Uma carcaterística presente no Orkut é a possibilidade de se formar redes sociais. De sermos diversos, múltiplos, mas sem deixar de abrir mão da nossa singularidade. É interagir com sujeitos desterritorializados, mas que podem ser integrados a uma rede de parceria, de afinidade, de afeto, de gostos etc. Na sociedade do espetáculo, só há junção do separado, mas que permanece como um agregado separado.
O fato de o Orkut possuir milhares de usuários não significa que estes se constituem como massa. Vejo que se apresentam como singularidades que possuem história, memória, neuroses, frivolidades, pensamento, tal como é o humano. Não há como dizer que o sujeito enredado é um nada. Isto é a última coisa que se pode dizer. Ele pode ser no máximo um anônimo. Mas quando o é está sempre presente, incomodando tudo e todos. Pelo menos no Orkut.
Logo, não vejo o Orkut como um "programa". Ele não institui o que eu devo ver, pensar, ser, amar. Não há programação no mundo digital. É terreno para se expressar. Uma citaçãozinha, para fechar, de Pierre Levy (em entrevista para o Roda Viva):
Devemos ter consciência da nossa responsabilidade quanto à fabricação do sentido. Não cabe mais à televisão, nem à imprensa, não cabe à universidade, nem ao partido ou ao Estado, a dizer qual é o significado das coisas. Cabe a nós assumir a responsabilidade, fazer uma escolha e dizer: 'é isso o que eu quero'. É o rumo que queremos tomar. E não exigir que os outros sigam o mesmo rumo. Somos livres, e os outros também são. A internet é a descoberta dessa liberdade, porque a liberdade é o infinito.