NAO VAI TER COPA: A APROPRIAÇÃO CONSERVADORA NO TWITTER

Trabalhando na revisão da dissertação de Jean Medeiros sobre o movimento ‪#‎NãoVaiTerCopa‬ (2014) no Twitter. A dissertação apresentará também o conceito de “taxa de diálogo”, que construímos conjuntamente. Mas queria dar um spoiler sobre minha conclusão em torno do movimento #NãoVaiTerCopa: ele foi completamente embalado à vácuo por perfis ligados ao atual campo conservador. Foi uma dobradinha interessante: os movimentos de rua eram brutalmente reprimidos na rua, e a turma do‪#‎VemPraRua‬ construía massivamente uma máquina de bots e outros bichos para propagar essa repressão, notificando continuamente muitos veículos de imprensa e webcelebridades, mas sempre com um viés antipetista. Não é à toa que a correlação das hashtags “NãoVaiTerCopa” e “ForaDilma” tenha se revelado a simbiose mais oportunista no discurso das publicações no Twitter. Quem estiver a fim de dar um confere pode analisar o perfil-hub @_naovaitercopa (http://twitter.com/_naovaitercopa). Hoje ele se chama ‪#‎VemPraRuaBrasil‬, com avatar escrito “tchau querida”. É impressionante como os coletivos que conduziram as ruas de 2013 a 2014 deixaram um vácuo enorme na condução das narrativas sobre seus respectivos movimentos. E isso explica, contraditoriamente, a própria emergência da “nova direita”, que se apropriou inteiramente das lutas para ressignificá-las através de um vocabulário antipetista (que servia a um alvo eleitoral do período). É claro, houve uma contra-narrativa governista (a tal‪#‎copadascopas‬), mas que foi atropelada pela rede boleira (‪#‎vaitercopasim‬‪#‎imaginanacopa‬, a da zueira). Proporcionalmente, no campo eleitoral, esse vácuo narrativo também ocorreu (ainda continua) na campanha de Marina Silva (não na do Eduardo Campos, que, é bom lembrar, abusou de robôs logo no começo da sua campanha, quando se lançou presidente). E talvez esse antipetismo, longe de ser o traço que amalgama a crítica dos movimentos pós-junho, seja o substrato narrativo mais bem sucedido desde lá.

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