Quando o jornalismo vira BO

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Há, nesta matéria de A Gazeta, assinada por Rosana Figueiredo, uma festival de atitudes que qualquer jornalista deveria evitar. Um festival grosseiro de atitudes antiéticas, que, lógico, foram “melhoradas” pelo editor do jornal.

1. A atitude vulgar e irresponsável de envolver os pais do rapaz. Pais que estão sob cuidados médicos. A mãe chega ser chamada por apenas o prenome (acho q a jornalista esqueceu de perguntar o sobrenome), tipicamente o modelo policialesco de nomear aqueles que vivem em Terra Vermelha, na periferia da cidade. Uma vez a Eliane Brum me disse: “muitas vezes, é o detalhe que pode acabar com a vida de alguém”. Deixe os pais do cara em paz. São trabalhadores, pobres, em que o custo da passagem de ônibus reflete diretamente na possibilidade do filho se manter estudando na Ufes. Trate-os com dignidade, por favor. Se o jornalismo fosse uma profissão mais séria, o jornal e a jornalista estariam sendo processados por desvio ético.

2. O compartilhamento da foto do apedrejamento de um ônibus. Reparem como o editor e a jornalista deixam escapar o nome de “I. P”. A foto, tirada num contexto de revolta contra a espoliação urbana, ainda pode nos levar a reflexões do tipo: é justo depredar o ônibus quando seus direitos não são respeitados, quando não espoliados? Apesar de nao termos essa resposta, deixa I.P em paz. O jornal faz o que a imprensa egípcia fazia: ficar publicando conversações na rede para demonizar os manifestantes.

3. As ˜declarações na internet˜. As frases das declarações no perfil de E. não revelam nada, senão o direito de E. expressar seu descontentamento. Em maio de 2011, a diretora corporativa de A Gazeta, a Sra. Letícia Lindemberg, publicou no seu Twitter que queria ver todo mundo morrer alagado, devido a protestos feitos por moradores da região da Grande Terra Vermelha, que pararam a rodosol. E esse texto de uma Limdemberg, que está lá no sue perfil, não significa nada criminalmente. Ao contrário, expressa uma opinião de um setor da população. Então não dê uma de policial, Sra. Rosana, não fique caçando frases soltas para dar sentido a algo que não tem. O fato de você conhecer pouco o dia a dia da redação é mais um desafio profissional seu para ficar atento às artimanhas de seus editores. Não se deixe virar “bode expiatório˜. Não seja a pena da cabeça de seu editor.

4. O que tem a ver o sistema de cotas com a questão? Não seja preconceituosa. Se E. não entrou na universidade por esse sistema, e daí?

5. Essa parte aqui oh: “Apesar de ser estudante de Física, em seu perfil de Facebook, Eduardo afirma que é de extrema esquerda˜. O que isso significa verdadeiramente? O que você quis dizer com isso?

6. Na materia on-line, para piorar a situação: há um predomínio enorme do governador do Estado, que posa como se tivesse um comportamento exemplar de diálogo. Veja o que seus leitores – eu sou um, pago R$ 39 para o jornal mensalmente, mesmo tendo a versão gratuita no meu Ipad – tenham a dizer sobre o comportamento do governador. Caso não queira ler seus leitores, leia o seu próprio jornal, que publica um artigo do professor Simões destacando o modo truculento de ser do governador socialista.

7. O livro de Sun Tzu. Sem checar, sem ouvir o estudante, você quis diabolizar o rapaz com a história do livro: obviamente vc comprou uma versão policial. Se você fosse um pouco mais antenada, iria até satirizar, pois o livro é best-seller entre os executivos das corporações capitalistas. Essa história é patética. Muito patética.

Mas, o mais supreendente, a grande derrota do poder: o rapaz que incendiou o ônibus é filho direto da pobreza do Estado. Filho direto da corrupção que fez explodir a periferia de Vila Velha na década de 90. É filho direto da demagogia politiqueira que chega em terra Vermelha para incluir abstratamente aquele povo num discurso de “Estado Presente”, e, pelas costas, o discurso é de exclusão concreta.

1 Comentário

  1. já trabalhei 1 ano em A Tribuna e o cotidiano da redação passa por essa linha tênue, muito bem desenhada nessas palavras.

    é de trabalho assim, com verdade combatendo a hipocrisia, que a internet capixaba precisa para se consolidar como meio independente, sensível às causas ligadas ao dia-a-dia e fluído.

    muito bom mesmo.

    abs.

  2. É, senhorita jornalista, que texto, hein?! Fazer comparação do curso, com a posição política, é o fim da pica dura.

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