Tendência dos jornais: serem redes sociais?

Estava ler um post, escrito por José Moral, que sustenta a tese que a maior mutação atual da rede reside na emergência de sites que cumprem a função de provedor de conteúdos ao mesmo tempo que são redes sociais. É o caso do Youtube, Orkut, Blogs etcetera. De fato, não há como ser blogueiro sem deixar de ler e se relacionar com outros blogueiros (neste sentido, estar em ou criar uma rede social, é fundamental). O Youtube, idem. Não há como não publicar um vídeo sem conhecer pessoas que têm os mesmos interesses audiovisuais que os seus.

Mas o interessante do post é a tese que o jornal tende a se transformar em um conteúdo produzido por uma rede e em rede. Não, não é isso. O jornal tende a se abrir aos usuários, fazendo com que eles possam produzir informação que seria estampada na home dos jornais, como se um novo gênero jornalístico nascesse. Moral diagnostica muito bem isto, na linha de outros nomes da blogosfera.

Daí fiquei a pensar…

E pensei que talvez o “network jornal” esteja sendo ainda visto pelos grandes grupos de mídia como um puro reflexo do que é produzido pelos jornalistas.  Explico. Abrir-se ao leitor, tem sido marcado pela adoção do usuário como comentarista. E isto é ambíguo, pois se repete aquela visão de que leitor é platéia — audiência que bate palma ou vaia algo. Sei que comentar é algo que atrai muito usuários. Contudo, gosto da idéia do “network jornal” com conteúdos próprios de usuários, em que a edição seja fruto de um sistema de reputação, à la Digg, Overmundo, em que o usuário/editor pontua com uma nota determinado conteúdo, de forma que cada quanto maior é o valor da avaliação do conteúdo, mais chance ele tem de ir para home.

Essa talvez seja a forma como se organizará o “network jornal”, pelo menos torço para ela, embora não tenha muita esperança, pois vejo que esse é um processo criado por usuários, e não pelas empresas de comunicação (já notaram que ninguém escreve para o Eu-Repórter, do Globo). É fruto da resistência da audiência. Um resist~encia que agora iz não ao mesmo tempo que cria a sua micromídia.

Nós, jornalistas, temos também culpa na história. Fomos moldados a ser arredios com o leitor, até desprezá-lo em alguns casos. Somos muito corporativos e freqüentemente não respeitamos àquilo que vem do leitor. Comportamo-nos como um escritor, que defende que o leitor deve ser modesto pois a criação é ação do escritor.  Sabemos também, é claro, que o que vem do povo não necessariamente é bom. Não dá para afirmar: “Participação Popular nos Jornais!!!!”. Também não é assim, o jornalismo não é só uma técnica, é missão, é desejo, é um espírito presente em gente que não se conforma e que gosta do mundo. E de fiscalizar o poder.

O grande problema do “civic journalism” é pensar que jornalismo é só uma técnica, logo, todo mundo aprende a escrever notícia (ou um editor dá uma revisada) e pronto. Sei que há publicações fenomenais dos leitores, como aqueles blogs que testemunham histórias de opressão (os do Líbanos, os do Iraque), mas ainda são relatos que mais aprofundam aquilo que os teóricos chamam de “opinião pública” do que propriamente são narrativas que buscam se legitimar como um “discurso contra o poder”, a função atestada aos jornalistas numa certa modernidade.

Apesar desse lero-lero, o mundo vai caminhando para isso aqui:

O caso mais claro na Espanha é o 20 Minutos, que tem uma interessante coleção de blogs e inclui comentários em todas as suas notícias, o que não deixa de um primeiro passo para algo ainda maior, uma vez que tem um certo volume de usuários que participam ativamente, opinando sobre as notícias. O  passo seguinte é a possibilidade de que cada um deles se apresentar. Um perfil pessoal unido a técnicas de reputação tipo karma permite pôr em cada um em seu site, de tal forma que os comentários tenham maior ou menor importância segundo quem os emita.

1 Comentário

  1. Oi, Fábio. Muito interessante. Ontem eu estava vendo oglobo.online, os comentários “vingativos” que os leitores faziam sobre a morte do Cel Ubiratan. Depois só de curiosidade, continuei vendo o que os leitores diziam sobre a morte de uma mulher que recusou transar c/ o ex-marido. Os comentários deste último eram bobos demais. Eu não continuei a olhar as notícias de política ou de economia… para ver do que falam os leitores. Mas, por exemplo, ainda acho que alguns blogs são mais participativos (neste aspecto do leitor “dar pitaco”) e c/ participações mais interessantes do que essas notícias-do-cotidiano. Foi apenas uma observação simplória sem nenhuma sistematização.
    Bom, achei este blog através do blog da Raquel. Gostaria que vc divulgasse o seminário da UFES para as outras escolas de comunicação ou aqui mesmo no seu blog. A temática é interessante e como vc vê pouco discutida nestas terras capixabas, onde, sem querer desmercer, o pessoal adora falar de cultura regional, identidade cultural etc

  2. OI, Alessandra… Seja bem-vinda….

    Concordo com vc sobre o tipo de comentário dos leitores no jornalão. Vejo isto de forma ambígua.

    Por um lado, tenho convicção que é resistência na forma de troll. Muitos sacaneiam, fazem propaganda de seus sites ou outras coisas, tudo para neutralizar a “seriedade do fato”. Quando o jornal possui moderação de comentários, o que sai publicado é com freqüência favorável ao texto.

    Por um outro, acredito que a maioria dos usuários que comentam as notícias ainda não tem os seus blogs. Vive ainda uma posição passiva no circuito da comunicação. Quando tiverem seus próprios sítios, deixam de servir de platéia.

    Concordo com vc, a conversação está rolando mesmo é na blogosfera. Acabamos criando uma forma e um espaço próprio de comunicação. As mídias tentam capturar essa nossa potência, mas lá fica meio tosco, meio sem graça, meio apriosionado o nosso debate.

    Fábio
    PS: Vou divulgar o seminário. Agora estamos na fase de fechar a programação. Concordo com vc, no plano local, o povo é muito fechado.

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