A Direita brasileira (e parte da esquerda, a radical impotente) criou um forte lobby para rechaçar a implantação de uma rede de televisão pública e estatal pelo governo democrático de Lula. Essa gente brada que não caberia ao Estado “dirigir” os rumos da comunicação do país. Amparada no legado de intelectuais demodès, sopra o clichê acadêmico uspiano: “O público não se esgota no Estado”. Mas se trata de puro silogismo. Os sistemas público e estatal de TV são coisas distintas, segundo o artigo 223 da Constituição. O estatal divulga atos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. E o sistema público difunde conteúdos produzidos pela sociedade em canais educativos, culturais, universitários e comunitários.
A questão política é que o presidente metalúrgico é ousado demais. Primeiro, vai criar a rede de TV do Executivo, uma “Voz do Brasil” vista na telinha por quem tiver interesse e paciência. Mas essa TV não assusta ninguém. O grande incômodo da direita é com o forte apoio do governo de Mr. Da Silva à TV Pública, que será criada e modelada, a partir de abril, pelos atores da sociedade civil. Pela primeira vez na história, os movimentos culturais da periferia pobre, cineastas, músicos, artistas, jornalistas, videomakers, enfim, todo o precariado da comunicação e da cultura, passará a contar com canais de televisão, com abrangência nacional e local, geridos por eles próprios.
Com a migração para o modelo digital, esses canais serão abertos e concorrentes dos comerciais, disputando, portanto, recursos públicos e privados como já acontece em outros países democráticos. Num contexto de profusão criativa, impulsionada, em parte, pela ampliação da democratização dos instrumentos de produção (como o computador, videocam, câmeras fotográficas digitais, celulares, etc), a sociedade passa a exigir espaços comuns para abrigar suas criações, para que mais gente possa conhecê-las. E a televisão pública é uma boa solução para isso.
Publicado no Jornal A Gazeta (Vitória-ES), no dia 22/03/2007