Negri é indagado pelo prefeito Lindberg Farias: como acumular forças para produzir a mudança social? O ex-deputado relata que no Brasil as forças de esquerda realizaram aliança com setores da burguesia nacional (como um contraponto às forças monetaristas) e acabou "não dando certo". O resultado foi a crise política. O filósofo italiano responde que viu e viveu uma repetição de crises da esquerda. Concorda que a capacidade de resistir tem muito haver com o acumúlo de força, de alianças. Mas deu opinião que levou a aplausos longos pela platéia:
"Estou convencido que é fundamental tentar sempre novas aberturas, como se aliar a setores da produtivos, como a indústria, diante do que é o parasitismo do sistema financeiro. Só que hoje existe uma outra abertura que precisa existir: a abertura às forças do conhecimento. Não podemos subestimar as forças do conhecimento. Esse é um fato estratégico do desenvolvimento econômico mundial. Pode parecer realista demais, mas não é. Ao contrário, é alta a necessidade de articular projetos sociais com a produção intelectual. O que está acontecendo no século pós-socialista: o trabalho está ficando cada vez menos industrial. Os capitalistas, através das técncias neoliberais, mobilizaram socialmente a produção. Colocaram a sociedade no trabalho. E são os intelectuais que dão valor à produção. Impõem a possibilidade de mudanças industriais, formam novas elites. O trabalho intelectual é um elemento fundamental que não exclui o capitalismo (por isto que o poder neoliberal se articula) . Então é necessário se abrir à força do conhecimento para compor uma novo acúmulo de forças, para produzir novas resistências. Entrar nesse terreno é produzir uma ética do comum. Muitos amigos me indagam dissendo: 'Nossa, mas você não ver quanto miséria tem aqui do seu lado'. É um discurso que dá entender que o trabalho imaterial é algo utópico frente à realidade de miséria. Mas é o contrário. Só esse setor (o intelectual) renova a sociedade e expulsa essa miséria. Não adianta: a aliança com a indústria não vai fazer voltar o pleno emprego. Agora para produzir trabalho intelecutal, imaterial, é preciso ser livre. Por isto que o capitalismo bota limite a liberdade hoje, coloca a não-expressão. E a liberdade do trabalho intelecutal pode vencer o capitalismo. É necessário organizar o precariado, que são todas as pessoas que trabalham fora da relação salarial, como os trabalhaodres dos serviços, dos servi;os industriais, os imigrantes, os informáticos etc. Essas são massas que estão se tornando as maiorias. Não é à toa que na França foram às ruas contra os sindicatos. É porque o sindicato ainda sustenta que o emprego é a única solução. E o precariado produz fora da relação salaial, produz na circulação social. Por isso que projetos como a renda universal e a política de cotas se tornam centrais: nào é um prêmio, é a base para mobilizar toda a sociedade.
Novamente, a platéia foi além dos aplausos, gritando muitas interjeições. Foi o momento mais legal. Senti que as pessoas completamente conectadas. A miséria nossa de cada dia foi valorizada e potencializada. O papel de Negri, como filósofo, se realiza. O prefeito Lindberg atento e completamente tomado. Todos nós. Beleza.
muito bom o artigo