Trechinho de artigo meu, “o post, gênero literário viralata”, que será publicado em revista do Itaú Cultural. O artigo faz parte de um processo de pesquisa sobre o post como linguagem e nova estética literária online. Nascido em 1994, o diário virtual se alastrou logo no começo da web, no então Justin´s blog, mantido por justin Hall, que escrevia sobre a sua vida cotidiana.
Como webdiário, trazia consigo toda cultura bbs que marcava o período: compartilhamento, mutualidade informativa e temáticas especializadas. Mais tarde, já em 1997, o diário transforma-se em web log, ou blog, denominado assim por ter as atualizações sempre dispostas em cronologia inversa (o mais recente no topo). E o resto já é história.
Segue uma passagem do artigo.
Em suma, o blog passou a cruzar-se com todo tipo de linguagem, na dura tarefa de, como Perseu, se manter humano, mesmo que os eufóricos queiram torná-lo divino. E o post se disseminou como a forma mais bem (in)acabada da hibridização da linguagem online. Postar virou sinônimo de escrever, de escrever de forma compartilhada em rede, como naquela crônica-post do blogueiro Antonio Prata sobre sua reclamação ao síndico pela vizinha jogar bitucas de cigarros pela janela. E, ao final do post de 7 linhas, Prata escreve: “E se o leitor desavisado não entendeu lhufas desse post, favor ler o texto abaixo”. Contudo, abaixo não tem nada, senão os comentários (vários a partir daí) dos próprios leitores. A estratégia, típica de escritor nato da blogosfera, faz do artista um indutor de proposições e de dispositivos de escrita aberta. Essas proposições abertas na linguagem e o estado permanente de presença do escritor-blogueiro rompem o “paradigma da Olivetti”, simbolizada pelo escritor isolado e mergulhado em rascunhos e numa desordem criativa, e coloca ao escritor online um novo conflito estético: é possível criar o tempo inteiro e num regime de alta visibilidade? Parece-me que uma dos grandes dificuldades dos escritores atuais está no fato de que a inter-relação cognitiva e afetiva com os leitores através do blog é motivo para criação de mais histórias, de modo que quanto mais entradas são produzidas, mais são reinventadas e compartilhadas na rede, tornando o escritor ainda mais consumido. Como o artista vive do público e da atenção gerada neste, o escritor se vê livre da administração da escassez da atenção imposta pelo mercado editorial de papel, mas se encontra dramaticamente envolvido, ao mesmo tempo, pelo desejo contraditório de ser sempre visto pelos fãs online (daí os escritores terem além de blogs, perfis em uma série de redes sociais online) e ao mesmo tempo de buscar um momento de recolhimento para amadurecer a sua linguagem, através da busca de novas referências, novas leituras e novas formas de escrita. O autor online se defronta, em relação a épocas anteriores, com a dificuldade de administrar a sua atenção e não a do público para com ele.