Amazon vai vender trechos de livros

A Amazon lançou um serviço interessante: a venda de capítulos de um livro. É a napsterização na indústria editorial, tal como já rola na indústria de áudio. A estratégia comercial é conseqüência de um outro serviço a busca no interior das páginas do livro. É algo como folhear a página antes de comprar um livro. Deu tanto certo que agora lançaram o servico de comprar de parte das publicações (Amazon Pages).

A questão que não quer calar: pode em termos de direito autoral? Pode liberar a parte em relação ao todo? Pode comercializar parte de um livro?

Se sim, será que vamos ter problemas com Xerox ainda?

O Blog do Foco

Urgente: preciso do email de todos vocês. Isso para que vocês possam acessar o blog do Foco, que só vai durar 10 dias. Já estão cadastrados os editores: Vitor e Gabriely. Urgente é cadastrar o Gustavo e o João, pois a próxima notícia é deles. E o deadline é domingo, às 12h.

No mais… esse é um "hot blog", ou seja, nasceu em conseqüência de um evento, acontecimento ou promoção. Logo dura enquanto dura o acontecimento. O nome do infeliz é Foco da Notícia.

Sucesso para todos!

O novo ciclo das lutas, agora, sociais

Toni Negri, em entrevista a Revista do Terceiro setor, declarou que as lutas que se originaram em Seattle se esgotaram e que agora entramos em um novo ciclo, marcado pela emergência do precariado e dos imigrantes como sujeitos que produzem uma nova multidão. São os sujeitos que estão fora da relação salarial que agora resistem e constituem a liberação. Trechinho da entrevista:

" poderíamos afirmar que há um ciclo político… aquele dominado pela iniciativa das multidões, entre aspas, o ciclo iniciado em Seattle e que durou até a campanha contra a guerra – “No War” etc. E foi aí que esse ciclo terminou. Mas no interior desse ciclo abriu-se outro, que não é político, mas social. No momento em que se fecha o ciclo político, há um outro que cresce, o ciclo social, no qual as novas realidades da globalização – a flexibilidade, a mobilidade, a precarização da força de trabalho –, tudo isso gera essa nova situação, que é de hegemonia do trabalho cognitivo, que está se abrindo. Então você me diz: “Bush perdeu”. Mas não sabemos o que vai acontecer. Não é suficiente ele perder uma batalha para afirmar que a multidão ganhou a guerra. O Bush perder uma batalha é uma coisa. Mas a questão é outra: temos uma situação de transição, bem aberta. O que é muito importante é que hoje se abre um novo ciclo social, baseado sobretudo na luta contra a precarização, contra a pobreza etc. "

Negri em Buenos Aires

Uma contribuição de Negri para quem estuda o tema Resistência: as lutas globais entraram em um movimento de crise. Em uma curva descendente, como diz o filósofo. Por um outro lado, há um novo ciclo de lutas globais em ascensão: trata-se das lutas do precariado e dos imigrantes.

Na Argentina, Negri deu uma entrevista ao Página 12. Corri e traduzi, com meu espanhol de leitor, para deleite de todos nós. A entrevista completa está no meu outro blog, chamado de texto completo. Mas vale aqui uma boa citação:

Como o Sr analisa o movimento de resistência global?
Em profunda crise. O que começou em Seattle, seguiu em Gênova e continuou no movimento contra a guerra, declinou brutalmente. Disto se nutriu a reconstrução da esquerda tradicional. Mas o interessante é que no interior dessa curva descendente começou uma nova curva, agora, ascedente, protagonizda por lutas sociais de novo tipo, que se dão ao redor fundamentalmente do trabalho precário e da imigração.

Complexo de Harry Porter

Na última edição do Caderno Mais, da Folha, há uma crítica confusa do sociólogo alemão Robert Kurtz sobre o livro Multidão, do Negri e Hardt. O título da resenha é Complexo de Harry Porter. Não entendi muito bem, mas há uma passagem que gostei. Trata-se de quando Kurz mostra que o trabalho hoje é material e o produto dele imaterial. Gostei porque esclareceu que não há separação entre essas duas esferas. O que ele esqueceu é que o trabalho imaterial é produto de uma recomposição do manual com o intelectual. Por exemplo, este post é produto da minha força-cérebro, que produz essa linguagem na forma de mensagem colocada em suporte digital, contudo, tive que realizar um trabalho manual, ao digitar todas essas frases. Logo, o trabalho imaterial recombina o manual e o intelectual, não os separa como na época fordista, em que uns produziam manualmente e outros tinha a função de comando.

Em primeiro lugar, nenhum trabalho é "imaterial", tampouco o trabalho nos setores da informação e do "conhecimento"; sempre se trata da combustão de energia humana. Imaterial é a maior parte dos produtos desse trabalho, mas justamente por isso esses setores não podem sustentar a reprodução social, cuja base permanece sendo o "processo de metabolismo com a natureza" (Marx) e, portanto, é material. (Robert KURZ)

Online versus impresso

Em artigo para o Media Daily News, Jose Parinas escreveu que 2005 está sendo o pior ano para os jornais diários. Enquanto os jornais online cresceram 25%, os impressos apenas 4%. Os veículos online já representam 5% dos lucros dos impressos.No Slashdot, há um debate interessante do porquê o impresso está perdendo leitor e grana para os veículos online. Tentei sintetizar alguns pontos interessantes:

1. O jornal impresso é arremessado na porta de casa às sete horas da manhã, mas com notícia de meia noite. E às sete já há breaking news na NEt que torna o impresso obsoleto. O correto seria a entrega do jornal à meia-noite.

2. há quem aponte uma transição e não uma morte do impresso. A transição se dá no interior da audiência: da massa ao usuário, ou seja, agora há liberdade de escolha do leitor. Em vez de um ponto de vista, como há no impresso, o online permite múltiplos relatos e visões. No online, os jornais podem oferecer pontos de vistas que o impresso nem sequer pode apresentar.Além disso, estimula-se que os leitores busquem seu próprio ponto de vista.

3. O impresso está se tornando uma linguagem baseada no "comentário alternativo". Alternativo ao padrão de infotneiment da TV. O público ouve e vê notícia na rádio e na TV antes de ler o jornal. Cabe ao jornal esse papel de comentarista.O problema é que há uma tendência do impresso tb se voltar para "people free time".

4. Acesso imediato a fonte. Na net, o usuário pode acessar imediatamente as mesmas fontes que os jornais acessam para produzir suas notícias.

5. O comentário dos resistentes: não há internet que substitua o prazer de ler um jornal impresso em uma "poltrona do papai". Além disso, não há pop-ups, propaganda que salta aos seus olhos o tempo inteiro. A página está fixa sem precisar ficar subindo e descendo a barra de rolagem. Ler o impresso é uma questão de usabilidade. Além disso, não é necessário bateriaspara lê-los.

6. Falta ao online "leg work", ou seja, o trabalho de rua que é o mito do impresso.

7. O impresso produz poucas histórias. Na internet, há inúmeras.

8. A internet possibilita a acesso aos meios alternativos de informação, contudo, mesmo esses possuem textos cheio de inclinações e opiniões que podem conduzir a posicionamentos equivocados.

9. As pessoas estão deixando de assistir TV e ler jornais, ao mesmo tempo, que optam cada vez mais por serviços customizados de informação (como a tecnologia de feeds). O problema que pode ser gerado é de isolamento do mundo. Cria-se um mundo de notícia para si, enquanto lá fora o mundo é outro. Estimula-se a opção pela customização, mas não o pensamento crítico.

10. Online é mais fácila para produzir e distribuir.

Tem mais coisa, depois coloco mais. E porque tem de traduzir e é um saco.

 

Dossiê Negri

Pessoal, a seguir há 10 posts sobre a palestra do Antonio Negri ontem em Nova Iguaçu. Queria dizer que o relato online se diferencia do das mídias tradicionais. São impressões minhas, em que tento ser o máximo possível literal em relação às palavras e fatos que rolaram na palestra. Isto porque o que eu escrevi veio muito de tradução, então sempre rola aí uma traição, principalmente porque as tradutoras espontâneas às vezes não dão sequência à fala do palestrante, o que fez com que eu desse um certo prosseguimento a algumas falas soltas do Negri.

Sorry por qualquer problema.

Antes do Negri começar

Cheguei ao RJ, ontem. Comprei O Globo no aeroporto. Sabia que iria sair alguma coisa do Antonio Negri. Para minha surpresa tinha duas páginas. Delícia, li tudo rapidamente. Cheguei no hotel. Não podia entrar: só depois das 12h. Circulei pela cidade: Copa (tomei café), depois Botafogo (me sinto em casa lá, onde fui a Prefácio ver e comprar alguns livros). Almocei no shopping Botafogo. Já eram 12h. Entrei no hotel meia hora depois.Queria ir a Nova Iguaçu, onde ocorreria a primeira palestra do Negri, chamada de A riqueza dos pobres. Liguei para Francis: "eu vou", disse. Ela: "Tá maluco. É longe demais. Mas cuidado ao voltar". Aí me desanimei, é muito longe mesmo. Pensei em um plano B: assistir Eros, de Antonioni e Sandermberg. Aí resolvi ligar o Beppo (Giuseppe Cocco): "Tem uma vaga no carro. Vamos lá. Vamos sair às 13h30 do hotel Ipanema", ele disse. Maravilha. Corri, tomei banho, comi rápido, peguei um táxi e cheguei lá pontuamente.

[concentração] Como é bom ver os amigos. A amizade tem uma potência especial. Lá encontrei Beppo (muito feliz), Léo (Leonora Corssini) e Geo (amigos da Revista Global) e Yann Moulier (sociólogo francês). No saguão do hotel esperavam o Negri, que desceu uns 10 minutos depois que cheguei. Achei que ele está melhor que em 2003. Antes parecia mais "velhinho", agora, como diz minha avó, estava "mais corado". Fico impressionado ao vê-lo porque me parece que ele tem um olhar de incompreensão, no sentido de perceber, diagnosticar, entender a realidade e se colocar com uma visão de porque "os homens são assim". Ele tem respostas, mas queria poder ter mais respostas, porque sabe que as suas são poucas. Na entrevista ao Caderno Prosa e Verso, do Globo, ele difunde o pensamento do amor ao outro como condição da produção de encontro, de reuniões, de movimentos. No fundo, talvez, a idéia é utilizar o amor como condiçãopara dizer que "os homens podem não ser assim". Sem ser piegas, acredito que a filosofia dele nos contamina por conta de uma mensagem de não-ressentimento do mundo, mas de crítica a ele. O tempo do meu olhar de observação foi o suficiente para chegar companheiros de caravana. Fomos em três carros para Nova Iguaçu, uma cidade que lembra Cariacica, no ES. Totalmente excluída de tudo e com uma gestão de esquerda para reerguê-la.

[Vai começar a palestra] Chegamos lá em ponto às 14h. Já não tinha mais fone (de tradução) para todos. Mas consegui o meu. Também já não tinha lugar para todos. Era um teatro para 140 lugares. Estava lotado. Sentei no degrau, no meio do teatro, entre os dois blocos da esquerda. Queria ver tudo de frente. Nem à direita, nem à esquerda. Centrado. Havia muitos petistas (com a arrogância e a auto-suficiência de sempre, mas também com o desejo de transformar o mundo de sempre). O prefeito Lindberg Farias já conversa com Negri eo Beppo na mesa de palestrantes. Sentei em frente à mesa, no meu degrauzinho, como em um cinema lotado, o filme ia começar. O Mestre de cerimônia ler uma curta biografia do Negri. Abriram as cortinas. O prefeito fala da satisfação do Negri em Nova Iguaçu, blá, blá, blá… blá, blá, blá… A platéria mexe as pernas, quer ouvir o filósofo. Ele pega no microfone. Agora vai.

Negri recupera a metáfora da transformação

O prefeito Lindberg Farias contextualiza o local onde a fala de todos estavam localizadas: "estamos em uma cidade de 1 milhão de habitantes. Aqui 50% não tem esgoto em suas casas. E essa cidade vai discutir com uma dos maiores pensadores de esquerda do mundo". O prefeito cria um clima cordial e também produtivo (como mobilizar uma cidade para reverter a miséria?).

Negri começa a sua fala. Retoma a metáfora da transformação. Afirma que ela é útil e é o ponto de aglutinação da militância da esquerda (um certo devir esquerda, eu diria). "Hoje a transformação do mundo passa por dois aspectos. Romper a potência neoliberal do poder americano e criar frentes comuns de resistências, novos espaços de liberação. A situação é dramática, por vários pontos de vista", apontou o filósofo sobre o fato de o poder impericano produzir estratégias de mobilização social e a necessidade de se criar uma liberação e uma resistência a isto.

A globalização pertubou o pensamento socialista, diz filósofo

Negri ainda realçou o impacto do processo de globalização no pensamento e prática da esquerda no mundo, ao afirmar que a globalização chacoalhou a idéia do que seja transformação. "A globalização pertubou o debate e o pensamento socialista, porque propõem a unidade na ordem mundial. Unidade do mercado (o controle da moeda). Unidade do uso da força (como estratégia de exercício da soberania imperial). Unidade das condições de comunicação (a mídia como único relato)".

O filósofo afirmou a impossibilidade de negar esse processo. Um leitor de Negri deduzia a partir dessa fala que antes havia uma perspectiva do fora (o regime socialista soviético e suas derivações), algo que não há mais hoje. Há uma ordem mundial única, mas que dentro dela figura sujeitos de liberação, de resistência produtiva. "Ou se aceita o jogo dessa complexidade ou não há qualquer possibilidade de mudar a esquerda. Vamos pensar, por exemplo, a noção de classe operária sob a perspectiva da globalização. A classe operária – como é pensada classicamente – está isolada, porque os mecanismos de valoração da mercadoria não está mais dentro das fábricas, mas fora delas. A valoração está nas camadas intelectuais do trabalho. Então a redefinção do que seja classe operária passa por integrar essas camadas intelectuais".