No meu mundo interior (li isto em Negri e achei engraçado), tenho me chateado com uma função que tem o Orkut. É o seguinte: o usuário pode enviar email para toda a sua rede, contudo, quem recebe o email não pode enviar reply para a rede do sujeito. É a velha lógica unilateral da comunicação: um-todos.
Participei de um debate online com uma figura que sempre mandava a opinião dele para todos os seus "amigos", contudo, o que eu dizia sempre ficava no terreno do isolado, do perdido, da relação eu-meu interlocutor. Talvez essa função do orkut reflete um pouco a dimensão sinóptica que Baumann insiste em afirmar: o mundo se articula na criação de tecnologias que mais investem em "evitar a entrada" do que "evitar a fuga" (panóptico).
Sei que, para quem está no Orkut, socializar a sua rede no "fora" é perder a graça de usar a comunidade virtual. Contudo, essa "reprodução do fora" carrega um dupla ideologia. Primeiro, a noção de que constituindo um fora, os vínculos se tornarão mais fortes no dentro. Porém, essa condição comunitária identitária (eu-outro / dentro-fora) continua a reforçar elos fracos, porque no âmbito do virtual, as identidades são mais camisas do que peles. O dentro é mistificação, que se sustenta numa prática do fora que é ilusória, já que a informação circula lisamente.
A segunda ideologia é a noção do fora como um terreno do excesso, o que justificaria a criação de um dentro mais objetivo, comum e estriado. Trocando em miúdos: somente no dentro é possível constituir redes sociais, já que a barreira identitária (ter comunidades) é o que articula o ser algo.
No final de tudo, acho tudo moralista. É só "entre quatro paredes" (no dentro) que o íntimo, o político e o desejo se manifesta.