, nem líder de opinião midiático. E aqui que mora todos os “novos problemas e os novos agenciamentos”. Nenhuma cartografia científica será capaz de chegar a esses agenciamentos utilizando métodos tradicionais da estatística (sempre orientada à maioria). O problemão de pesquisa está no fato que a relevância de uma rede só brota de maneira minoritária. Essa é a desgraça para a pesquisa científica tradicional. Isso porque a minoria não se generaliza como dado, é sempre local, casual e singular. Mas isso não significa, em absoluta, que ela tenda à fragmentação. Ao contrário, ela é exatamente o motor da criação da cooperação em torno dos commons virtuais. Afinal, não há democracia no Egito sem a ação das minorias enredadas.

Mas a ideologia da maioria contida na estatística das redes, longe disso, só quer encontrar padrões, repetições e bordões!! O chato é que esses padrões ditam tendências, ditam modismos, sem parar, para tudo ficar no mesmo lugar: manda quem tem seguidor, obedece quem não tem amigo.

E, assim, o conformismo metodológico reina entre nós.

Todo compartilhamento será castigado, by Henrique Antoun

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Comentário excelente do Henrique Antoun, no grupo Cibercult, do Facebook, sobre como opera hoje o conflito cultural dentro do capitalismo cognitivo, esse regime econômico atual que captura, dia após dia, nossa capacidade de criar, transformando-a em propriedade intelectuais fechadíssima para poucas corporações; ao mesmo tempo em que busca criminalizar, dissipar e destruir qualquer prática social que, a contrapelo, inventa novas maneiras de o conhecimento circular sem os “cercamentos” estabelecidos pelo Estado desse novo capitalismo.

O capitalismo cognitivo é um BBB global, tentando confinar a multidão em uma periferia extra-terrestre. Programas de eliminação paulatina são formas de treinamento da juventude ao novo mercado de trabalho regido pela invenção submetida ao gosto popular e dirigida pelo poder de corrupção do capital. Todo compartilhamento será castigado. Toda generosidade será eliminada. Ao contrário do capitalismo fordista q prometia recompensar o esforço contínuo, o capitalismo cognitivo só recompensa a apropriação autoral da criação da rapaziada que se submeta aos seus ditames expropriadores. A produção inventiva privilegia a descontinuidade da descoberta e não a regularidade do esforço. O autor não é quem faz mas quem percebe, conhece e se apropria. O império do chupa-sangue q pega tudo q a multidão inventa e diz q é tudo dele. Juventude está sendo “educada” pelos meios de massa a desprezar compartilhamento e cooperação em nome da autoria. O autor é o termo médio que faz a passagem da invenção periférica comum para o sistema de propriedade intelectual corporativo.

A crítica 2.0 e a impossibilidade do pensamento único na internet

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Entrevista que concedi ao Diego Viana, repórter de Valor Econômico, o que o ajudou na produção da reportagem Crítica 2.0, divulgada hoje,  na versão impressa do jornal.

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– Os processos criativos da internet, particularmente os processos colaborativos, alteram radicalmente o sentido das noções de “objeto”, “autor” e “leitor”, que são basilares na lógica tradicional de circulação de bens culturais, em que se insere a crítica. Que espaço tem a crítica na lógica digital?

Há na internet a generalização da crítica, seja ela acadêmica ou seja a mais factual (aquela cujo principal “gênero” é a resenha). Se a crítica sempre se constituiu como o campo do “franco falar”, por tabela, vivemos um período amplo da franqueza na análise dos produtos culturais. O digital tem uma particularidade: nunca gera peça única. Se há uma iamgem que demonstra como a crítica se faz na internet é aquela que vemos quando há um fluxo intenso de respostas que ocorre numa lista de emails: << Re: Re: re: re: >>. A crítica na internet é como uma espiral infinita de respostas. Veja o filme “tropa de Elite II”. Numa pesquisa rápida no Google, há mais de 600 mil resenhas do filme, desde aquelas escritas por  grandes especialistas em cinema brasileiro até outras, por adolescentes especializados em filmes de ação. O que isso significa? Qua a franqueza se torna a cada dia que passa o elemento mais vital da crítica digital. Porque o crítico, na internet, é público também. E sabe que a crítica se faz em comunidade. Nesse sentido, a crítica na web se revela ainda mais passional, porque o leitor do blog de cinema quer mesmo é consumir o jeitão de escrever de seu blogueiro e não necessariamente a qualidade de análise estética do crítico. A internet não funciona muito como um lugar do theorós, ela é um dispositivo de Eros.

– Tem gente que atribui justamente à internet, com seus comentários de blogs e Diggs, com os retweets, com o “like” do Facebook etc., a propalada “derrocada” da crítica. Outros dizem que essa derrocada é muito anterior e obedece a preferências do mercado ou à incapacidade da própria crítica de dialogar com o leitorado, mas a internet pode ser, ao contrário, um novo sopro para a crítica. A crise existe? Onde a cultura digital se encaixa nisso?

A crítica vive o esplendor com a internet. É o seu melhor momento. A web hospeda desde a crítica acadêmica até aquela mais rasa, que beira ao comentário do “mimi”. Sem dúvida, o filtro feito por esses agentes que funcionam como editores coletivos (likes, diggs, retweets etc) é um dispositivo que faz circular um sentido geral sobre determinada obra. Uma reputação que se faz sem centro, sem editor. Isso não significa que o crítico morreu. Ao contrário, se analisarmos as críticas mais reputada na web, veremos que se saem melhor aqueles que se dedicam ao fazer crítico diário, com qualidade e ótima formações humana e especializada. Até porque o internauta sabe que, na web, há uma promiscuidade do link. Sabe que aquele grupinho que faz a comunidade de determinado blog fica sempre circulando os mesmos links, as mesmas opiniões, para fazê-las presentes no campo maior da crítica. Então o usuário se protege contra isso buscando mais referências. Quando temos buscadores, como o Google, o caos informacional é reduzido. E podemos mergulhar nos pontos de vista alternativo. Um exemplo banal. Um usuário que precisa viajar. O mercado de turismo hoje funciona, em boa parte, graças à reputação coletiva de blogueiros, youtubeiros, facebookeiros,comentaristas, que dizem, com toda franqueza, a qualidade dos hotéis, dos pacotes das agências, analisam aos serviços de determinada cidade, enfim, é a crítica que nos torna mais bem informado sobre “aquela cidade”. E se discordamos, qualificamos tudo ao contrário do que foi dito nos mesmos lugares onde tudo se apresenta como mil maravilhas. O mesmo ocorre com o cinema, a literatura, as artes visuais, enfim, com toda gama de manifestações culturais. Elas dependem da produção coletiva da crítica para ganhar mais complexidade e também para serem desmitificadas. De novo, não há pensamento único na internet. E os canônes, marcas de uma economia da escassez – do editor, da indústria que intermediava a cultura – são cada vez mais difíceis de aparecer, porque a internet revela também que a criação é recheada de links. Um escritor da nova geração, que começou fazendo um blog, por exemplo. Você entra na página dele e vê lá no seu blogroll com quem ele dialoga, o mantra que ele repete e a forma de escrever que ele reiventa. De forma que o esforço da crítica é hoje de ver mais a blogosfera que aquele escritor faz parte do que necessariamente isolar a sua escrita como algo original. Vivemos um período do coletivo como autor. É o inverso desde a invenção do livro, que, como dizia o Macluhan, inventou o público. A internet inventou o “amigo”. E toda crítica mais dura e mais relevante está em compreender como essa dimensão afetiva e subjetiva atravessa a crítica. É a amizade o motor da nova web, para além do bem e do mal. Veja um problema formidável para os estudos culturais, por exemplo: os realizadores estão dependentes da visibilidade trazida pela micromídia da rede. Através de um blog ou de um canal do Youtube, o “autor” cria a sua obra, recebendo aqueles insights fantásticos da sua comunidade, de forma que quanto mais produz, mais ele circula (mesmo que de maneira tautológica). Daí me pergunto: é possível criar num regime de fragmentação da atenção? Qualquer neurocientista vai lhe afirmar que isso é impossível. É preciso se dedicar às ideias, porque elas têm um tempo. Então o recolhimento do autor para produzir a sua linguagem é hoje um desafio, porque aquele autor-blogueiro é dependente do afago e da inteligência da comunidade que gira em torno dele. Não se trata de fãs, se trata de amigos. Então a criação se vê mergulhada nessa dependência por visibilidade em tempo real. Isso é um drama para os autores. Alguns resolvem publicando em seus blogs: “estou de férias, volto logo”. Há outros que ficam presos a essa Caverna de platão às avessas, onde se está preso às luzes e não às sombras.

– Os fluxos da publicação literária do século XX eram tais que o autor tinha um papel social, por exemplo, a do “intelectual público”, como se diz; o editor tinha uma função de modulação sobre esse intelectual público; o crítico tinha uma função de “autoridade” capaz de chancelar ou bloquear um autor, numa triangulação bastante bem definida. Esse modelo de fluxos é posto em questão quando os papéis sociais perdem a clareza, quando “o amador”, como se diz, tem um poder criativo que não tinha antes. Como se organizam os fluxos na nova realidade?

Eu não creio no aniquilamento do intelectual. O que há é uma transmutação. Por um lado, ele é jogado nas graças das relações diretas com o seu público. Sem intermediação, o intelectual precisa ser ainda mais claro sobre suas intenções e posições. O sentido de “autoridade” se faz à la algoritmos do Google: pela quantidade de links que lhe são direcionados. A autoridade paulatinamente se vê substituída pela relevância. E, neste caso, saem na frente, por enquanto, aqueles indivíduos e instituições que têm acumulado credibilidade e respeito já há algum tempo. Eles são uma espécie de ponto de partida para se legitimar algo na rede e fora dela. Mas, aos poucos, sua figura pública é inteligada a outras, criando uma espécie de clube da intelectualidade de massa, que é presente em milhões de assuntos de nichos. Há quem diga que isso seria a perda da capacidade de se constituir um público geral na sociedade ou mesmo como uma política de fragmentação, quando, na verdade, é só um diagrama de poder de novo tipo, cuja centralidade está na capacidade de se organizar em rede. Nesse sentido, a função do editor é uma função ambígua nesse novo diagrama. Porque, de um lado, tem de bandeja a curadoria da inteligência coletiva à sua disposição, fazendo com ele se defronte com um novo comportamento, que é de apostar naqueles que ganham relevância na rede. E, por outro lado, a contragosto, o editor não tem sozinho a capacidade de criar novos públicos. Isso realmente fica cada vez mais na mão do autor. Se pegarmos um autor típico da web no campo da literatura, como o Fabrício Carpinejar, o que veremos? Que ele foi formando e sendo formado pelo público através de seu blog, que agora lhe acompanha em revistas semanais e em sites independentes. Ou em livros impressos de sua editora. Não há antagonismo entre autor e editor, senão mais autonomia para o primeiro.

– Mesmo no modelo tradicional, o leitor é um crítico e o crítico é um leitor, porque o leitor tem um impulso de avaliação e o crítico, antes de avaliar, também frui do texto. Com a facilidade de discutir textos, poderíamos dizer que o impulso crítico do leitor ganha um impulso fantástico. Por outro lado, com o dilúvio de textos e imagens que a tecnologia digital oferece, há quem considere que esse impulso de criticar seja, na verdade, sufocado. Qual é o seu ponto de vista a respeito?

Há razão para apontar a internet como um pântano de imagens. Isso tem a ver com o festival de bordões repetidos na rede por milhões de pequenos fanáticos sobre os produtos de massa, que é um comportamento adesista ou mesmo uma atitude conformista perante a produtos em série. De certa forma esse fanatismo na rede pelos ídolos pop e de massa é financiado por estratégias de promoções e marketing em redes sociais e de todo um arsenal intelectual, cujo conceito de transmedia é uma das suas orientações mais simplória. E o fanatismo tem ao seu lado, muitas vezes, uma crítica jornalística e uma intelecutal  frouxa, que se omite do seu verdadeiro papel: confrontar o poder, no lugar de ser parnasiana. Mas há todo um outro movimento que busca compartilhar idéias, críticas e pontos de vista. Nesse sentido, essa visão ingênua da participação em grau máximo na internet só dissipa o fato de que há muitos conflitos ao redor da própria concepção de compartilhamento. Veja o quanto de esforço vários países e corporações fazem para impedir o compartilhamento de dados e opiniões. É uma espécie de criminalização da amizade. O leitor não é leitor na internet. É amigo ou inimigo. O que significa, de modo geral, é que não há um puro sujeito do conhecimento em terras digitais, não há isenção de vontade, alheio à dor e ao tempo, que isolado é capaz de produzir a “verdade”. Essa pretensão teorética sempre veio da cultura do isolamento trazido pelo livro, que, em certa forma, os meios eletrônicos suplantaram desde a década de 30 e que a internet se opõe de maneira radical. Nietzsche dizia que que quanto mais afetos permitirmos atravessar sobre determinada coisa, quanto mais olhos, diferentes olhos, soubermos utilizar para essa coisa, tanto mais completo será nosso “conceito” dela, nossa “objetividade”. Me parece que estamos caminhando para essa profecia.

– Uma outra função da crítica é inserir os textos em perspectivas históricas, identificar continuidades e rupturas, criar linhas diacrônicas de entendimento dos textos. Esse processo acontece no universo digital? De que maneira?

Essa função sempre foi da crítica mais acadêmica. Sempre apareceu, no campo geral da crítica, mas como algo marginal, num tempo dominado pelas resenhas factuais em jornais e semanários. Ao mesmo tempo, sabe-se que o crítico sempre evitou analisar o primeiro livro, o primeiro filme, primeiro álbum. Sempre preferiu o segundo, quando se realmente testa um autor. O que isso significa? Que a crítica sempre foi histórica. Sempre rejeitou o seu próprio tempo. Nesse sentido, a internet virou uma plataforma onde esta questão continua intacta. As críticas históricas estão na rede do mesmo jeito que estavam antes, de maneira marginal. A maior parte da produção crítica se debruça sobre o lançamentos. Porque isso que as pessoas buscam: um serviço de qualidade para não se decepcionar com algum filme, livro, game, série de Tv etc. À diferença disso, surgem os novos formadores de opinião, que são capazes de articular a novidade com os cânones, com as referências histórias, com as adesões estéticas que determinado autor se vincula. Qual é a dificuldade então? É de cartografar quem são esses críticos mais densos, porque eles são milhares. E isso não é contraditório com a sua marginalidade num mar de milhões de críticos-fãs. E há neles a característica de um fazer crítica no espaço público, algo que era considerado uma heresia, porque sempre nos foi inculcado a ideia que o saber deve ser feito de maneira isolada, porque o caos o “fragmenta o saber”. Estamos vivendo o que o filósofo francês Michel Fouault chamou de “revolta dos saberes naif”, enfim, uma profusão de liberdades de expressão que antes ficavam deveras isoladas como saberes menores da sociedade. Nunca mais existirará o grande público que tanto Dominique Wolton mistifica. Não há mais possibilidade de existir o POVO (olha o Egito e a Tunísia mostrando essa impossibilidade!). O sucesso dos mashups na internet revela, num plano micro, essa mudança no patamar das democracias. Ao lançar um videoclip, Lady Gaga faz mais sucesso pelos vídeos e aúdios recombinantes que aparecem no Youtube do que efetivamente pela qualidade estética que carrega. O que esse mashups nos comunicam? Que sempre é muito simples produzir um ídolo pop, mas também como é fácil desmontar a maneira como esse trabalho é composto. Há casos de DJs melhorarem o ritmo de determinada canção de ídolos pop, inserindo trilhas e imagens oriundas de outros artistas. Em outros casos o DJ dá até dignidade a música desses ídolos, fazendo um trabalho de recombinação de tanta qualidade que esses mesmos popstars acabam incoporando a versão do DJ como a oficial. Trocando em miúdos; a era do pop star acabou, antes mesmo da morte do Michael Jacson.

– Com isso, chegamos à questão das licenças do tipo creative commons. A noção tradicional de direito autoral fica inteiramente comprometida com as possibilidades oferecidas pela tecnologia digital e o estabelecimento de uma cultura da recomposição, recriação etc.?

O Creative Commons representa o fato de o autor está no comando. É ele que tem o poder de licenciar sua obra. Nesse sentido, isso não tem nada de diferente com o espírito da lei dos direitos autorais. O que há de diferente é que ao estimular o papel mais político do autor, as licença CC carregam um outro espírito: de acabar de vez com a cultura da permissão que ainda vigora no campo da produção da cultura. Por isso que se diz “cultura livre”. Hoje a tecnologia permite isolar o som do Caetano velozo em frações de milésimos de segundo, de maneira que é impossível se  saber a fonte original (provavelmente o próprio Caetano deve utilizar desse saber tecnológico em sua banda ou gravadora). Então para que lutar contra isso? é melhor criar um amplo campo de direitos e deveres que estimulem práticas de recombinação ao mesmo tempo que se garanta que um mercado mais diversificado e sustentável seja construído. Aqueles que compartilham o espírito Creative Commons colaboram com a concepção de que a obra precisa circular para o autor ganhar mais reconhecimento e trabalho. Vivemos no momento de transformação da idéia do que seja autor. Alguns artistas digitais já dizem que o verdadeiro autor é a rede. Duvido que algum criador, antes de iniciar um trabalho, não vá pedir ajuda ao Google. As recentes polêmicas entre Creative Commons e Ministério da Cultura, que deixa de licenciar seus conteúdos sob CC, demonstra como o governo Dilma recua nesse campo, vira a cabeça para o século XX, enquanto a Apple monta todas as suas estrategias econômicas em torno da cultura do compartilhamento. Só sabe usar Iphone quem sabe compartilhar dados e informações. à diferença da Apple para o Creative Commons é que o modelo jurídico do primeiro funciona sob licenças proprietárias rígidas, que tudo quer sobretaxar ou mesmo capturar.

Ana de Holanda, D. João VI e o caso Creative Commons

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Entrevista que concedi a Leandro Uchoas, do jornal Brasil de Fato, sobre o caso envolvendo Creative Commons e o Ministério da Cultura.


by @barbaraszanieck

by @barbaraszanieck

1. O que representa a retirada da licença Creative Commons do site do MinC?

A retirada da licença Creative Commons do site do MinC, de forma apressada, demonstra uma medida truculenta da ministra Ana de Holanda. Nada justifica a exclusão do símbolo da luta política pela socialização de conhecimento digital no site do MinC, quando isso não se faz dentro do espirito democrático do diálogo e da moralidade administrativa (o Creative Commons tinha um contrato com o setor jurídico do MinC). O MinC protagonizou avanços formidáveis com suas políticas culturais durante o governo Lula, e o abrigo da licença CC demonstrava que o ministério governava com os movimentos sociais da cultura digital ao seu lado. Veja, a base tecnológica que faz operar a totalidade dos pontos de cultura (que são mais de 4 mil no país) roda sobre licenças que reiventaram o direito autoral, em especial, o copyleft e o Creative Commons. Me pergunto onde a ministra estava nesses últimos anos que não tenha acompanhado toda complexidade que o mundo passa no campo da cultura digital, sobretudo o conflito aberto entre a inovação do mercado da cultura livre e as açōes proprietárias de Google, Facebook e todos os monopólio digitais. É claro que a retirada do selo CC demonstra o lado social onde se encontra, até o momento, a ministra Ana de Holanda: o da defesa irrestrita dos direitos autorais do século XX, cujo recolhimento e distribuição financeira para os autores, na prática, viabilizou toda a formação de uma indústria intermediária da cultura, facilitando a formação de monopólios industriais da cultura e o constrangimento de autores a regras de mercado que fizeram excluir toda uma geração formidável de autores, que se recusavam a obedecer as regras ditadas por esse capitalismo autoral. Então, na prática, o direitor autoral, tal como funcionava no século XX, operava dentro da lógica da “inclusão abstrata e exclusão concreta” do autor, isto é, o autor existia no direito, incluido como portador de toda criação do espírito. Mas, na prática, só era autor quem obedecia a indústria cultural, que era a verdadeira proprietária dos direitos. Abstrato no direito, exclusão concreta no mercado. O Creative Commons é até mais liberal do que o copyright puro-sangue defendido pela ministra, porque, ao permitir a flexibilização do direito (por meio de diferentes tipos de licenciamento), conjugado a existência de plataformas de distribuição de conteúdos na web, faz aquele autor “menor”, totalmente excluído do direito autoral do século XX, se conectar diretamente com o seus públicos ( ele decidir o que pode e o que não pode, e não uma indústria). E isso mobiliza novos arranjos produtivos da economia criativa, para usar o termo do novo léxico do MinC. Aliás, um léxico inventado pelos tucanos em épocas neoliberais no Brasil.

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2. Como o movimento de Cultura Livre está se organizando para se posicionar nesse debate?

A primeira reação foi a de susto, que desencadeou uma série de depoimentos na própria internet. Criação de blog protesto, viralização de críticas nas redes sociais, enfim, acionou-se a rede, que se viu mobilizada por atores de diferentes posiçōes políticas e de campos sociais díspares. Depois veio uma atuação junto ao próprio MinC, que não recebeu deputados do PT que cobravam uma justificativa plausível pelo fim da cultura livre no MinC. A ministra, ao contrário, recebeu um advogado ligado ao Ecad, uma instituição no qual ela tem ligação. O clima agora é de tensão, e não sei se será possível uma reconciliação. Agora toda mobilização, que é feita de modo público, se dá junto aos pontos de cultura e de artistas plugados à cultura livre, a fim de se estabelecer uma pauta comum de antagonismo a esse conservadorismo da ministra e que, sobretudo, faça o MinC reinserir a licença creative Commons em seu site. E, por outro lado, de maneira mais institucional, há uma pressão sobre o PT para que ele responda se essa gestão do MinC é de esquerda ou nao. Será o MinC dos trabalhadores ou não? Porque se nao há Cultura livre instalada no MinC significa que o PT defende um mundo em que o trabalhador se relaciona com o poder público através da formas jurídica “empresa”, isto é, defende que o direito autoral seja operado por apenas associaçöes e mega empresas, e nao um mercado que quem dita as regras são os próprios trabalhadores (artistas, jornalistas, produtores, designers, arquitetos, enfim toda uma gama ampla de gente que vive da cultura).

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3. Ana de Hollanda no MinC foi uma articulação do PT. A política que ela está adotando está em sintonia com o que defende o partido? Se não, como se explica a nomeação?

Eu nao sei responder pelo PT, que é um partido popular e cobrará uma postura pública da ministra, que, por enquanto, mandou “todos dizerem o que querem dizer” – um tipo de postura autoritária dissonante do histórico do PT. Mas um dia ela terá de enfrentar frente a frente esses movimentos, porque a função pública de ministra do Estado requer diálogo, convencimentos, práticas de diálogo e enfretamento aberto. Agora a nomeação da Ana facilita muito essa “cultura do Rio de Janeiro”, um modelo decadente do pensar e do fazer política cultural. Um modelo que combina “classe artística” com indústria cultural (que a ministra, usando eufemismo, chama de industria criativa). O Rio de Janeiro é o único lugar onde a cultura independente não vigora sem passar pelo filtro dos grandes grupos de comunicação e cultura. Isso por quê? Porque há ali um aristocracia alimentada por uma promiscuidade entre artistas e a mídia dos direitos autorais. Esse modelo cria um represamento da potência criativa da cidade. E o MinC do governo Lula rompeu com esse “Rio de Janeiro” para pactuar com um outro “Rio de Janeiro”, o do funk, do hip hop, do samba, das culturas populares, do circuto independente, que alimentam hoje centenas de pontos de cultura de todo o Estado fluminense; potnos de cultura que vivem, de forma precária, lutando contra a “sociedade dos cachês”, que lembra muito a economia do futebol, onde há poucos ganhando muito, e muitos ganhando uma miséria. Infelizmente o século XX chegou ao MinC do governo Dilma, com pitadas de D. joão VI: sem lugar para morar, a corte portuguesa, ao desembarcar na cidade do Rio de janeiro, tomou as casas da multidão que produzia o Brasil, e prensou em cima da porta de cada uma delas: Princípe Regente. Logo a multidão traduziu o PR por “Ponha-se na Rua”. Essa é um pouco a sensaçåo que nós, militantes da cultura livre, que produzimos o Brasil, junto com tantos outros trabalhadores que lutam pela sua “independência” e pela criação de um mercado mais justo, estamos nos sentindo: todos postos na rua. Sem açúcar e sem afeto.

Ps: As respostas do texto acima foram totalmente inspiradas nas posições públicas de Giuseppe Cocco sobre o assunto.

“Painel de controle”, um ebook sobre controle, imagem e tecnologia

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“Pocos reconocen realmente que el ordenador no nació
de la era de la información sino de la era del espectáculo” (Alex Galloway)

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Um boa referência para quem curte estudar imagem e sociedade do controle é o ebook “Painel de controle”, em espanhol. O blog dessa turma que produziu o livro também é bem interessante. Li o artigo sobre Videovigilância como gênero, uma reflexão sobre o uso das imagens de videomonotaramento na produção de ficção e na participação do universo midiático. E também a ótima entrevista dessa turma com o Alex Galloway (galloway@nyu.edu). Um bom momento desse ping pong: Galloway faz crítica aberta a Barábasi. Traduçãozinha (bem livre mesmo):

Por que Barabási tem tantos desejos de proibir a organização rizomática? Qual é a forma arquitetônica do poder e como a afirmação de Barabási ajuda a naturalizar esse poder? No final, sou levado a perguntar não qual rede temos, mas qual rede desejamos. Há uma certa retórica ingênua em torno da liberação das redes, a antihierarquia, “a informação quer ser livre” e todas essas coisas.  Mas Barábasi indica é o contrário disso: não queremos que as redes sejam livres gastamos toda a energia em aboli-las através de uma avalanche de reorganização retrógradas, piramidal. A partir disso, então o problema principal, para utilizar uma terminologia psicoanalítica, é que as novas mídias são fundamentalmente sádicas, quando de fato as tratamos como se fossem masoquistas. Este é o problema fundamental do desejo hoje. Mas, para além deste método clássico de “crítica da ideologia”, também noto que Barabási oferece uma resposta muito reacionária a uma pergunta muito progressista.  Não é bastante conveniente que esta nova tecnologia se pareça com as redes corporativas ou inclusive monárquicas descentralizadas e centralizada de outrora? De novo me parece que este enfoque carece totalmente de imaginação. No lugar disso, eu coloco a seguinte pergunta: Como pode a rede distribuída, em si, oferecer uma forma nova de organização e controle, sem recorrer aos anacrônicos (mas familiares) diagramas? Responder a esta pergunta significaria encarar de maneira direta a essência sádica das novas mídias. Mas Barabási responde a esta pergunta com um gesto de desdém: o que se acreditava ser um rizoma é de fato uma árvore! Quanto mais ratificada se vê essa sua afirmação nos estudos de teoria dos grafos e modelos matemáticos, mais ela se reduz a uma pura projeção de fantasia. No lugar disso necessitamos de anti-histórias totalmente novas da tecnologia, histórias da tecnologia desde o olho do furacão.

A história da internet em seis décadas

Muito útil para quem é professor de novas mídias. Trata-se de um ótimo infográfico multimedia que mostra seis décadas de internet. Claro, a internet é de 1969, mas o infográfico revela os acontecimentos pré-internet. Além de texto, há vídeos, fotografias e tudo que necessitamos para demonstrar a recente história da rede.

Governo 2.0 não significa marketing nas redes sociais

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Márcia Rodrigues, da Revista Capital Público, me telefonou, mandou as questões por email e saíram essas respostas abaixo sobre o tema do governo eletrõnico & web 2.0. Não sou especialista em “governo”, mas dei meus pitacos. Uma forte referência para eu responder isso tudo aí embaixo foi o post Gov 2.0: It’s All About The Platform, que resume as ideias de Tim O´Reilly sobre o governo eletrônico 2.0. Uma dica adicional para quem curte o tema é seguir o RSS da tag gov2.0 no Delicious.

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Os governos no Brasil (federal, estaduais, municipais) já têm uma razoável presença na web. Porém, pouca expressão na web 2.0. Quais o senhor acredita que sejam as maiores limitações para uma presença pública mais efetiva nas redes: técnicas?

O governo eletrônico no Brasil é ainda restrito à concepção unilateral da comunicação online. Ainda sobrevive a concepção do acesso ao usuário, que se traduz em plataformas onde só o governo comunica. Nos idos dos anos 90, de fato, era vital os governos disporem aos cidadãos de toda gama de serviços para os indivíduos usarem. E isso ainda de forma top-down. Contudo, depois da virada participativa da web, o cidadão quer governar junto. E para proporcionar essa união de maneira completa, a maior limitação dos governo é, primeiro, de cunho ideológica: romper com a visão autoritária de quem tem poder é somente quem governa. Segundo, pensar a comunicação para além do caminho das mídias de massa. Boa parte da dificuldade técnica dos assessores de comunicação tem a ver com o fato de hoje secretários ou técnicos de governo usarem o Twitter sem o “consentimento” da equipe de comunicação. Os assessores não sabem muito bem como funciona uma rede social, porque foi martelado neles que seu principal conhecimento é fazer media training e relise. A cultura do sigilo, típico do autoritarismo informacional das relações públicas, é algo que reduz a capacidade de governar junto com. Mas só isso não explica essa limitação dos governos com as redes sociais. O maior problema de evitá-las – com o cúmulo do absurdo delas serem proibidas nas repartições públicas – é que a política de branding não é possível ser totalmente controlada, porque não há como fazer, de forma geral, na internet, a velha estratégia da matéria paga ou da submissão lambe-botas à imprensa.

Em sua visão, todos os órgãos públicos, sem exceção, devem estar na web, ou isso não é necessário/desejável? Por quê? E na web 2.0? Por quê?

Todos. Porque a informação pública precisa estar sob domínio público. Essa história do sigilo será cada vez mais fácil de se ultrapassar, por causa dos próprios mecanismos de controle criados pelo poder nos últimos anos. Cartões corporativos, telefones móveis, emails, palm´s, tablets, internet, softwares de textos, planilhas, protocolos, etc  são profundamente contaminados por dispositivos que deixam registros digitais e identificam tudo da vida (e da linguagem) das pessoas e instituições. É uma forma de controle absoluto sobre o social (daí a forte crítica à chamada sociedade do controle). Porém, depois do Wikileaks, a sociedade é encorajada a utilizar esses mesmos mecanismos para democratizar as informações. Trata-se de fazer um big brother ao revés. E veja que o curioso é que essas práticas começam a tomar contornos eleitorais, beneficiando candidatos que têm comportamentos de diálogo na rede. A transparência será cada vez mais um valor democrático reinvindicado pela população e, se atendida, beneficiárá governos, políticos, empresas e formadores de opinião.  Já há, como o caso da Inglaterra, em que os governos estão disponibilizando seus banco de dados para que a própria sociedade façam análises estatísticas ou de visuailzação de dados. É o chamado “open government”, uma forte tendência de governo eletrônico. De posse de banco de dados sobre despesas nos últimos 30 anos,  por exemplo, um programador pode criar alguns algoritmos que demonstrem os períodos de maiores gastos e fazer nexos com fenômenos que estão em outros bancos de dados, como o de volume de chuva no período, e identificar quando e por que se gasta com enchentes etc. Enfim, doar os bancos de dados faz o governo penetrar na chamada inteligência coletiva e governar com mais eficiência. Há um lema fantástica no movimento ligado à cultura colaborativa da internet que um governo 2.0 pode adotar: “muitos olhos, poucos erros”.

Como os gestores de órgãos públicos que queiram aproveitar todo o potencial de interação e geração de conhecimento trazido pelas redes sociais podem começar a fazê-lo? Existe um caminho mais indicado?

Primeiro de tudo.: criar política desenvolvimento de serviços tecnológicos. Se quisermos fazer uma política séria no campo das novas mídias, o correto é criarmos uma política forte de desenvolvimento de tecnologia de informação que democratize não só a informação, mas as deciões políticas. Não se trata de criar tecnologias para a burocracia interna, mas para a comunicação externa com os cidadãos: aplicativos para tablets, telefones celulares, streaming de vídeos, redes wi-fi, enfim, criar tecnologias é a principal estratégia de um governo 2.0.

O outro caminho é fazer jus ao lema da internet: “faça você mesmo”. Empoderar os funcionários para que eles criem suas conta pessoais no Twitter, no Facebook, noTumblr, no WordPress. Porque a rede rompe a cultura da permissão, da intermediação. Então o gestor precisa ter a a sua própria mídia. As pessoas me indagam: “mas eu não tenho o que escrever!”. Eu respondo: diga apenas “bom dia” aos seus amigos online. Daí as pessoas começam a rir. Nós participamos diariamente da esfera pública, com nossas opiniões e afetos. É impossível não termos o que escrever ou falar. Somos tão disciplinados na concepção que o outro sabe mais, que somos apenas receptores, que criamos uma fantasia que não temos história, não temos saber, não temos vivências. Então, é importante os governos serem mais democráticos e liberar os gestores a terem seus próprios canais de comunicação. Sei que a realidade da maior parte do Estado brasileiro é de falta de capacitação dos técnicos e gestores em novas mídias, vistas como um enigma e com muita dificuldade cognitiva (sobretudo porque novas mídias demandam do usuário forte processo de alfabetização). Mas, você, gestor, comece atuando pequeno na rede e cresça aos poucos. E se você tiver alguma dúvida, digite no youtube o que você busca. Lá tem vídeos de passo a passo de tudo, desde como fazer um perfil no twitter a como cozinhar um arroz sem deixá-lo queimar. Foi heidegger que disse: “comunicar é se libertar”. Então, a internet está aí para isso.

Quais os passos que devem anteceder a entrada dos governos nas redes sociais? O que é preciso considerar antes de começar?

Os governos precisam compreender que um governo 2.0 não significa ficar respondendo usuário, republicando as coisas lindas que internautas tecem sobre seus governantes e menos ainda divulgar a agenda diária dos líderes. Um governo 2.0 é criador de tecnologias. Mais ainda: de serviços tecnológicos. Então o desafio maior hoje é que os governos olhem para essa ecologia nova de comunicação e perceba que os cidadãos querem tecnologias mais próximas de suas necessidades. Desenvolver serviços tecnológicos: aplicativos para mídias móveis, softwares educacionais, canais em mídias e redes sociais, redes wi-fi públicas, enfim, todo um conjunto de serviços que ajuda no dia a dia do cidadão. Essa coisa de ficar fazendo marketing em redes sociais é cafona. Cidadão quer ter, no seu Ipad ou “Iclone”, um aplicativo que mostra suas dívidas e pagá-las ali mesmo no tablet. Cidadão quer ter, no seu celular, um aplicativo com as aulas que ele assiste na escola ou na faculdade (coisa mais barata é transmitir ao vivo aulas e dispô-las na internet). Cidadão quer ter, no seu netbook, o canal do MSN da equipe especializada em mídias sociais da defesa civil, para caso aconteça uma enchente, poder se comunicar com o órgão, em tempo real. Cidadão quer mandar torpedo para o número do celular com as fotos de pneus velhos que estão no meio de uma rua qualquer, ajudando o departamento de serviços urbanos a cuidar da higiene da cidade. Cidadão quer governar, e não ser objeto de spam eleitoreiro.

Quais são, a seu ver, os maiores desafios impostos aos governos das três esferas pela crescente penetração e popularização das redes sociais?

Ser desenvolvimentista tecnológico. Criar serviços, plataformas, aplicativos, tecnologias de informação que ajudam no cotidiano da população que, a cada dia, depende e usa mais computador e dispositivos de comunicação móvel. Ser transparente, o que equivale, na prática, tornar público todos os processos decisórios do Estado. Não se trata de utopia, mas de uma demanda social crescente: pôr fim à cultura do esconder informação e à prática nefasta da espionagem alheia. Ser aberto, isto é, tornar abertas todas as suas bases de dados. Ao fazer isso, com certeza, toda uma produtividade ligada à inteligência coletiva florescerá e gerará mais valor a essas bases, através de técnicas refinadas de mineração de dados. É muito comum, por exemplo, várias empresas criarem aplicações que potencializam os dados dessas bases. Siga o exemplo do Twitter, tornou público o seu segredo de fabricação e fez surgir todo um conjunto de inovações como twitcam, Twitpic, Hootsuite, enfim, uma gama de produto que só fortalece a marca Twitter. Ser comunicativo nas redes e mídias sociais, atuando na produção de informação que auxilie as decisões, em tempo real, de seus cidadãos, bem como incorporando dados e inovações geradas pelos usuários e comunidades dessas redes. Há um caso fantástico da importância de um governo atuar bem nas redes sociais. Obama e a reforma da saúde. Ele criou uma plataforma online para debater o projeto da reforma com os cidadãos americanos. Com isso, ele criou bases sociais de sustentação para a democratização da saúde pública nos EUA.

O que antevê para o futuro? A web 3.0 trará novas mudanças para as instâncias de governo? Quais?

O futuro já ocorre. E se chama mobilidade. Então os governos precisam ser mais nômades, como a tecnologia de tablets, netbook e telefones celulares. Imagina vc ter um aplicativo do Acervo Histórico da sua cidade dentro do seu celular? Imagina as crianças poderem ter um aplicativo, em seus celulares, com seus livros didátivos interativos? Os governos precisam urgentemente abrir concurso público para desenvolvedores de aplicativos de mídias móveis, abrir concurso para analista de redes sociais, de produtor de conteúdos via streaming (ao vivo). Aposto que, se fizer isso, em pouco tempo, a relação com os cidadãos se alterará para melhor. Só para lembrar; o Brasil tem 240 milhões de celulares circulando no mercado. Apesar das altas tarifas, a mobilidade já faz parte do cotidiano de todos os brasileiros.