A Claudia Feliz e a Melina Mantovani

Olá, colegas

Eu gostaria de fazer uma reparo na reportagem de vocês publicada hoje em A Gazeta sobre o caso da Ufes.  O reparo é sobre um questionamento ético aludido a mim em uma passagem, editada e publicada na mesma reportagem. Vou citar integralmente a passagem:

A notícia sobre a reação agressiva do professor Victor Gentilli se espalhou rapidamente, ontem, por meio do Twitter como sendo um “barraco na Ufes”. E a divulgação, no site de relacionamento da internet, foi feita não só por alunos, mas também por outro professor e colega de Gentilli no departamento de Comunicação da Ufes e vice-diretor do Centro de Artes, Fábio Malini.

Ele alega que retuitou o que alunos já haviam divulgado, depois de ouvir a confirmação do fato por meio do professor Erly Vieira, embora não tenha ouvido Gentilli. “O fato de se retuitar não significa que se deve fazer um processo de perseguição ao professor. Mas evita que as coisas sejam abafadas”, argumentou Malini.

O professor afirma que colocou a informação preocupado com a aluna que foi atingida. Mas o tom é de ironia nas mensagens. “O que eu falei no Twitter eu falo abertamente em qualquer lugar”, ressalta.

Sobre as passagens em discurso direto direto não há reparo algum, senão na sua associação com o discurso indireto dos repórteres. O discurso indireto, conforme característica própria, ganha sempre em interpretação e terceiridade de pessoa. E sempre revela um narrador poderoso, à medida que pode afirmar o que bem entender. Mas associar a  opinião de vocês  a uma verdade dita por mim a vocês, daí isso são outros quinhentos. Mas, antes de iniciar o reparo sobre o episódio, explicitamente, eu publiquei dois tweets, um reply e republiquei outros três. Abaixo os tweets, que estão todos em ordem cronológica inversa, em homenagem à cultura blogueira, grande atração desse caso todo.

RT @flavio_santos: As más línguas são muito bem informadas! de acordo com as Más Linguas, a aluna é Vitoria Varejao . 11:38

RT @possmozer: @darshany Gentili é o protagonista. Se quiser espalhar, não fui eu q falei. muito medo da inquisição. 11:30

@isabelacouto e quem é o aluno? 11:30

Jogar laptop na cabeça de aluno? Sem dúvida, é culpa do windows. #barraconaufes 11:29

Antigamente o professor jogava bolinha de papel para chamar atenção de aluno. Hoje, laptop. #professor2.0 #barraconaufes 11:17

Mais um! RT @CilCasati: #BarracoNaUfes 11:09


Caso queiram confirmar esses tweets, podem checar no meu perfil do Twitter. Caso duvidem, há várias ferramentas de recuperação de tweets apagados na web. Mas não foi o meu caso. Eu, como vocês podem observar, publiquei primeiro uma frase que dizia respeito a outro fato, pois que, há coisa de uma hora antes, já circulava um artigo meu na rede (que foi lido, até agora, por quase 3 mil pessoas) que denunciava a tentativa de censura do Twitter em um departamento da Universidade. Mas, quando respondi, já tinha ciência. Segundo o meu Nokia E63 recebi telefonema do professor Erly Vieira às 11:01. Infelizmente, numa sociedade do controle, nossas ligações ficam todas registradas, mas, caso duvidem, posso até colocar meu sigilo telefônico à prova. Meu amigo de departamento, como vice-chefe da minha repartição, relatou o acontecimento, sempre com um tom ponderado. Relatou a mim por motivos institucionais, sou vice-diretor do Centro de Artes e a diretora estava com a mãe, hospitalizada. Pedi ao professor que esperasse o encaminhamento do caso no departamento, antes de qualquer medida unilateral. Já sabia das informações sobre quem era o professor então às 11:01. Oito minutos depois, fiz a minha primeira publicação. Os alunos numa velocidade grande, começaram a divulgar o ato, mas não o santo.  Sem ter sido divulgado o autor do fato na Internet fiz duas ironias. Na edição de vocês, vocês gostaram mais da primeira, mas os colegas daí do jornal de vocês gostaram mais da segunda, porque recebi um monte de retweet daí, inclusive ironizaram ainda mais, mas vocês não quiseram publicar isso, ok, faz parte da liberdade editorial. E por padrão ético não revelo as fontes. Contudo, os internautas gostaram mais da segunda ironia por motivo muito óbvio: o sistema operacional Windows é uma porcaria. Trava e “dá tela azul”, aliás, gírias que se popularizam pela internet toda. Em seguida, já sabendo da autoria (mas não divulguei porque eu não quis), indaguei à rede: quem é o aluno? Em seguida, Recebi vários replies (vocês também podem checar, o Twitter guarda tudo) afirmando quem era a aluna e o professor. Não chequei se era aquela aluna mesma, mas, do mesmo jeito que acreditei numa fonte departamental, decidi acreditar na “sabedoria da multidão”, e pensei, não é possível que tantas pessoas estejam errando o nome da aluna, sobretudo conhecendo quem eram os estudantes que passavam a informação, todos sempre muito zelosos e éticos. Publiquei o nome de ambos. Era 11:30 e 11:38. Vocês me ligaram às 12h49, uma hora depois. Nós, a rede, fizemos o trabalho inicial da imprensa com todo primor ético. E num furo atroz. Vocês agradeceram e mandaram o carro da reportagem. Uma hora depois. Depois disso, a rede virou uma guerra de versões. Não retuitei mais nada sobre o assunto. Não quis saber de motivações, situações, simulações, porque compreendo que o fato cabe apuração na Universidade, com toda cautela possível. Usei o mesmo procedimento do veículo de vocês: publiquei na internet o fato, que estava no twitter do gazeta online O fato de não ter checado com o Gentilli não valida qualquer ferida ética minha. Porque, como Emile Zola, acredito que o limite da liberdade de expressão é a verdade. E eu não faltei com ela. A ponto que vocês mesmo, às 14h51 minutos publicaram isso daqui (espero que o link não desapareça)

Universitários do curso de Comunicação da Ufes acusam professor de arremessar notebook contra a turma http://bit.ly/ccLoreWed Sep 29 2010 14:59:20 (Hora oficial do Brasil) via Echofonisso foi no perfil do twitter do @gazetaonline

E DEPOIS,

29/09/2010 – 14h51 – Atualizado em 29/09/2010 – 14h51

Universitários do curso de Comunicação da Ufes acusam professor de arremessar notebook contra a turma

CLÁUDIA FELIZ E MELINA MANTOVANI – DA REDAÇÃO MULTIMÍDIA

Alunos do terceiro período do curso de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) acusam o professor Victor Gentilli de ter arremessado um notebook em direção à turma e depois quebrado uma das mesas do Laboratório de Jornalismo Impresso, durante a realização de uma aula, na manhã desta quarta-feira (29), no Campus de Goiabeiras, Vitória.

Tudo teria acontecido durante discussão sobre a elaboração de um texto, relativo à morte de um aluno da universidade, registrada no início deste mês. O texto seria publicado em um dos jornais laboratório do curso. Uma aluna afirma que teve uma das pernas atingidas pelo notebook, mas não apresentou ferimentos. Os estudantes denunciaram o fato à Ouvidoria da universidade.

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O chefe do Departamento de Comunicação da Ufes, Cléber Carminati, convocou uma reunião extraordinária no departamento para tratar do assunto. Carminati frisou ainda que o professor Gentili disse não saber por que fez aquilo.

Um professor que dava aula ao lado da sala onde aconteceu o incidente ouviu gritos e choro dos alunos e foi ver o que estava acontecendo. Esse professor acompanhou Vitor Gentili até o departamento de Comunicação. Os alunos vão protocolar ocorrência da situação no Departamento. A esposa do professor Gentili foi chamada até a Ufes para buscar o marido e o acompanhou até em casa.


Como se vê, nem eu, nem vocês, conversamos com o professor Gentilli, mas o “embora” só coube a mim. Assim, pau que deu em Chico não se deu em Francisco. Quanto ao questionamento sobre o tom das minhas mensagens, me parece, que, se o caminho for por aí, uma quantidade de grandes jornalistas ficaria sem emprego. Só checar as capas do jornalismo desde quando D João VI chegou cá com essas novidades além mar.

Elegantemente,

Fábio Malini


Ao meus (ex) alunos

um pedido de compreensão e de uso crítico das novas mídias.

Prezados alunos e alunas,

Hoje, no âmbito do curso de Jornalismo, ocorreu um fato já extensamente noticiado. Numa situação de conflito, o professor Victor Gentilli jogou um laptop no pé de um aluno. Logo se criou a hashtag #barraconaufes no Twitter. O termo não explicitava muito bem o que ocorreu, mas se alastrou. Numa mobilização importante, a notícia se revelou completa em pouco tempo. O uso generalizado das novas mídias faz com que a dimensão pública seja rapidamente revelada. Isso é um avanço democrático. Mesmo sem diploma, vocês tiveram total poder de relatar os fatos em primeira mão. Agora, não deixem que esse poder conquistado se transmute em uma pequena tirania. Não caíam em exageros, não façam pré-julgamentos, não façam ilações.  Eu tenho muito orgulho de ser professor da Ufes. De poder ter tempo para debater o máximo possível com todos, respeitando a opinião de todos, mesmo que tenhamos nossas teimosias. Hoje o professor Edgar Rebouças, que dá a disciplina de ética nos meios, me disse: “pra que isso tudo?”, ao se referir à velocidade de circulação da informação sobre o caso. A premência do tempo pode nos levar a muitas conclusões apressadas. O livre exercício do pensamento também é um prática baseada na tolerância e na escuta múltipla. O caso de hoje vai ser objeto de conciliação, que pode dar em um não ou num sim. Se o problema é maior que isso, existirão opiniões sensatas e insensatas na rede e na universidade, faz parte da liberdade de cada um expressá-las.  Claro que o caso não pode ficar fechado a um corporativismo, mas também não pode ser objeto de perseguição daqueles que descobriram a “capacidade de dominação” dos novos tempos (lembra do post meu de hoje?). O jornalista tem lado; o dos justos, como diz o genial josé hamilton ribeiro. Mas não somos policiais. Façam ironia, mas não se tornem o Tiririca.

A censura ao Twitter e a inquisição que “resiste” na Ufes

“Todos nós temos poder no corpo” ( Michel Foucault )

El desarrollo del maquinaria revela hasta qué punto el conocimiento o knowledge social general se ha convertido en fuerza productiva inmediata, y, por lo tanto, hasta qué punto las condiciones del proceso de la vida social misma han entrado bajo los controles del general intellect y remodeladas conforme al mismo.

(Karl Marx in Grundisses)


Estava no Twitter. Relatava um debate público. Sua rede retuitava alguns dos seus comentários, que eram expressos como manda a Constituição: com seu Nome Próprio. Mais tarde, a patrulha bateu à porta. Em reunião de departamento, na Universidade Federal do Espírito Santo, foi acusado de – por causa dos seus tweets e os da sua rede – ter sido responsável pela imprensa ter descoberto a dissidência que ocorrera no debate público. Como se sabe, no Twitter, e esse é o barato total, todos se tornam imprensa. E a velha imprensa, quando se pretende atualizar, entra no circuito da rede tornando-se público e imprensa ao mesmo tempo. “Confessa. Não se faça de vítima. Foi você que embasou à imprensa. Estão aqui seus tweets e os de seus amigos que comprovam”, dizia, na reunião, um inquisitor dos novos tempos.  A seção de assédio moral foi totalmente montada. Em uma reunião na universidade, há sempre professores e estudantes. Os estudantes foram convidados a se retirar, um estupro às normas universitárias. “Mas nós vamos saber o resultado dessa reunião como?”, indagava um aluno. Eles queriam participar do controle social, mas foram retirados de cena. A partir daí, um grupo, de posse dos tweets, começava a sessão típica do velho autoritarismo brasileiro: “Confessa! Você não é da nossa turma. Pensa diferente. Confessa que foi você!”. O tuiteiro, sem saber, dizia: “vocês querem que eu confesse o quê? Qual é o ato ilícito de produzir comentários de debates públicos via Twitter?”. O grupo continua: “Se não foi você, foi você”, apontava o dedo para outro:  “naquela reunião você discordou da gente”. O segundo “acusado” diz: “você vai ter de afirmar isso em juízo”.  A reunião termina. Resultado: possibilidade de inquérito administrativo contra aquele que tuitou um debate público dentro da Universidade Federal do Espírito Santo. A abertura ou não do inquérito vai ser votado na próxima segunda. Possivelmente o inquérito não vai ser aberto. Um: o tuiteiro fez registro de uma atividade pública, divulgando um conflito de ideias no seio de um grupo social, algo que todo santo dia ocorre, inclusive no Supremo Tribunal Federal.  Dois: a possibilidade de inquérito foi deliberada ferindo todas as regras universitárias e todos os tratados de direitos humanos, no velho estilo “confessa senão morre”. E se o inquérito for aberto, vai ser aquele mico nacional, quiçá, internacional.

Para além do assédio e de ilações que conduzem a difamação e tutti quanti, a ação desse pequeno grupo de professores desse departamento da universidade revela a impaciência quanto à diferença e à produção de um espaço público amplo. Impaciência típica de gente que gostaria de ser stalinista, mas perdeu essa oportunidade história. O que resta de pravda só existe plantada como uma raiz nas cabecinhas que adoram a metáfora do sol. A contrapelo, a nova geração de professores da Ufes tem aquilo que muitos de seus pares gostariam de ter há 20, 30 anos: meios de expressão com larga abrangência a um clique. Uma geração inteira de professores universitários teve que engolir sapos de pequenos grupos autoritários, que alcançando o poder departamental, fazia uma espécie de perseguição a todo um outro que ousava dissedir (no sentido fonético também daquele outro verbo). Contudo, como um vírus do mal, aqueles que antes eram objetos da dominação, ficavam à espreita, esperando o dia nascer feliz e chegar logo a sua hora de assumir o poder, para fazer o mesmo com a outra geração que chegava ao recinto. Era uma espécie de ciclo sádico do poder universitário. Não se tinha a quem recorrer, senão ao próprio poder de cima, o que significava pactuar com o pessoal desse andar do alto, para além do bem e do mal.

Mas, depois de 89, as coisas começaram a mudar. Caiu o muro e produzimos um estado de direito. Mas também surgiu a web. E, quando uma maioria se arvora do direito, é na internet/web que vocalizamos primeiro a reconquista do direito. O ativismo, desde os neozapatistas em 1997 e de Seattle em 1999, já afirma que uma transformação social se faz usando a capacidade coletiva de comunicação global em rede.

O caso na Ufes é velho conhecido para quem agora acessa a internet e quem há muito tempo se comunica através da imprensa. Em geral, ninguém quer que suas convicções sejam questionadas. E menos ainda quando, ungido de um poder constituído, ver a verdade desse poder ser desconstruída. Porque a verdade do poder é a norma. Siga a norma e se submeta. É aquilo que Foucault dizia, num tom pra lá de irônico: “Todos nós temos fascismo na cabeça”. Na prática, a internet permite que a verdade não se torne homogênea, porque faz ativar todo um conjunto de poderes expressos em milhões de corpos enredados. Não há poder que perdure e não há verdade que se eternize na internet, como era nos velhos moldes da massa, do partido à imprensa. O poder em rede não se manifesta como um contrato (no sentido liberal) e nem como uma propriedade (no sentido marxista). Daí que toda uma série de casos passa empurrar as narrativas rizomáticas para aquilo que o ministro do Supremo Tribunal Federal Ayres Britto lindamente arguiu: a internet é o espaço da liberdade absoluta. A internet é um dispositivo genuíno de direitos humanos.

Alguns poderiam refutar: mas a internet rompe com o privado, tornando tudo que é íntimo, público. E o perigo da publicização exacerbada da vida é repetir aquilo que a internet diz ter superado: a verdade ser construída a partir de um poder massificado em rede. Assim, travestido de aura resistente, a quantidade de reTweets, a quantidade links trocados, a quantidade de comentários, a quantidade de atualizações, a quantidade de curtições, faz valer um poder de “pequenas maiorias” que produzem verdades universais. É verdade, há todo uma prática de pequenos Berlusconis da rede que, em busca de fama, muito dinheiro e má-fé, querem fazer da produção coletiva apenas efeito especial. Conjugado a esses pequenos, há todo uma cultura imersiva dos dispositivos web 2.0 que atiçam a repetição de bordões, preconceitos e lampejos do espetáculo midiático.

Contudo, é como cantava Jim Morrison contra o moralismo dos 60, “vocês têm o poder, mas nós somos em maior número”. Nessa levada psicodélica, pipoca na rede a dissidência. E os novos conflitos e lutas fazem da internet o seu principal locus de difusão. O caso das eleições brasileiras de 2010 é exemplar. O que há de mais interessante nelas não é a narratologia da história vencedora, que é uma chatice sem tamanho que se tem muita resistência em acompanhar (só para lembrar que a maioria da população não assiste ao programa eleitoral televisivo). Uma nova história política é praticada em inúmeros #foramagnomalta, #pergunteaoserra, #dilmabyfolha, #safadezoculta, enfim, constituindo-se como um conjunto de histórias não programadas pelos marketeiros das campanhas, com suas taras por #ondas #votenúmerotal. Essa é uma “nova história”, feita por muitos, mas que ainda não chega a todos, sem dúvida. Mas ela está aí, registrada, e é ela que vai sobreviver, acredito. Histórias que demarcam um corte com aquela sociedade brasileira de 89, que tinha um canal de TV com um jornal nacional, com share de quase 80% durante o debate Lula x Collor. E hoje, o mesmo canal transmite o debate presidencial tentando manter um share de 40% (competindo com as verdades dos internautas, que se antecipam às edições jornalísticas e publicam suas impressões do debate televisivo, em tempo real, no Twitter). O que mudou nas nossas vidas de lá pra cá senão a existência dessa possibilidade ímpar de termos acesso a mil outras verdades, a mil outros sujeitos? Não é à toa que a emancipação social só se faz dentro do comum e toda imanência conflitiva que é viver em uma democracia. Isso está conosco e ninguém tira. E é uma pena que alguns colegas professores universitários não se inspirem naquilo que vêem seus filhos/netos fazerem diariamente: comunicar suas posições, através também daquele computadorzinho maldito (só para lembrar que a verdadeira opinão pública do #fichalimpa nasceu da internet). Não retire da gente o que a gente herdou das lutas democráticas.

Dizem que, na reunião desse departamento universitário, alguém lembrou: “gente, esse é um caso de polícia” (lembrei de Gramsci na hora quando soube disso: polícia x política). Depois, na internet, ao saber do caso, alguém sentenciou, em tom de humor: quem tuitar na Ufes vai parar nos contêiners de Novo Horizonte, na #masmorraes. É isso. É preciso libertar as #masmorrases que perduram nas cabecinhas de muitos de nós.

PS: não citei o departamento da Ufes porque todo registro da reunião ainda não foi trazido a público. Na Universidade, as atas devem ser aprovadas pelos pares, no departamento. Logo, já se viu, né? Esta semana terá uma longa negociação por lá para fazer publicar uma ata que não responsabilize ninguém pelo assédio moral. Por isso que repito, reunião pública do Estado poderia ser transmitido em tempo real, para aumentar o controle social estatal.

PS2: #masmorraes foi um movimento organizado na internet, através do Twitter, denunciando a não publicação da nota “As masmorras de Paulo Hartung”, de Elio Gaspari. A nota seria veiculada numa edição de domingo, no jornal local A Tribuna. O conteúdo da nota era a denúncia do estado infame do sistema carcerário do ES. Através do Twitter, usando a hashtag #masmorraes, os usuários (com protagonismo do professor da Ufes @VictorGentilli) divulgaram todo tipo de material possível sobre as prisões do estado, de vídeos a fotos, de artigos a relatórios. A imprensa local, calada há tempos sobre o assunto, teve que prontamente atender o movimento da rede, publicando o que ocorria nas prisões do Espírito santo. O movimento #masmorraes ainda derrubou a popularidade do candidato do governador Paulo Hartung, Ricardo Ferraço, à sua própria sucessão. O governador abandonou seu candidato, numa reviravolta política das mais malucas no estado, e apoiou aquele que era seu opositor, o senador Renato Casagrande, que o governador tentou, como dizia a crônica política da época, desidratá-lo o tempo inteiro.  Casagrande (PSB) vinha à cena com toda pinta de independente e com uma presença digital que nenhum outro candidato se orgulhava em ter. O senador deve se eleger com cerca de 60% dos votos e é reconhecido por ser uma liderança histórica na defesa dos direitos humanos. E o #masmorraes talvez tenha sido o fato mais importante para as decisões políticas que envolveram a eleições ao governo do estado em 2010.

PS3: sou parte da rede que retuitou o debate do docente desse departamento. Faço retweet todos os dias e agora sei que o retweet é coisa séria, “assunto de polícia”. #safadezaoculta é isso acontecer comigo. #medo

Ps4: descobri que a inquisição universitária foi articulada por dois professores, eles passaram a manhã inteira imprimindo os tweets e os retweets para levar para a reunião, como se fosse a Polícia da Sociedade do Controle (P-Soco). Esses dois professores têm perfil no Twitter. Mas não gostam de dar Retweet. E falam coisas do tipo, refundar utopias, luta contra-hegemônica, anticapitalismo e tudo mais. Gramsci e Marx não devem estar gostando nada dessa vulgaridade.

O post, o gênero literário viralata

Trechinho de artigo meu, “o post, gênero literário viralata”, que será publicado em revista do Itaú Cultural. O artigo faz parte de um processo de pesquisa sobre o post como linguagem e nova estética literária online. Nascido em 1994, o diário virtual se alastrou logo no começo da web, no então Justin´s blog, mantido por justin Hall, que escrevia sobre a sua vida cotidiana.

Como webdiário, trazia consigo toda cultura bbs que marcava o período: compartilhamento, mutualidade informativa e temáticas especializadas. Mais tarde, já em 1997, o diário transforma-se em web log, ou blog, denominado assim por ter as atualizações sempre dispostas em cronologia inversa (o mais recente no topo). E o resto já é história.

Segue uma passagem do artigo.

Em suma, o blog passou a cruzar-se com todo tipo de linguagem, na dura tarefa de, como Perseu, se manter humano, mesmo que os eufóricos queiram torná-lo divino. E o post se disseminou como a forma mais bem (in)acabada da hibridização da linguagem online. Postar virou sinônimo de escrever, de escrever de forma compartilhada em rede, como naquela crônica-post do blogueiro Antonio Prata sobre sua reclamação ao síndico pela vizinha jogar bitucas de cigarros pela janela. E, ao final do post de 7 linhas, Prata escreve: “E se o leitor desavisado não entendeu lhufas desse post, favor ler o texto abaixo”. Contudo,  abaixo não tem nada, senão os comentários (vários a partir daí) dos próprios leitores. A estratégia, típica de escritor nato da blogosfera, faz do artista um indutor de proposições e de dispositivos de escrita aberta. Essas proposições abertas na linguagem e o estado permanente de presença do escritor-blogueiro rompem o “paradigma da Olivetti”, simbolizada pelo escritor isolado e mergulhado em rascunhos e numa desordem criativa, e coloca ao escritor online um novo conflito estético: é possível criar o tempo inteiro e num regime de alta visibilidade? Parece-me que uma dos grandes dificuldades dos escritores atuais está no fato de que a inter-relação cognitiva e afetiva com os leitores através do blog é motivo para criação de mais histórias, de modo que quanto mais entradas são produzidas, mais são reinventadas e compartilhadas na rede, tornando o escritor ainda mais consumido. Como o artista vive do público e da atenção gerada neste, o escritor se vê livre da administração da escassez da atenção imposta pelo mercado editorial de papel, mas se encontra dramaticamente envolvido, ao mesmo tempo, pelo desejo contraditório de ser sempre visto pelos fãs online (daí os escritores terem além de blogs, perfis em uma série de redes sociais online) e ao mesmo tempo de buscar um momento de recolhimento para amadurecer a sua linguagem, através da busca de novas referências, novas leituras e novas formas de escrita. O autor online se defronta, em relação a épocas anteriores, com a dificuldade de administrar a sua atenção e não a do público para com ele.

Genealogia da internet: convergência e web 1.0

Na terceira aula sobre a genealogia da web, chegamos a processo de transformação da internet em uma grande rede de usuários, mais do que de especialista e cientistas de informação e informática.
View more presentations from fabiomalini.
Aqueles que se interessar, o conteúdo do slide foi comentado em aula abaixo (começa com 15 minutos):


Watch live video from Fabio Malini on Justin.tv

a história da internet (a influência da contracultura)

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Dando continuidade ao debate, ocorrido na disciplina de Cibercultura, apresento agumas observações sobre a genealogia da internet, agora explorando toda influência da contracultura nos valores trazidos pela interconexão de computadores conseguida pela big science.
Com forte influência do mundo pós-68, a juventude metropolitana norte-americana fez ecoar seu grito de liberdade pelo mundo à fora. O resultado foi a transformação da utopia de liberdade e comunitarismo no próprio fim da internet.
Quem quiser acompanar a aula, em vídeo, só clicar no meu canal do justin.tv.

Pausa

Nos últimos meses, o blog ficou um pouco abandonado, tadinho. Mas escrevi. Agora, ele vai ficar pausado. Vou ficar alguns meses me reconstruindo, o que é sempre uma tarefa árdua, aguentar a gente mesmo. Mas é preciso viver uma fase de mergulho, sobretudo, o teórico.

Até.

O viral e o orkut nas eleições 2010

No Brasil, pelo o que estou pesquisando, as eleições serão marcadas pelo viral. Nada de Orkut, nada de Facebook, nada de Twitter. O que vai bombar e decidir o voto será, em primeiro lugar, o viral. Junto dele as estratégias de marketing de guerrilha. O viral trará toda a cultura do humor nacional, que é o que manda na internet no Brasil – só ver os milhares de virais já assistidos no país, do “funk de não sei quem” aos personagens bizarros que se tornam célebres no youtube.

O viral tem um componente complicado: o anonimato (como todo mundo sabe, o anonimato sacode a internet, mas é visto por muito como algo covarde). Mas faz parte de sua cultura. O anonimato pode gerar um duplo movimento, o de trolagens e boatarias; ou de adesão colorida, por outro. A trolagem (espalhamento de comportamentos fraticidas, facistas, de má educação) pode fazer forte o candidato que é detonado pelo boato, pois que o vitimiza, tornando-se, portanto, injustiçado e objeto de má fé. Mas o efeito pior é do candidato que o troll busca defender, que, rapidamente,  acusado de estimular a boataria, passa a impressão que é um cara sem ética. Candidato bom age rápido quando é trolado: cria um blog somente para responder a rumores. E leva a melhor. Continue reading

Howard Dean, o pioneiro da Política 2.0

A política 2.0 não começou com a campanha de Obama. Quatro anos antes, em 2004, Howard Dean inovou com sua campanha política de nicho: forte uso do Meet Up, sinceridade ao extremo (mostrando suas convicções, como crítica a ocupação norte-americana do Iraque) e a estratégia de estímulo à doação de dinheiro pelos eleitores (através de pequenos valores).

Há três anos, no Laboratório de Estudos de Internet e Cultura, na Ufes, debatemos a introdução do livro A revolução não será televisionada, de Joe Trippi, que conduziu a campanha de Dean {mais tarde também a de John Edward, que abandonou as prévias democratas, vencidas por Obama).

Atrás da cortina dessa política negociada, as campanhas se tornaram mais venenosas, mais conscientes do poder da mídia, mais tecnologicamente avançadas, mais caras, intensas, longas, maiores e mais fortes em todos os aspectos, exceto um. Em algum lugar do caminho, eles perderam os eleitores.

Quer conhecer mais a experiência de Dean? leia a tradução livre da ótima introdução do livro de Trippi. {tradução de Maria Elisa}