Livre ou aberto?

O genial Richard Stalmann,f undador do movimento do software livre, escreveu um ótimo artigo (tem em espanhol e em inglês) em que diferencia o conceito de aberto e livre. Quem não sabe há uma bifurcação dentro do movimento de produtores de conteúdos não-privados. De um lado, quem defende arduamente a idéia que qualquer produto cultural deve ser uma obra livre, totalmente liberada da propriedade intelectual, livre para circular, para construção de obras derivadas, para comercialização etc. O autor, no caso, é sempre protegido e reconhecido como o inovador, mas não deve exigir restrições ao uso do produto cultural (seja um software, uma imagem, um filme etc). Na outra ponta, há aqueles que pensam que a obra deve ser aberta, mas o autor pode impôr restrições no terreno da propriedade intelectual.

Stalmann está do lado dos livres e radicaliza a luta pela liberação da propriedade intelectual do direito do autor. Para ele este deve exigir a propriedade da idéia, mas não do produto. Ele apóia que qualquer um possa utilizar trechos de poema de Drummond, criando novos poemas. Contudo esse alguém, ao criar um novo poema, seja obrigado a deixar seu texto livre para novas criações. Não deve haver apropriação individualista. Essa é a idéia do copyleft. Uma forma de proteção do autor e da obra. O Linux é assim. Se a Microsoft quiser pegar um pedacinho do seu código de programação para melhorar o Windows, não há problema. Ela só vai ter que disponibilizar o Windows como uma obra livre para que outros possam produzir novas obras. Se não fizer isto, é processada na Justiça, já que o copyleft é uma licença pública, que protege a criação e não o criador, mantendo-a sempre livre.

O texto de Stalmann é uma crítica contundente ao movimento de fonte aberta, que tem um lado positivo (a obra é disponível a todos), contudo, o autor impõe restrições proprietárias.

O significado óbvio para software de código fonte aberto é “você pode olhar o código fonte”. Este é um critério muito pobre em relação ao software livre. Software de código fonte abierto” inclui software livre, mas também inclui programas semi-livres tais como XV, e inclusive algun programas privados como Qt.

Um novo artigo

Acabei de escrever um artigo para ser publicado na revista Global Brasil, editada pela Universidade Nômade, e com circulação nacional em bancas. Titulei de O Quinto Poder, uma reflexão sobre as mídias participativas e colaborativas como determinantes na formação do pensamento,já que este é formado por imagens, opiniões e informações, como diz Castells, ele é então elaborado pela comunicação. Assim, como se forma o pensamento em tempos de blogs, wikis, skype etc? Tentei responder a isto. Inspirei-me, principalmente, nas manifestações chilenas de maio de 2006 e no caso Sarney x blogosfera.

O artigo é curto, mas ficou legal: o-quinto-poder.doc

O blogueiro Paulo Coelho

Essa é boa. O mago da literatura mundial agora resolveu monopolizar audiência na web 2.0. Paulo Coelho tem um blog. O diário foi criado para divulgar seu novo livro, A Bruxa do Portobello. Um terço do book vai ser publicado no blog. Depois do lançamento do livro, o blog vai ser um espaço de discussão. O blog do cara pode ser lido em português, inglês, francês, italiano e espanhol. Parece que vai lançar um vídeo no Youtube também, tipo, “uma entrevista exclusiva para você, multidão”. É o espetáculo assediando a mídia da multidão.

No fundo, no fundo, trata-se de um folder interativo. Nada mais. O resto é estratégia de marketing: aproximar Paulo Coelho da “cultura do espalhe”, “da cultura viral da rede”. Me poupe!

Via Blog de Guerrilha.

Declaração de independência da blogosfera

Via Juan Freire, um texto que entra no roll daquelas manifestações típicas de blogueiros: escrever sobre a importância de blogar. Dessa vez a narrativa utilizada é na forma de manifesto. Alguns benefícios do blogar:

Rompe o código fechado do elitismo, dos fundamentalismos de todo tipo. Inaugura a coversação e a transversalidade intelectual.

De fato a possibilidade de ter uma participação mais ativa na construção da opinião pública é um marco do quinto poder (os blogs e as tecnologias colaborativas, como o Wikipedia)

Rompe com as idéias aceitas sem questionamentos e críticas, (…) recombina a informação para observar a realidade desde outros pontos de vistas

Participei de tanto blogs colocando minha opinião, via comentários, que teve alguns momentos que mudei mesmo a minha opinião, ou pelo fiquei mais tolerante, ou pelos menos “menos senhor da razão”, doença que realmente acomete dos professores universitários.

A internet oferece um espaço virtual de liberdade, autônomo em relação às autoridades do mundo físico. Mas esta independência será sempre temporal, em qualquer momento é suscetível de terminar-se e de reiventar-se o de reinventarse; portanto aproveite esta indpendência transitória intensamente.

Pra mim, eis o núcleo da linguagem blogueiro: a autonomia na produção da linguagem, que está associado com o aumento de singularização dos nossos dias. Não dava mais para assistir Gugu, Faustão e Fantástico. Sentíamos incômodo em ter a massa como a única alternativa. Os blogs e as mídias participativas é uma resposta a esse vazio de autonomia em que a cultura de massa se ancorou há anos.

Queria acrescentar uma coisa a essa declaração de Juan Freire:

– o blog possibilita a criação de uma obra aberta. Vocês, vejam, de um post do Freire surgiu uma invenção, um desdobramento, uma dobra. A possibilidade de diálogo, ao mesmo tempo, de singularização do texto é algo que fundamenta a ética blogueiro, baseada principalmente na lógica do “blogueiro linka blogueiro”. E assim criamos uma comunicação baseada no eco e não na difusão.

 

 

A briga de Sarney com a blogosfera

O ex presidente Sarney está processando uma blogueira amapaense na Justiça. O alvo da investida jurídica é contra a jornalista Alcinéa Cavalcante. Tudo começou porque a coleguinha publicou uma imagem do presidente com as singelas palavras: Xô, Sarney! Uma campanha contra o voto no senador maranhense.

A Justiça (pasmem!) chegou a mandar tirar várias mensagens do blog do ar. O resultado está sendo péssimo para Sarney: uma profusão de mensagens em rede contra o candidato, além da assinatura de uma petição – contra esse atentado à liberdade de expressão – assinada por vários blogueiros (no próprio blog da jornalista).

Veículos de massa a família de Sarney tem vários. Utiliza-os sempre ao seu proveito. O problema é que a blogosfera é livre e detesta os barões midiáticos. Aí… Sarney está sendo massacrado pelos blogueiros, que vão ecoando a mensagem: Xô, Sarney!

Via Polimidia!

PS: o blog está fora do ar. Mas, como o blog é um rizoma, é difícil tirá-lo do ar. A blogueira já hospedou o blog em um servidor internacional, o BLogger. Assim, a Justiça Brasileira não enche o saco. Como dizia MArx, o Estado é o braço armado do capital.

Somos argentinos

Para alegria de quem tem o sonho de integração latino-americana, o Brasil e a Argentina selam o acordo histórico que dá aos seus expatriados os mesmos direitos civis, sociais, políticos etc do país onde ele está residente. Se um argentino há anos está por aqui, ralando, estudando etc, tem agora os mesmos direitos que os brasileiros.

Que a idéia comece a se expandir nas relações com os outros países latino-americanos.

Na globalização, a saída é os países criarem relações de interdependência mais do que ficarem massacrando um ao outro.  Bola dentro do governo Lula!!!!

Wikia: colaboração e mundo da política

O inventor do Wikipedia, Jimmy Wales, lançou em julhor uma plantaforma colaborativa cujo objetivo era melhorar a política. Trata-se do Wikia, um espaço coletivo de debate de idéias e produção de conhecimento sobre o mundo da política. O site segue a lógica da web 2.0: informação produzida e gerenciada pelo próprio usuário. A versão tupiniquim do Wikia saiu agora do forno e foi desenvolvida pela equipe do Portal do Voluntário, coordenada por Bruno Ayres (dá-lhe Brunão!!).

No Wikia português dá pra conferir o manifesto lançada por Wales e se aventurar na inserção de artigos e verbetes sobre a política, bem rememorar casos de corrupção, de conquistas sociais, informar-se sobre políticos etc.

Os autores de blogs e wikis estão agora inventando uma nova era da comunicação, e é minha convicção que este nova comunicação vai inventar uma nova era da política. Se a comunicação de massa nos trouxe a política de massa, a comunicação participativa vai nos trazer a política participativa. Um diferencial do mundo dos blogs e dos wikis é que não é preciso pedir permissão para fazer as coisas acontecerem. Se alguma coisa precisa ser feita, façamos. Ora, campanhas políticas precisam parar um instante e se dar conta da existência da Internet, se dar conta dos blogueiros, se dar conta dos wikis, e se relacionar conosco de uma maneira construtiva. Este website, Campaigns Wikia, tem o objetivo de reunir pessoas de diferentes perspectivas políticas que podem não compartilhar muita coisa, mas compartilham a visão da política democrática como um debate com as idéias sérias de opositores inteligentes, como a mobilização e motivação de pessoas comuns a se envolverem e se preocuparem com a política para além das mensagens televisivas.

A edição é necessária para combater o vandalismo?

Na Alemanha,ocorre um grande esforço dos responsáveis pelo Wikipedia por diminuir o número de verbetes que têm sido escrito com informações falsas. O esforço se tornou necessário porque as autoridades germânicas prometem até fechar o wikipedia se conteúdos difamatórios e mentirosos se multiplicarem.

A solução desse “esforço” seria a implantação do conceito de sistema no lugar do de comunidade (este é o que caracteriza a a enciclopédia). Ou seja, quem quiser escrever verbete teria que se cadastrar. Assim o site se tornaria um espaço mais centralizado (um sistema), sendo possível localizar facilmente os autores de possíveis “gracinhas”.

A segunda medida é a adoção da figura do editor. O editor, ou melhor, os editores seriam os usuário mais velhos e com atuação contínua na escrita de verbetes do Wikipedia. Esses editores teriam acesso a uma interface onde se localizaria os novos verbetes. Leriam e aprovariam ou não. Esse tipo de estratégia já é adotada em muitas “plataformas colaborativas”, como o Overmundo, no Brasil.

Dessa história tenho concluído que a mediação do editor no sites colaborativos começa a se justificar pela necessidade de controlar o vandalismo de usuários que buscam degradar atitudes mais democráticas e colabroativa na produção de informação. Contudo, a figura do editor, neste caso, restringe que as informações sejam publicadas imediatamente, afugentando usuários que crêem ser possível a produção de cohecimento auto-gerido, o que seria tipicamente o ethos que constitui o “ser Internet”, mais especificamente, a nova fase participativa da web (web 2.0).

Talvez a primeira opção seja a melhor alternativa. A segunda, de fato, mata a experiência wiki. Passa a ser mais uma experiência midiatizada e mediatizada do que livre e colaborativa.